Ciências
Naturais
(Ciencias Naturales, Argentina/França, 2014)
Dir:
Matías Lucchesi
Matías Lucchesi
Irrequieta,
aluna desatenta e distante, Lila (Paula
Hertzog) só pensa em uma coisa: encontrar o pai que não conhece e nem sabe que ela existe. Mas a garota é obstinada em sua busca, acumula algumas
tentativas de fuga em meio à região árida e fria da Patagônia. Quem mais tem de
lidar com o destemor de Lila nem é sua mãe desligada, mas a professora (Paola
Barrientos), cansada de barrar a menina, passando a ajudá-la nessa empreitada.
Interessante
como o filme dá a sensação de história tantas vezes contada antes, caminho de encontro
de um desconhecido, mas que acaba, no fundo, sendo um processo de autodescoberta. Ao mesmo tempo, há um frescor narrativo
e carinho pelos personagens que tornam Ciências
Naturais um filme que nos faz torcer por sua protagonista, aspecto de identificação
sempre muito valioso.
como o filme dá a sensação de história tantas vezes contada antes, caminho de encontro
de um desconhecido, mas que acaba, no fundo, sendo um processo de autodescoberta. Ao mesmo tempo, há um frescor narrativo
e carinho pelos personagens que tornam Ciências
Naturais um filme que nos faz torcer por sua protagonista, aspecto de identificação
sempre muito valioso.
Lila,
por mais impulsiva que seja, não abandona seus propósitos, tipo de personagem admirável
pelo destemor que exibe como combustível que move sua busca (lembra a
determinação cega da maioria dos protagonistas dardennianos, por exemplo). Destemor
esse mais emocional do que racionalizado, diga-se.
por mais impulsiva que seja, não abandona seus propósitos, tipo de personagem admirável
pelo destemor que exibe como combustível que move sua busca (lembra a
determinação cega da maioria dos protagonistas dardennianos, por exemplo). Destemor
esse mais emocional do que racionalizado, diga-se.
Porque
há algo de muito instintivo aqui, reforçado por um roteiro que faz as duas
percorrerem a região colhendo raras e incertas informações, acreditando e
segundo impulsos. A geografia dura e marcada que as cerca parece apelar para esse
sentido de “sobrevivência”, de luta constante, alimentada
pela insistência nessa investigação (do outro e de si), como se assim seguisse o
caminho natural das coisas da vida.
há algo de muito instintivo aqui, reforçado por um roteiro que faz as duas
percorrerem a região colhendo raras e incertas informações, acreditando e
segundo impulsos. A geografia dura e marcada que as cerca parece apelar para esse
sentido de “sobrevivência”, de luta constante, alimentada
pela insistência nessa investigação (do outro e de si), como se assim seguisse o
caminho natural das coisas da vida.
Força Maior (Turist,
Suécia/Dinamarca/Noruega, 2014)
Suécia/Dinamarca/Noruega, 2014)
Dir:
Ruben Östlund
Ruben Östlund
Casal
e dois filhos pequenos de férias numa estação de esqui nos Alpes franceses; família
aparentemente feliz em clima inicial de diversão, apesar de pequenas desavenças
e incidentes entre eles. Mas a noção de “incidente” vai ser redesenhada por
esse filme sueco, curioso estudo de personagens confrontados com suas fraquezas
de forma a mais curiosa possível, engraçada e trágica ao mesmo tempo. Força Maior é um filme que
desestabiliza.
A
famosa cena da avalanche é desde já uma dos grandes hits dessa Mostra, momento
forte enquanto imagem estática. Deixa não só os personagens em cena, mas
também o espectador na cadeira, angustiados pela forma como a gravidade da circunstância
cresce desesperadamente. Mas é a atitude de um dos personagens diante dessa
situação limite que vai chacoalhar o sentimento de unidade dessa família.
famosa cena da avalanche é desde já uma dos grandes hits dessa Mostra, momento
forte enquanto imagem estática. Deixa não só os personagens em cena, mas
também o espectador na cadeira, angustiados pela forma como a gravidade da circunstância
cresce desesperadamente. Mas é a atitude de um dos personagens diante dessa
situação limite que vai chacoalhar o sentimento de unidade dessa família.
