Contágio (Contagion, EUA/Emirados Árabes, 2011)
Uma doença epidêmica desconhecida e facilmente contagiosa se espalha pelo mundo gerando caos e mortes. Muitas mortes. Essa é a premissa escolhida por Steven Soderbergh para construir o que ele promete ser um de seus últimos filmes depois de anunciar uma aposentadoria precoce. Golpe de marketing ou não, Contágio não passa de mais um exemplar de filme de calamidade, sem muito o que dizer sobre, mas filmado de forma correta. Parece pouco por tudo que já vimos antes.
Talvez por isso, o filma aposte numa gama de rostos conhecidos do cinema para compor um extenso quadro de personagens que irão lidar com a doença em situações distintas (ela é a própria protagonista da história): a mulher que contraiu o vírus em Hong Kong (Gwyneth Paltrow), seu marido que se revela imune à doença (Matt Damon), um jornalista que desde os primeiros casos percebe o potencial de uma impactante reportagem sobre o assunto (Jude Law), uma médica sanitarista responsável por identificar os primeiros infectados (Kate Winslet), outra médica, na Suíça, contada para pesquisar sobre a doença (Marion Cotillard), além de alguns outros.
Essa opção por múltiplos pontos de vista têm lá suas vantagens, mas também desacertos. Se por um lado os personagens perdem em profundidade, pois têm pouco tempo em tela (alguns somem e parecem que nunca mais irão voltar – assim como não sabemos o que acontece com todos eles ao final), por outro o filme também cria uma atmosfera dinâmica e ágil, muito pertinente a um estado de perigo constante em que o fator tempo é preponderante, além da história não possuir um foco específico. Enquanto uns tentam sobreviver, outros procuram entender a doença para encontrar uma cura, e outros ainda tentam lucrar com o caos.
Para marcar esse tom, o filme já começa estabelecendo um clima de tensão calculado, auxiliado por uma trilha sonora pontual, insistente, muito embora seja difícil segurar essa atmosfera em todos os momentos. O primeiro plano do longa revela o rosto pálido e abatido de uma Gwyneth Paltrow com olheiras bem marcadas, sinal claro da doença sobre a qual nem sabemos do que se trata, mas que não deixa dúvidas de já ter infectado a mulher.
Mesmo desprovido de novidades narrativas ou temáticas, o filme só sobrevive pela condução segura do diretor, ganhando gás com um ritmo equilibrado entre a agilidade e o senso de risco. Em meio à calamidade crescente, Soderbergh encontra tempo para filmar pequenos objetos em cena (uma maçã, a maçaneta de uma porta) porque são típicos focos de infecção, embora poucos percebam isso, tipo de cuidado que revela um diretor atento a detalhes interessantes.
Mas se o filme parecia se importar mais com seus personagens e as consequências dessa epidemia generalizada, a partir da segunda metade acaba se entregando à burocracia de buscar explicações sobre como, onde e por que surgiu o vírus, fugindo um tanto do foco humanista que a história poderia tomar (e os minutos finais soam como um desperdício total ao voltar ao primeiro dia da infecção, o que não parece mudar muita coisa do que já sabíamos, sem nada de novo a acrescentar).
Quando se coloca no piloto automático (e isso acontece na maioria das vezes), Contágio revela toda sua fragilidade, apesar do tratamento classe A de produção. A impressão é de um filme que passeia pelos lugares-comuns desse “subgênero”, dando voltas em torno de um mesmo perfil temático. A diferença é que traz a “assinatura” de um diretor de grife e de um elenco respeitável (em boas atuações, diga-se). Só me pergunto para qual finalidade.
Soderbergh ainda está novinho para se aposentar, mas, pelo visto, anda com idéias idosas… Como adoro diretores de grife e elencos respeitáveis vou conferir assim mesmo, em DVD, é claro.
Uma grande decepção… Soderbergh precisa acordar…
O Falcão Maltês
Stella, ele faz muitos filmes em pouco tempo, só que com menos talento. Por isso acho que saem essas coisas mais genéricas vez ou outra.
Pois é Antonio, e ele já anunciou uma aposentadoria precoce. No entanto, na página dele do IMDB constam vários projetos em andamento ainda. Veremos no que dá.
Tivemos percepções parecidas. A primeira metade de "Contágio" foi realmente tensa, Soderbergh cria uma atmosfera assustadora, digna de um terror, mas se perde na segunda metade, trilhando caminhos que vão de encontro com o que realmente o espectador quer saber – a origem da doença, no caso.
Também senti falta do fator humano, mas Soderbergh desde o princípio deixa claro que o foco é no vírus, por isso atores tao conhecidos.
abs
Elton, não sei se a primeira parte tem esse clima assim de terror, mas concordo que é mais tensa. O problema é que depois o filme se torna desinteressante, assim como essa busca em desvendar o vírus tira o foco na tensão que o filme vinha ensaiando. Uma decepção, na verdade.