Dir: Clint Eastwood
Espanta-me a quantidade de gente boa que vem considerando Gran Torino uma obra-prima. Não me parece um bom ano para Clint Eastwood, ao contrário do que muita gente pensa. A Troca esbarra no maniqueísmo simplista. Já Gran Torino possui uma interessante mensagem final, mas até lá vem acompanhado de um texto fraco, repleto de personagens caricaturais e fragilidade narrativa.
O filme não precisa de mais de dez minutos para apresentar a um amargo, presunçoso e preconceituoso Walt Kowalski (vivido pelo próprio diretor), ex-combatente da Guerra da Coreia, que acaba de perder a esposa. Sozinho na casa localizada em um bairro que abriga vários imigrantes, Walt passa a se aproximar de dois jovens vizinhos asiáticos, descendentes de uma etnia específica (hmong), depois que um deles tenta roubar seu carro, um Gran Torino 1972.
Vai-se criando então uma relação previsível de amizade entre Walt, sempre com pé atrás, e a família ao lado, a despeito da arrogância do protagonista. Na verdade, Walt reluta em encarar isso como uma amizade, mas vai descobrindo que possui mais afinidade com eles do que com a própria família (composta de filhos bobocas e netos mimados).
Walt pertence ao grupo de pessoas que enfrentam os problemas à base da força bruta. Quando gangues de ruas passarem a importunar os vizinhos, ele vai acabar repelindo os marginais com a espingarda e o olhar mortal. Cria-se então a oportunidade para o filme retratar a violência como estigma da sociedade contemporânea.
A personalidade antiquada do personagem, aliada à idade avançada, o faz repudiar o novo, como as roupas dos netos ou a propagação de imigrantes pelo país ao qual foi fiel e defendeu no campo de batalha. Mas Clint Eastwood vai saber emular um de seus personagens mais marcantes, Dirty Harry (o justiceiro acima da lei), para um propósito de redenção e redefinição de valores de um homem no fim da vida.
Seria errôneo afirmar que o grande autor representado por Eastwood envelheceu porque o mais interessante do filme provém justamente de sua visão de mundo tão ampla e experiente. O melhor fica para um final que traz uma mensagem importante, sem soar como liçãozinha de moral. A história faz uma bela reflexão sobre a violência e a necessidade de se despir dela própria para enfrentá-la. Não se pode negar que esse é um filme de Clint Eastwood, esse grande touro sempre na intenção de nos inquietar. Uma pena que o todo não seja tão cuidadoso assim.
Pois é, não acho Gran Torino uma obra-prima, mas ao menos um grande filme. É caricatural e clichê sim, mas filmes como Menina de Ouro, por exemplo, também são. Acho que o que faz Clint um grande cineasta é justamente seu talento em trabalhar com esses clichês, em torná-los poderosos emocionalmente. Nesse sentido, Gran Torino não alcança a excelência de um Menina de Ouro, mas quase chega lá.
Não me pronuncio… Ainda não vi esta obra. De qualquer forma, a maior parte das críticas que li vem contrariar a tua opinião. A ver vamos, depois dou feedback!
Cara, vou lhe dizer que eu não sou chegado no Clint Eastwood como diretor, sabe? Não criei afinidade com o cinema dele. Não vi A troca e também não estou me movimentando para ver esse aí.
Abs!
Rafael, gostei muito de Gran Torino. Ainda acho Os Imperdoáveis o melhor filme de Clint, mas Gran Torino está lá em cima também. Clint é – sem dúvida – um dos maiores diretores de hoje e seus filmes – como esse – estão construindo um belo retrato da América contemporânea.
Abraçoo!
Vou esperar este filme chegar na locadora … Esquecido pela academia, espero receber um bom filme de CLint, já que “A Troca” é um caos!
Até dois minutos atrás eu estava com muita vontade de ver o filme. Agora, se não vier outra opção, eu vou! hehehe
Wallace, acho que tinha muito para ser mesmo um grande filme, mas o roteiro por vezes sabota muita coisa. Mas existe ótimas intenções na história. E é interessante você citar Menina de Ouro porque amo esse filme, mas concordo que tenha alguns lugares-comuns. Mesmo assim, a história é forte o suficiente para que esses clichês empalideçam. Mas Gran Torino não me pegou desse jeito. Infelizmente.
Pois é Filipe, muita gente tem adorado o filme. Assista e poste sua opinião no seu blog.
Dudu, já eu sou grande admirador do Clint, daí minha insatisfação por um fime que tinha tudo para ser melhor. Mas aconselho que comece a procurar filmes dele para assistir, em especial Os Imperdoáveis. Talvez você tome gosto.
Ciro, concordo que Clint é um dos grandes cineastas da contemporaneidade, adoro Os Inperdoáveis, mas esse Gran Torino não me marcou tanto assim, mais pelos defeitos de sua narrativa. E bem lebrado você falar da filmografia atual do Clint como montagem de um painel social norte-americano da atualidade. Muito bom. E valeu pela visita ao blog. Passarei no seu espaço.
Cléber, espere mas veja. Talvez você tome gosto.
Elizio, meu velho, a intenção não é fazer com que vocês desistam de assistir aos filmes. Se você tiver a fim de ver, vá lá, independente do meu comentário. Muita gente tem gostado do filme. Vai que volta aquela fase de discordância entre a gente? Aproveita o feriadão.
Rafael, eu também não acho que esse ano é um grande ano para Clint. Achei tanto “A Troca” quanto “Gran Torino” BEM medianos.
De fato Matheus, obras bem fracas. E olha que tem muita gente boa vangloriando os dois filmes, com direito a tachar principalmente Gran Torino de “obra-prima”. O Clint é um grande diretor, mas isso não quer dizer que vai acertar a mão em todos os filmes.
Quatro estrelas seria uma nota boa, não? (um pouco de provocação nunca é ruim).
Pontos fortes: O final, o humor centrado, o tema.
Pontos fracos: Fragilidade narrativa.
Quatro estrelas? Exagero demais! Pois é essa fragilidade narrativa que atrapalha o todo, a experiência total de ver o filme. Se em vários momentos o filme te incomoda por determinados motivos (texto fraco, situações forçadas, más atuações), nem um ótimo final consegue salvar o projeto. Mas muita gente vê aí um tipo de despretensão. Não é meu caso. Mas viu só como valeu a pena assistir ao filme!!! Abraço velho!!!