Aos
poucos uma crise se instala naquele conjunto. Esposa confronta marido, ambos
não sabem como lidar e expurgar seus sentimentos, muitas vezes contraditórios; filhos se tornam cada vez
mais arredios e agressivos, reflexo da inteligência emocional das crianças que pressentem
algo fora do lugar. Mas se existe aqui um material rico para se criar um
grande drama humano, Östlund prefere o caminho da confusão de sentimentos, encontra
valor num tom cômico inusitado – a plateia ri de nervoso, por vezes gargalha –,
tipo de humor negro que pontua exemplarmente o ridículo e o absurdo daquilo que
se desenha como conflito de homens e mulheres diante de seus medos e
inseguranças, inevitavelmente.
poucos uma crise se instala naquele conjunto. Esposa confronta marido, ambos
não sabem como lidar e expurgar seus sentimentos, muitas vezes contraditórios; filhos se tornam cada vez
mais arredios e agressivos, reflexo da inteligência emocional das crianças que pressentem
algo fora do lugar. Mas se existe aqui um material rico para se criar um
grande drama humano, Östlund prefere o caminho da confusão de sentimentos, encontra
valor num tom cômico inusitado – a plateia ri de nervoso, por vezes gargalha –,
tipo de humor negro que pontua exemplarmente o ridículo e o absurdo daquilo que
se desenha como conflito de homens e mulheres diante de seus medos e
inseguranças, inevitavelmente.
Força Maior parte de uma poética
do desconforto que desestabiliza não somente essa família, mas aqueles que os
cercam – mais cenas impagáveis vêm do casal de amigos que passam a discutir a
própria relação no processo de ajuda e discussão da relação do casal principal.
do desconforto que desestabiliza não somente essa família, mas aqueles que os
cercam – mais cenas impagáveis vêm do casal de amigos que passam a discutir a
própria relação no processo de ajuda e discussão da relação do casal principal.
Östlund
intercala o filme com um tom operístico, uma grandiosidade que não subestima os
dramas pessoais – eles fazem parte da vida, ora –, ao mesmo tempo em que faz um
comentário sarcástico sobre aquela situação, sobre a tempestade num copo d’água
que surge ali sem que os personagens se deem conta disso. É o efeito avalanche.
intercala o filme com um tom operístico, uma grandiosidade que não subestima os
dramas pessoais – eles fazem parte da vida, ora –, ao mesmo tempo em que faz um
comentário sarcástico sobre aquela situação, sobre a tempestade num copo d’água
que surge ali sem que os personagens se deem conta disso. É o efeito avalanche.
Rhino Season (Fasle Kargadan,
Irã/Iraque/Turquia, 2012)
Irã/Iraque/Turquia, 2012)
Dir:
Bahman Ghobadi
Bahman Ghobadi
A
politização do cinema iraniano é uma constante que reflete a rigidez de uma
sociedade peculiar em termos de administração dos costumes, tradições, valores,
desmandos e imposições que ditam a vida de um povo. Mas seja onde for, o cinema
político é sempre muito mais interessante e valoroso quando pretende ser mais
que uma bandeira, terreno do qual esse Rhino
Season tem muita dificuldade de sair.
A
veia politizada de Ghobadi aparece aqui na história do poeta curdo-iraniano
Sahel Farzam (interpretado por Behrouz Vossoughi), vítima da Revolução Islâmica,
acusado injustamente por escrever material subversivo, ficando preso por 30
anos. Depois de cumprir a pena, busca reencontrar a esposa (uma surpreendente
Monica Bellucci), que pensa que o marido morreu.
veia politizada de Ghobadi aparece aqui na história do poeta curdo-iraniano
Sahel Farzam (interpretado por Behrouz Vossoughi), vítima da Revolução Islâmica,
acusado injustamente por escrever material subversivo, ficando preso por 30
anos. Depois de cumprir a pena, busca reencontrar a esposa (uma surpreendente
Monica Bellucci), que pensa que o marido morreu.
Se
o tom panfletário enfraquece o filme, principalmente porque Sahel é comumente
retratado com pena, um coitadismo que encontra eco na melancólica poesia que
ele escreve, talvez o que mais incomode no filme é um apuro estético exagerado.
Fotografia de múltiplos filtros, cenas formatadas para gerar enquadramentos sisudamente
elegantes. Esses são tipos de esforço que fazem o filme gritar “poesia!” a cada
quadro.
o tom panfletário enfraquece o filme, principalmente porque Sahel é comumente
retratado com pena, um coitadismo que encontra eco na melancólica poesia que
ele escreve, talvez o que mais incomode no filme é um apuro estético exagerado.
Fotografia de múltiplos filtros, cenas formatadas para gerar enquadramentos sisudamente
elegantes. Esses são tipos de esforço que fazem o filme gritar “poesia!” a cada
quadro.
Ghobadi escorrega no tom, faz de Rhino Season um retrato sem muita vida
de um personagem destituído de sua própria liberdade, mas ainda assim lutando
para se refazer. O máximo que o filme consegue é lamentar sua existência, como
se jogasse a toalha desde o início.
de um personagem destituído de sua própria liberdade, mas ainda assim lutando
para se refazer. O máximo que o filme consegue é lamentar sua existência, como
se jogasse a toalha desde o início.