Dir: Laís Bodanzky
Uma noite no clube de dança de salão Chega de Saudade é o suficiente para que a diretora Laís Bodanzky nos apresente uma gama de personagens e os desenlances amorosos que lhes surgem naquele ambiente. O filme é uma espécie de celebração da vida e da busca pelo amor, independente da idade de cada um.
Marquinhos (Paulo Vilhena) é o técnico de som que trabalha há cinco anos no tal baile e resolve levar para ajudá-lo sua namorada Bel (Maria Flor), que vai se encantar com os galanteios de Eudes (Stepan Nercessian, super canastrão) para o azar da antiga paquera do cara, a viúva Marici (Cássia Kiss, ciumenta mas discretíssima). A noite também não promete ser boa para Elza (Betty Faria) ao ver seu paquera se encantar pela amiga que ela levou naquela noite. Há ainda o casal Álvaro e Alice (respectivamente Leonardo Villar e Tônia Carrero) enfrentando uma crise no casamento. Essas são algumas das figuras que farão do salão não só um lugar de dança e diversão, mas também de boas brigas e disputas.
A seleção de músicas (todas ocasionais, claro) é uma delícia de sambas, boleros e mesmo as canções bregas recebem aqui certa dignidade. Só não me agradou o fato de algumas delas refletirem em suas letras as situações vivenciadas pelos personagens como se elas não se explicassem por si sós. Exemplos: “Você não vale nada, mas eu gosto de você” toca justo quando a personagem de Cássia Kiss encara o amante no momento em que ele dá em cima de Bel ou quando o namorado de Bel, vendo-a dançando com o garanhão Eudes, interrompe a música justo quando esta diz: “Tô doidão, tô doidão, porque tão querendo roubar minha mina no salão”.
Além disso, o tom casual que me agradou tanto no início do filme, vai perdendo lugar para uma necessidade de deixar todos os pontos entre os personagens bem explicados e mastigados. Por outro lado, uma edição entrecortada faz com que a narrativa nunca perca fluidez ao apresentar a história de todos os personagens; os desdobramentos da situação de cada um nunca se tornam confusos e o filme ainda nos faz sentir empatia por todos naquele baile.
Mas a grande sacada do filme é a câmera na mão (de Walter Carvalho) que explora todos os mínimos espaços do ambiente como um voyeur em busca de cada movimento daquelas pessoas (talvez por isso a grande quantidade de planos-detalhes de pés em movimento). Por isso também é acertada a decisão de se utilizar tomadas em planos bem fechados, pois a substância do filme parece estar nas expressões, nos olhares dos personagens, como se cada sensação, à flor da pele, fosse capturada quanto mais a câmera se aproximasse dos atores.
E nesse clima de proximidade em meio a um ambiente aberto a novas experiências amorosas, é como se o filme nos matasse de inveja por desejarmos estar num lugar empolgante como aquele, conhecendo pessoas interessantes. Sem dúvida, esse é o maior mérito do longa.
Eu tinha ouvido falar nesse filme – foi você que comentou sobre ele? – e tinha ficado interessado pelo título. Agora mais ainda pela narrativa. Mas porra, a fotografia é do Walter? Já quero ver então.
Acho que foi eu mesmo quem comentou contigo. E a fotografia onde o Walter Carvalho põe a mão vira ouro. Boa mesmo. E na trilha do filme ainda tem aquela música que você e Paulete adoram: “Você não vale nada, mas eu gosto de você”. Vou ver se consigo baixar a trilha sonora.
Hahaha, capaz! De qualquer forma, música brega em filme é sempre engraçado. É só ver o exemplo de Domésticas. Ah, faça uma crítica sobre Domésticas. Fica aí a dica.
Achei super engraçado quando essa música apareceu no filme, mas sendo cantada pelo Marku Ribas é outra coisa. Ele e a Elza Soares, junto com a Banda luar de Prata, cantam a maioria das músicas do filme, mas não é ela quem canta essa. Queria muito ver ela atacando de música brega com aquele vozeirão de trovão. Agora Domésticas é brega o filme inteiro. Mas no bom sentido, claro! Afinal de contas, é Meireles! E pra fazer um texto sobre Domésticas eu preciso assistir ao filme de novo (não somente os primeiros 44 minutos).
Porra, Elza Soares é foda mesmo. Já to mais interessado pelo filme. E sim, como você me diz sempre, loca! “É baratinho, toma vergonha” – palavras suas hahaha
Cara, esse elenco não me inspira a menor segurança. Tônia Carrero? Stepan Nercessian? Paulo Vilhena? Isso nem ator é… Porém, tem a fotografia do Walter Carvalho. A Laís Bodanzky mandou bem em Bicho de sete cabeças… Sei lá. É bom mesmo?
Abs!
Grande filme! Jóia rara do nosso cinema!
É Iulo, a Elza Soares é incrível mesmo, mas a participação dela no filme é só cantando mesmo (o que já é grande coisa). E se você quiser locar vai ter que esperar um pouco por que ainda não tem em locadora (eu vi no cinema em Salvador). Mas confie que um dia chega. E sim, loca que é baratinho. Deixa de ser pão-duro.
Tá ok Dudu, visto de longe o elenco não inspira grande confiança não, mas dá uma chance para o filme e você vai ver que as atuações não são tão ruins assim. Um dos que eu gostei mais foi justamente do Nercessian, canastrão do começo ao fim. E Cássia Kiss arrebenta, mesmo com uma personagem discreta. Agora dá pra perceber que esse é um filme bem diferente do Bicho de Sete Cabeças, mas a direção da Bodanzki tá ótima. Dá uma chance, ué, vai que você gosta???!!!
E se a gente pensar no cinema brasileiro desse ano, André, Chega de Saudade é jóia rara mesmo!
Rafael, estou com muita vontade de conferir este filme porque acho que a dança pode ser utilizada muito como uma metáfora para a maneira com que a gente se relaciona com as pessoas. E isso parece ter sido utilizado pela Laís Bodansky no seu filme.
Realmente, Kamila. O filme todo se passa nesse ambiente e em uma única noite e foca as aproximações entre os vários personagens. É gostosíssimo de assistir e ver a forma como cada um tenta manter ‘contato’ com os demais.