6º Paulínia Film Festival: Parte I

Não
Pare na Pista: A Melhor História de Paulo Coelho
(Idem, Brasil/Espanha, 2014)

Dir: Daniel Augusto

O
suntuoso Theatro Municipal Paulo Gracindo recebeu ontem a cerimônia de abertura
da 6ª edição do Paulínia Film Festival. Uma pena que tenham escolhido um filme
tão frágil narrativamente para abrir os trabalhos. Não
Pare na Pista: A Melhor História de Paulo Coelho
, na melhor das hipóteses, é uma
cinebiografia careta, que está ali para pontuar os fatos marcantes da vida de uma
personalidade.
Paulo Coelho carrega o sucesso de vendas de seus
livros, tem o “peso” de ser um dos escritores brasileiros mais traduzidos no
mundo (perde só para Shakespeare, como insiste em afirmar um letreiro no final),
a despeito de muitos torcerem o nariz para o tipo de literatura que ele faz.
Mas o filme desvia dessa polêmica como um bom chapa-branca e nem chega a fazer um
esforço para tentar entender o porquê de todo esse sucesso de público (numa
sequência o vemos escrevendo o manuscrito de um livro; corte em elipse e ele já
recebe em casa o livro impresso e publicado).
Daí que, na pior das hipóteses, esse é um longa anódino,
intercalando várias fases de sua trajetória anárquica e transgressora, aura que o filme busca
conferir ao personagem. A fase mais jovem marca os embates de Paulo (Ravel
Andrade) com a família, especialmente com o pai linha dura, enquanto ele já
sonha em se tornar um escritor. Júlio Andrade interpreta um momento intermediário
em que Coelho busca novas experiências, com drogas ou viagens transcendentais
espiritualistas. Há ainda o Paulo atual (Andrade de novo, sob maquiagem pesada),
ranzinza, mas ainda dono de um espírito “libertário”.
É visível todo um cuidado de produção muito grande,
em especial fotografia “arrojada”, que marca presença forte no filme como fator
estético que salta aos olhos. Porém, esse exagero no visual só reforça a
artificialidade de imagens que não se sustentam em conjunto na narrativa.
Estão lá momentos como o encontro e parceria de
Coelho com o cantor e compositor baiano Raul Seixas (Lucci Ferreira), o quase
suicídio que abre o filme, a aproximação com o satanismo e, claro, o percurso
pelo famoso Caminho de Santiago de Compostela. Todos esses fatos estão ali
acenando para o espectador para mostrar que existem, porém soam como figuras meramente
ilustrativas. 

Certamente que na seara das cinebiografias é preciso lidar com a
dificuldade de manejar esses elementos, o que não acontece aqui. O roteiro é primário
em não só não conseguir amarrar as coisas, como falta originalidade nas próprias
falas dos personagens, são clichês, sem apuro. Um filme que pareceu embarcar de
cabeça nas viagens tresloucadas de seu biografado.

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