Dir: Orson Welles
O longa é um policial noir com tudo que o gênero tem de direito. A trama se passa numa cidade exatamente no meio da fronteira entre os EUA e o México, quando acontece um atentado vitimando um casal. Nesse momento, está chegando à cidade o policial Miguel Vargas (Charles Heston) e sua esposa Susan (Janet Leigh, imortalizada em Psicose), recém casados, para passar a lua-de-mel no local. Com o incidente, ele acaba por se envolver no caso juntamente com um desonesto chefe da policia norte-americana Hank Quinlan (Welles, irreconhecível); ambos não se dão bem. Começa então uma investigação que vai revelar mais do que o mandante do crime.
Daí a construção de um apanhado de cenas interessantes como a já citada seqüência inicial, a visita à casa de um dos possíveis suspeitos e a tentativa de Quinlan de incriminá-lo, o estrangulamento de determinado personagem (contando com uma ótima utilização de som e iluminação a fim de criar suspense) e a seqüência final em que Vargas persegue Quinlan sobre uma ponte para arrancar dele uma confissão captada por um aparelho de escuta.
Mais uma vez todos os seus atores dão conta do recado, mas o destaque é mesmo para o próprio Welles e seu odioso Quinlan. A caracterização de seu personagem é perfeita, trabalhada tanto pelo aspecto físico como pelas expressões minimalistas de seu ator, como olhares cínicos e cortantes. Janet Leigh me surpreendeu com sua carga dramática e a inusitada presença da atriz alemã Marlene Dietrich, mesmo que rapidamente, causa excelente impressão.
Com roteiro impecável que dá conta de desenvolver tanto a situação como seus personagens, Welles cria uma história envolvente, mas que se revela mais atraente não pelo inusitado da situação, do conteúdo, mas sim pela forma como expõe isso. Considerado por muitos como o último noir clássico, é indiscutível a marca que seu autor deixou na história do Cinema.
PS: Interessante dizer que depois das filmagens Welles foi demitido e o filme foi editado pelos produtores. Welles deixou registrada a forma como ele tinha planejado essa edição, algo que só foi concretizado em 1998 quando a Universal relançou o filme numa versão definitiva do diretor.
Welles é um gênio!
Um dia possuirei todos os seu filmes!
hehehehehe
Belo texto Rafael!
Gustavo Madruga
Só obras-primas de autores com ‘A’ maiúsculo! 😉
Assim como o trio de obras comentadas de Lynch, não vi, ainda, esse do Welles (nem KANE), infelizmente. Por isso, prefiro ler as respectivas análises depois de fazê-lo.
Dos filmes do Orson Welles, só consegui assistir mesmo “Cidadão Kane”. Os outros filmes dele, incluindo este “A Marca da Maldade” são difíceis de ser encontrados por aqui.
Bom final de semana!
“ele não possui o preciosismo estético arrojado de Cidadão Kane.”
Nossa, pra mim é totalmente ao contrário. Aquele traveling na primeira cena demonstra um controle estético dos mais impressionantes!
Enfim, o texto está ótimo e na minha opinião, é o melhor filme do Welles. Abraços!
É Gustavo M., não vai ser tarefa fácil não possuir todos os filmes dele porque são raros os que se encontram nas locadoras.
Gustavo H. R. e Kamila, tenho certeza que não se arrependeram ao ver essa e tantas outras obras do Welles. É um gênio.
E Ronald, como disse no texto, as possibilidades e ferramentas da linguagem cinematográficas estão sempre presentes no filme, mas acredito que não da forma preciosa como elas aparecem em Cidadão Kane, meu favorito do Welles você deve ter notado. Mas uma opinião divergente é sempre bem-vinda.
Abraços a todos!
Acabei de assistir ao filme e fiquei impressionado. É uma obra-prima, mas não sei qual é melhor: A Marca da Maldade ou Cidadão Kane. Não se vale a pena ficar comparando. Agora quero assistir a O Processo.