Meu Primeiro Casamento (Mi Primera Boda, Argentina, 2011)
Se o cinema argentino contemporâneo vem mostrando vigor e talento na construção de um filmografia de valor mais autoral (podemos falar de diretores com alta personalidade como Lucrecia Martel, Pablo Trapero e Lisandro Alonso), é muito interessante perceber também o lado mais comercial desse cinema. Meu Primeiro Casamento é uma desses casos típicos, exceção de produto que dificilmente chega ao nosso mercado (isso porque o cinema hollywoodiano já alimenta o filão em grandes doses).
Faço essas ressalvas porque, como comédia romântica, o filme argentino do novato Ariel Winograd reprocessa alguns mesmos lugares-comuns do gênero, buscando a graça a partir do nonsense de situações pouco prováveis, mas que ganham espaço no filme como coisas normais de acontecer, por pessoas que não têm nenhum problema com isso. Seu diferencial, no entanto, é não ser apelativo (piadas de baixo calão, envolvendo sexo, principalmente, como certa parte dos filmes nacionais se habituaram a fazer, são bastante comuns nesse tipo de obra).
Narrado em flashback pelos próprios noivos, em separado, o filme demonstra ora a visão de e de outro sobre os acontecimentos do casamento e, principalmente, de como as coisas têm de tudo para dar errado. O noivo Adrián (o ótimo Daniel Hendler) surge como um pobretão, no fundo ainda indeciso sobre se quer mesmo concretizar o matrimônio, um cara de pau nato, enquanto a noiva Leonora (Natalia Oreiro) se esforça para que o casório dê certo na esperança de dobrar definitivamente o futuro marido.
Festas que envolvem familiares e amigos reunidos são proto cheio para a lavagem de roupa suja, reencontros do passado e trapalhadas mil que ganham espaço para diversão e barraco. Nesse âmbito, o filme se esforça para apresentar uma gama de personagens secundários engraçados (uns mais que outros), com suas peculiaridades, muitas vezes beirando o ridículo. É a mãe bêbada, o tio maconheiro, o avô descarado, a madrinha de casamento lésbica que se encanta pela atual namorada do ex da noiva. Mas o melhor deles, sem dúvida, é o primo babaca do noivo, Fede (Martín Piroyansky), cara de paspalho (e nome esquisito para nós) que se junta a suas atitudes sempre descabidas, criando simpatia imediata com o público.
Mas talvez resida aí o maior incômodo do filme: a necessidade que os personagens têm de fazer idiotices sem uma razão específica para isso (a perda da segunda aliança é ridícula, por exemplo, difícil de comprar), pois aposta-se que esse tipo de humor bobo gere risadas. Em alguns casos sim, em outros muito pouco, o que mais acontece nesse filme aqui. Mesmo assim, a graça está presente por conta de algumas boas tiradas, mas principalmente pela ótima performance de Daniel Hendler (ator dos ótimos As Leis de Família e O Abraço Partido), noivo malandro como poucas vezes se vê, um quase anti-herói.
Nessa irregularidade, pena que o filme caminhe para a arrumação das coisas de forma que todos saiam ganhando, o que frustra um tanto pela facilidade de descartar os dramas mais complexos que a trama poderia desenvolver. O cinema argentino, pelo hype que conquistou, tem tido muitas de suas obras aclamadas, às vezes em exagero. Meu Primeiro Casamento não é para tanto; diverte em certa medida, mas oferece muito do mais do mesmo, só que falado em espanhol. Pelo menos, é uma maneira do grande público notar que outras cinematografias consideradas mais “cults” (que termo chato!) podem também ter algo de banal.