Lixo Extraordinário (Waste Land, Reino Unido/Brasil, 2010)
Dir: Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley
Se a ideia de transformar lixo em arte, essa coisa batida do “luxo do lixo”, pode cair no lugar comum, Lixo Extraordinário aposta em uma outra ideia, mais arriscada: um tom socialmente relevante. Nesse sentido, o filme ganha um ar um tanto pretensioso ao apresentar um projeto que, além da produção das peças de arte em si, pretende “modificar” a vida dos catadores de lixo, ou de alguma forma transformar seu cotidiano (o que lembra muito o discurso autoimportante do documentário Nascidos em Bordéis).
Com isso, o filme acaba se arriscando por um tom que beira o oportunismo, por mais que as intenções dos envolvidos no projeto sejam das melhores. Ao mesmo tempo, revela uma ingenuidade ao acreditar que seja possível uma mudança tão grande na vida daquelas pessoas de situação social tão precária.
Fora isso, o filme vale muito pela originalidade de Vik para construir suas peças. Ele, inicialmente, fotografa as pessoas em determinadas posições (que podem até fazer referências a cenas clássicas da História, a exemplo do revolucionário Marat morto na banheira, visto no filme). Depois, ele reconstrói no chão de um galpão aquela imagem em tamanho gigante, utilizando como “tinta” os mais diversos tipos de resíduos retirados do lixão. Por fim, do alto, ele volta a fotografar a peça para, então, expô-la. O resultado é muito bom.
Assim, Vik e sua equipe escolheram o Jardim Gramacho, o maior aterro sanitário a céu aberto da América Latina, no Rio de Janeiro, para dar corpo a seu experimento, tirar de lá a matéria-prima de suas peças, sejam os materiais do lixo, sejam os personagens interessantes que serão usados para dar cara ao projeto, não só usados como modelos fotográficos, mas também trabalhando no estúdio improvisado da equipe preenchendo as imagens com o lixo.
No meio de toda a produção, há ainda a confusão de autoria do filme, uma vez que Lucy Walker tem sido acusada de acompanhar parte das filmagens, deixando grande parte delas para os co-diretores brasileiros João Jardim (dos ótimos Pro Dia Nascer Feliz e Janela da Alma) e Karen Harley. Na verdade, o filme trata-se de um projeto coletivo entre os três, mas somente a documentarista inglesa tem recebido os créditos pela produção.
Além de tocar numa questão delicada (a quem pertence o filme, o produto final?), esse desentendimento fica evidente no resultado final do próprio longa que revela sua irregularidade, por exemplo, na diferença de abordagens entre as cenas que reúnem Vik e sua equipe contra aquelas que mostram os depoimentos dos catadores de lixo (feitas em sua maioria por Jardim, sendo os melhores momentos do filme). Irregular também no discurso engajado de querer ajudar toda aquela comunidade e o que de fato conseguiu fazer para isso.
Realmente, Rafael, foi um ano bem fraquinho para o cinema. Vou assistir ao Oscar sem empolgação nenhuma. Principalmente pela falta de A Ilha do Medo.
Abraços,
http://www.ofalcaomaltes.blogspot.com
Antonio, e isso não me parece uma exceção, há muito tempo que os filmes do ano são medianos, poucas vezes acontece de darem destaque a bons filmes de verdade.