O Escafandro e a Borboleta (Le Scaphandre et le Papillon, França/EUA, 2007)
Dir: Julian Schnabel
O drama humano causado por situações trágicas nunca vai deixar de ser matéria-prima para que o cinema fale de superação e da importância do continuar lutando. E é muito fácil cair no lugar-comum, a menos que o material que se tenha em mãos seja tratado com personalidade e competência inventiva por todos os responsáveis por uma película. Assim é O Escafandro e a Borboleta que deixa claro a importância que um trabalho conjunto, em especial de direção, texto, atuação, fotografia e montagem, resulte em uma obra tão marcante como essa.
Mais marcante ainda é o drama real de Jean-Dominque Bauby (Mathieu Amalric), editor da revista Elle, que sofre o ataque de uma doença rara, perde totalmente o controle dos movimentos, não fala e a única coisa que consegue mover é um dos olhos. E através desse órgão ele passa a se comunicar com a ajuda da enfermeira Henriette (Marie-Josée Croze) e de um sistema em que piscando o olho, ele escolhe uma letra à medida que a enfermeira vai soletrando o alfabeto e assim construindo palavras. Mais tarde, ele irá escrever o livro homônimo, material para a adaptação do presente filme.
O roteiro, de uma sensibilidade imensa, mistura as conversas que as pessoas ao redor mantém com Jean-Dominique e os pensamentos, em off, dele que somente o espectador conhece. A partir daí mergulhamos fundo na angústia daqueles que o conheciam e ainda lhe tem algo a dizer; e dos anseios do próprio personagem diante de sua situação e das pessoas ao seu redor com os quais ainda tinha muito a viver. Apesar da dificuldade de comunicação, o esforço de ambos os lados se mostra mais forte.
Aliado a isso, tem-se um trabalho de câmera que logo chama atenção uma vez que grande parte da primeira metade do filme é captada a partir daquilo que olho de Jean-Dominique vê. Essa subjetividade é essencial para “entrarmos” no personagem e transforma o trabalho de fotografia em algo riquíssimo e notável, assinado por ninguém menos que Janusz Kaminski, grande fotógrafo de Steven Spielberg. E se Mathieu Amalric, com tão pouco, consegue dar consistência suficiente para seu personagem, Marie Josée-Croze e Emmanuelle Seigner, respectivamente como sua enfermeira e ex-esposa, conferem ao mesmo tempo graça e força femininas que tanto são pertinentes a esse tipo de circunstância dramática. Mas é Max von Sydow (Papinou, pai de Jean-Dominique), com toda sensibilidade, o responsável por uma das cena mais emocionantes ao “conversar”com o filho ao telefone. Uma participação mínima, porém marcante.
Outro ponto positivo da película é a forma ora irônica como ele lida com seu próprio trauma ora fantasiosa como ele tenta encontrar alento num ambiente imaginário. Nesse sentido, as idéias do escafandro e da borboleta servem como metáforas perfeitas para a situação de Bauby. Estar preso a uma roupa de mergulhador no fundo do mar transmite toda a imobilidade a qual o personagem está preso, mas a outra alternativa possível é pensar na borboleta como algo que também esteve preso (em seu casulo), mas que ganhou sua liberdade. Bauby, apesar de toda a dificuldade, resolve seguir o segundo caminho. E deixa para a posteridade o exemplo da persistência.
P.S.: “Porque também somos aquilo que perdemos”
Bonita análise para um excelente filme. “O Escafandro e a Borboleta” superou qualquer expectativa que eu tinha em relação a esse projeto, ainda mais quando é tão bem realizado quanto à técnica e impressione pelo trabalho de direção e roteiro. Abraço!
Mais um que assiste e adora “O Escafandro e a Borboleta”. Eu continuo esperando a estréia do filme em minha cidade. Espero em breve poder conferir o longa, que tem uma temática que me interessa bastante.
Ainda não vi, está na lista.
O P.S. (referência) diz tudo.
Também me surpreendeu Vinícius. Demorou um pouco para ser lançado no país e não teve tanto alarde, mas é um filme e tanto.
Não perca mesmo Kamila, acho que vai te surpreender, isso se você não tiver lido muita coisa a respeito do filme.
Deixe no topo da lista Fabiana (se é que isso é possível).
Acho que a primeira coisa que eu escrevi foi esse PS, Elizio. Senti que não podia faltar. Acredito que eu já falei dele para você, aparece no fim de Amores Brutos. Já viu?
Abraço a todos!!!
Gostei, mas nem tanto quanto a maioria. Contudo, amei a parte técnica, em especial a montagem e a fotografia.
Pois é Matheus, tecnicamente o filme é mesmo uma excelência, assim como a narrativa. Pena que não tenha gostado tanto como eu. Abraço!!