Na verdade, jovens e crianças são muito maltratados pelo nosso cinema porque não existe interesse em produzir conteúdo de qualidade para esse público (por isso, é preciso se contentar com Malhação e filmes do Didi e da Xuxa – sem falar nas porcarias estereotipadas norte-americanas).
Mas Laís Bodanzky veio para fazer um trabalho exemplar. Ela já havia visitado o mundo adolescente em seu trabalho de estreia, Bicho de Sete Cabeças, porém com um ponto de vista bem diferenciado e mais duro da realidade. Aqui, o foco é outro. Temos o jovem Mano (Francisco Miguez) passando por essa complicada fase da vida e todos os seus percalços e maravilhas que vêm junto.
Com um roteiro extremamente sincero e rico em nuances (baseado na série literária Mano escrita por Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto, e adaptado por Luiz Bolognesi, marido da diretora), o filme dá conta de apresentar uma série de situações que surgem no caminho de seu protagonista, todas características de sua faixa etária: ele enfrenta a separação dos pais depois que o pai se assume gay, quer perder a virgindade e arranjar uma namorada, se decepciona com seus amigos e descobre outras amizades.
Tudo isso no melhor estilo rito de passagem em que o amadurecimento do personagem vai se evidenciando, embora ele mesmo possa não ter noção disso. Mas nunca no filme essa transição se apresenta como lição de vida ou de moral. O protagonista simplesmente encara essas situações da forma que elas surgem no caminho, talvez até com uma ingenuidade muito própria e já esperada.
Mas o melhor do projeto é que o diálogo feito com o mundo adolescente está impregnado na tela, em cada uma das cenas (algo que me faz lembrar, inusitadamente, de As Virgens Suicidas, de Sofia Coppola, e todo seu espírito teen como algo latente na tela). Tudo parece ser filmado com conhecimento de causa, daí o sucesso do projeto. Nesse sentido, o elenco jovem, todos muito bons, faz uma diferença enorme pela vitalidade com que cada um defende seus respectivos personagens. Francisco Miguez é um achado, fazendo de Mano um adolescente como qualquer um.
Vale destacar também o elenco mais experiente, com ótimas participações de Caio Blat (professor de Física), Zé Carlos Machado (o pai) e Paulo Vilhena (o instrutor de violão). E que bom ver Denise Fraga interpretando uma personagem madura (a mãe), longe daqueles papéis bobocas que ela faz na TV. A atuação dela é uma das melhores do longa. E até Fiuk, como o irmão mais velho e sensível, está ótimo no filme.
Com muito bom humor, sem esquecer os dramas e dificuldades, As Melhores Coisas do Mundo é filme para se ver com um belo sorriso no rosto, pela verdade deliciosa que emana da tela. É também para louvar esse tipo de projeto dentro da produção nacional que, cada vez mais, se prende a estereótipos temáticos.
Filmaço, mesmo. Acho que o grande acerto da Bodansky é algo que você apontou no texto, a capacidade de filmar aquele universo sem julgamentos bobocas ou tentativas de lição de moral. É um olhar quase antropológico, já manifestado no seu filme anterior, CHEGA DE SAUDADE, sobre outra faixa etária. AS MELHORES COISAS DO MUNDO só não foi o melhor filme brasileiro de 2010 por culpa de TROPA DE ELITE 2.
Só detestei o sotaque. =P
O filme vai ganhando pontos no decorrer da história.
Walace, acho interessante também que a diretora não chega a ser uma especialista no assunto. Chega de Saudade, por exemplo, tem as mesmas qualidades desse filme e é um retrato de uma outra faixa etária.
Elizio, sério, meu? Hauhuauha Mas gosto muito do início do filme. Na verdade, ele consegue manter um nível de qualidade em toda sua duração.
Não achei nada demais. Um Malhação no cinema, praticamente.
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Abraço.
=]
Anderson, o tom é mesmo o daquele de Malhação, mas vindo da Laís Bodanzky tem um texto muito bom, desenvolvimento ótimo de personagens, além de que inspira sinceridade dentro do universo do jovem brasileiro. E ela filma muito bem, pelamor! Apareça mais vezes por aqui.