Trampolim do Forte (Idem, BA/BR, 2010)
Dir: João Rodrigo Mattos
Se o cinema feito na Bahia tem bambeado (há um bom tempo) na busca por um registro potente que faça jus a todo um histórico de efervescência cultural em torno do audiovisual no estado, Trampolim do Forte vem reforçar ainda mais essa necessidade por imprimir uma certa “baianidade” nas histórias, como forma única de atribuir valor a seu produto.
O filme insere uma série de personagens infantis que transitam entre o rte do Porto da Barra e adjacências a fim de buscar um olhar sobre as mazelas sociais que afligem esses garotos de origem pobre que trabalham e perambulam pelas ruas da cidade. E aí reside um ponto negativo do filme: uma tentativa desesperada pela denúncia social que reduz uma série de outros personagens em caricaturas (os policiais corruptos, o estuprador misterioso, o pastor oportunista, etc.) e que faz a narrativa girar em torno de uma piedade para com seus personagens mirins.
Existe toda uma simplicidade na forma como o filme retrata esses meninos em seu cotidiano, muito provável a melhor coisa do filme (os melhores momentos surgem da interação entre os protagonistas, Felizardo e Déo). Mas quando aparecem na trama as reviravoltas, mistérios e meandros dramáticos que englobam uma série de personagens e situações, a narrativa perde em verossimilhança e leveza. Fica o gosto de mais uma oportunidade desperdiçada.
Transeunte (Idem, RJ/BR, 2010)
Dir: Eryk Rocha
A trajetória de seu Expedito (Fernando Bezerra), um senhor de idade, sem esposa ou filhos, morando agora sozinho depois da morte recente da mãe de 81 anos, parece ser a história ideal da decadência e desolação que marcam o fim da vida de alguém. Pois o grande mérito de Transeunte é justamente expor o contrário, transformando a rotina desse personagem num caminho de autoaceitação e felicidade prováveis, na medida do possível e a passos lentos.
Não se trata aqui de superação, é muito mais que isso. Expedito vai aprender a conviver com suas limitações de idade, seu ritmo próprio e sua condição solitária. E o grande mérito do filme é respeitar enormemente esse personagem, sem olhares de piedade. O ritmo lento, o preto-e-branco de uma fotografia belíssima e nunca carregada e os planos bastante fechados nesse personagem que perambula pelas ruas do Rio de Janeiro só reforçam a relação de observação que o filme mantém com Expedito e sua rotina do jeito que se inscreve, acompanhando-o aonde ele for, sem interferências.
Apesar das duas horas de projeção que fazem o filme parecer maior do é, até mesmo pela sua atmosfera contemplativa, Transeunte poderia ser mais palatável se fosse um pouco mais enxuto. Mas trata-se de uma história que surpreende pela demonstração de dignidade que o protagonista nos oferece, sem amargor.
Vigias (Idem, PE/BR, 2010)
Dir: Marcelo Lordello
No atual cinema pernambucano, muito se tem discutido e posto em pauta a questão da moradia (como nos casos de Avenida Brasília Formosa ou Um Lugar ao Sol). Vigias pode ser visto como uma dessa vertentes, embora seu olhar esteja direcionado aos profissionais que passam a noite vigiando casas e edifícios enquanto seus moradores dormem tranquilos em suas residências.
O registro é dos mais válidos pela oportunidade de voz que dá a esses personagens anônimos do dia a dia, mas o que falta ao filme (ou aos personagens com suas falas) é um discurso que seja relevante, que tenha algo importante e não comum ou já esperado a ser dito. Não que as dificuldades e peculiaridades do ofício não sejam relevantes, mas soam como algo sem grande interesse.
Há ainda toda a discussão sobre o problema da violência e da necessidade pela segurança, o que acaba justificando o trabalho daquelas pessoas. Ainda assim, trata-se de algo que perpassa mais as entrelinhas do filme do que necessariamente uma preocupação temática forte evidenciada pelo longa. No fim das contas, Vigias se apresenta como um registro mais quadrado e sem grandes pretensões.