Se o tema da imigração ilegal tem sido supra-recorrente no cinema europeu contemporâneo, dentro do contexto da unificação no continente, acrescido da opressão capitalista em vários níveis, Samba consegue ser um olhar cativante para um tema duro. Nada muito diferente disso esperava-se de um filme dos diretores do feel good Intocáveis, mesma sensação que se repete aqui nesse novo projeto.
Há certo despojamento na maneira de retratar o drama de imigrantes estrangeiros na França que são obrigados a largar o país, mas preferem continuar e viver sob o risco de serem presos e deportados. É esse conflito que vive Samba Cissé (Omar Sy), imigrante senegalês que mora com o tio e pula de subemprego a outro, enquanto tenta não ser descoberto.
Porém, o filme aposta não só no carisma de um personagem boa praça – essencial para que essa abordagem espirituosa tenha sucesso em se tratando de situação tão complicada. Também investe no melodrama para fazê-lo se envolver com Alice (Charlotte Gainsbourg), irmã da advogada que atende Samba. Parece também essencial que ela apresente algo de fragilizado, um mulher que já sofreu um colapso nervoso há pouco, o que permite não só essa aproximação dos dois como também convence o expectador dessa possibilidade.
Ao mesmo tempo, o longa tem o cuidado de não avançar o sinal, de não apressar um desenlace amoroso desmedido. Ambos os personagens trafegam com cuidado pelas suas carências afetivas, um percurso emocional que nunca se revela fácil, ainda que eles consigam criar uma relação agradável ao estarem juntos. O próprio personagem do amigo de Samba, imigrante ilegal que se diz brasileiro (vivido por Tahar Rahim), confere certa leveza que deixa o filme mais aprazível.
Há momentos de maior fragilidade do roteiro e mesmo de certa apelação (a dança no andaime, o segredo amoroso do amigo, a fuga pelo telhado, o desfecho). Mas Samba aposta num tom agridoce que não ofende ninguém, nemdesconsidera a luta diária dos imigrantes em situação limite de alerta total. É mais um pequeno acerto da dupla de diretores que cria, uma vez mais, algo afável dentro de uma proposta que pende tanto para falsos moralismos.