Dir: Sam Raimi
Nem é preciso comentar como os filmes de terror dos últimos anos são cada vez mais castigados por produções pasteurizadas. Há de se louvar, assim, o novo filme de alguém que se fez notar em Hollywood por conta das obras de terror trash que realizou nos anos 80. Por isso não é estranho dizer que o filme de Sam Raimi seja uma delícia, não só pelo gosto de filme B (porém com produção de primeira linha), mas também pelo fator comédia muito bem entrelaçado na história.
A analista de crédito Christine (Alison Lohman) está prestes a ser promovida no banco onde trabalha, mas para isso precisa mostrar mais agressividade nas negociações. Por isso, ela acaba recusando o pedido de extensão de empréstimo da casa da velha (e bizarra) Sylvia Ganush (Lorna Raver), que, se julgando humilhada pela moça, lhe lança uma maldição, fazendo com o que o demônio Lâmia venha arrastar a moça para o inferno no prazo de três dias.
É bastante prazeroso ver como Sam Raimi repensa os clichês do gênero terror e os faz encontrar os lugares-comuns do gênero comédia sem nunca soarem forçados, e ainda funcionam muito bem dentro de seus propósitos. Prova disso é a cena do ataque no estacionamento, uma das melhores sequências do filme, que funciona impressionantemente dentro dos dois quesitos.
Por isso, é recorrente no filme aquela sensação de humor negro que faz com que nos auto-recriminemos por estarmos rindo de algo tão assustador, mas ao mesmo tempo inevitavelmente propenso ao riso incontrolável. E talvez por isso seja mais assustador.
A impressão é de que Raimi se divertiu muito durante as filmagens, pois muita coisa parece agradavelmente nonsense, como o fato de Christine se mostrar aterrorizada somente quando ela está sendo atacada por alguma força do mal; fora isso, ela tenta fingir que nada está acontecendo, sempre contando com a ajuda do namorado (Clay Dalton). Num desses momentos de calmaria, ela visita a família do rapaz e o resultado não podia ser menos que desastroso, e terrificantemente engraçado.
Um outro ponto interessante do filme, e uma das marcas de Sam Raimi em suas obras de terror (como os sensacionais primeiros filmes da trilogia Evil Dead), é que ele não nutre compaixão pelos seus personagens ou pelo menos não os priva de situações trágicas, com consequências terríveis. O saldo final é um filme delicioso, de reciclagem de gêneros, mas que, em sua cena final consegue mostrar como ainda sabe ser aterrorizante.
PS: Por falar em grandes diretores devotados ao terror, é bom lembrar que filmes novos dos mestres George Romero e Dario Argento estão a caminho. Ainda parece haver solução, meus amigos.
curioso é que achei o filme muito mais engraçado do que aterrorizante. o que não quer dizer que muito disso tenha sido proposital, mas – especialmente para alguém como talentoso e conhecedor do gênero como raimi – os recursos usados parecem fáceis demais, às vezes preguiçosos. por outro lado, ele realmente mostra domínio do que está fazendo. bem acima da média – principalmente para o gênero, tão judiado…
Sam Raimi é um ótimo diretor, preciso conferir este!
Leandro, acho que os recursos fáceis que o Raimi usa são próprios do gênero, mas ele sabe muito bem converte-los a algo mais interessante, aliado a essa coisa da comédia e da falta de dó para com seus personagens. O final é maravilhoso!
Cristiano, e o Raimi está no gênero dele. Os filmes da Trilogia Evil Dead são excelentes, com grande exceção ao terceiro da série. Arraste-me não podia ser melhor.
Ver ou não ver, eis a questão. Diante desses argumentos, pende-se para o sim, mas Raimi não é bem minha praia…
Bem Gustavo, se não é sua praia, pode não ser das melhores experiências, mas sempre vale a pena uma conferida para pelo menos constar. Olha que você pode acabar se rendendo.