Retomada (Idem, Brasil, 2015)
Dir: Leon Sampaio
Tupinambá – O Retorno da Terra (Idem,Brasil, 2015)
Dir: Daniela Fernandes Alarcon
O CachoeiraDoc este ano resolveu abrir seus trabalhos com dois curtas-metragens muito próximos em temática e abordagem, além de apontar para o traço de militância de resistência que parece ser tão caro ao programa do festival. São filmes que apontam para uma tomada de posição em prol dos índios, mas especialmente para um direito de fala que quase sempre a eles é negado.
Retomada e Tupinambá – O Retorno da Terra são filmes irmãos, dão voz ao povo da tribo indígena dos Tupinambás que vivem no sul do Estado da Bahia e lutam bravamente para manter seu direito à terra, ao trabalho digno, à manutenção de sua cultura e ritos, suas crenças e saberes; enfim, direito à dignidade de sua pura existência e coexistência com os demais seres – homens e animais.
A presença do Cacique Babau na noite de abertura do evento faz ver essa liderança que toma a palavra com contundência para denunciar as forças que enfrentam. Retomada consegue pegar esse discurso incisivo para permear e embalar um quadro de observação afetuosa sobre a vida daquelas pessoas, sem abrandar a contundência das palavras do cacique.
Ao tentar fugir ao máximo do dispositivo seco das cabeças falantes, embora haja muitos depoimentos aqui, o filme tem tempo de olhar, de modo singelo, para aquele grupo e focar em alguns personagens e suas histórias, de luta e superação – como a moça tupinambá que trabalha como motorista.
Tupinambá – O Retorno da Terra, por sua vez, na ânsia de explorar mais o traço de denuncismo da situação, em especial da necessidade urgente de demarcação do território tupinambá, acaba se apegando a uma polifonia de entrevistas para dar conta dos agravos que fazem parte da história daquele povo. Trata-se de um filme mais seco e duro.
De qualquer forma, ambos os filmes apontam para os efeitos positivos dessa brava resistência do povo tupinambá. Não só no sentido de sobrevivência do grupo, mas também na preservação da natureza ao redor. É o sentido de convivência pacificadora com a terra e seus habitantes que os tupinambás preservam na sua essência, mas que não é recíproco por parte dos de quem os vê como inimigos. Por isso a luta está longe de acabar.