Dir: Mike Newell
Eu até que tentei assistir a O Amor nos Tempos do Cólera tentando não pensar no livro homônimo do escritor colombiano Gabriel García Márquez que baseou o filme, mas não consegui. Simplesmente porque o filme não possui o mínimo da sutileza e da atmosfera onírica do García Márquez; não que necessariamente precisasse conter tais elementos, mas nada é posto em troca. Assim o filme sai perdendo, pecando por uma frieza e falta de emoção. Uma pena porque contava com um ótimo elenco e uma produção de primeira.
Ao mesmo tempo em que o texto do García Márquez possui sensibilidade, também consegue não ser em momento algum conservador, e isso é algo que o roteiro de Ronald Harwood não consegue transmitir. Para piorar, a direção do Newell não passa de esquemática. A história acompanha a vida de Florentino Ariza (Javier Bardem) que, perdidamente apaixonado por Fermina Daza (a bela italiana Giovanna Mezzogiorno) e impossibilitado de concretizar a relação, passa décadas à espera de um reencontro e uma nova chance. Enquanto isso, mantém casos fortuitos com a maior quantidade de mulheres que encontra, mas continua preservando todo seu amor por Fermina.
Nem o talento do elenco salva a película. Javier Bardem é excelente ator e faz o possível para humanizar seu sofrido personagem. E se Giovanna Mezzogiono brilhava em O Último Beijo, aqui está no piloto automático. Um dos problemas de adaptar uma história tão extensa como essa é que na pressa de relatar tanta coisa, o filme deixa de desenvolver melhor seus personagens, e é justamente isso que acontece com ambos.
Há ainda as presenças de Catalina Sandino Moreno, numa personagem mais fraca do que o filme tenta aparentar, John Leguizamo, ótimo como o pai da protagonista, e ainda Fernando Montenegro numa pequena, mas digna participação, vivendo a mão de Florentino. Com tantas ressalvas, nem a bela fotografia do brasileiro Affonso Beato anima a história. E por fim vem aquela voz irritante da Shakira para terminar de estragar tudo.
Coloquei um link para o seu blog no meu. Um abraço
Conforme você disse, não traduzir a atmosfera da obra original, nem pôr nada em troca, é realmente grave numa adaptação literária. O filme perde personalidade, perde alma, perde força, fica frouxo… Enfim, muito boa a sua crítica!
Apesar de não ter assistido, a unanimidade é mesmo perceptível: essa era mais uma adaptação que prometia – apesar de difícil -, inspirada na obra de um autor consagrado, com um time de cinema confiável, e que redundou em decepção para a maioria dos leitores da obra de García Marquez, engrossando a lista de conversões fracassadas.
É como o Gustavo falou, mais uma adaptaçaõ que prometia, mas terminou descarrilhando – as vezes penso que muuito é por causa da escolha da direção… um inglês em busca de um espírito mais… latino. Acho que a melhor coisa era dar a direção a um espanhol, mas enfim… agora já ficamos com ISSO.
abraço
Pois é galera, para adaptar Gabriel García Márquez para o cinema não é para qualquer um, não. Sou um grande fã do escritor, e se for para fazer filmes sem personalidade é melhor que o projeto nem saia do papel. Abraços!
Vixe, agora que de fato assisti não achei tão ruim, hehehe! :p