Autoencontro

Livre (Wild, EUA, 2014)
Dir: Jean-Marc Vallée
Quando Livre começa, encontramos a protagonista já de mochila nas costas,
no meio de uma trilha, com o pé ferido, perdendo os sapatos. Os apertos e perrengues
são essenciais nesse tipo de filme porque os personagens estão ali pra sofrer,
já que assim se justifica o esforço físico de uma longa caminha com um mochilão nas costas.
Daí que uma primeira curiosidade que o
filme planta no espectador é o que motiva aquela jovem a fazer esse percurso que
se torna de auto-conhecimento, uma espécie de retiro interior, embrenhando-se na
natureza selvagem (alô, Sean Penn!) para fugir (ou se encontrar). Porque Cheryl
Strayed não aparenta ser uma mulher esportista que cultiva um estilo de vida radical.
Por isso vai parecer um tanto frustrante
entender por que ela empreende tal tarefa. Através de flashbacks, descobrimos o passado dessa jovem e seus problemas com
a família, especialmente com o marido (traições e drogas fazendo parte da
soma). Há ali uma espécie de auto-redenção, mais uma maneira de provar a si
mesma certo valor pessoal, uma força interior, do que uma razão concreta, objetiva.
É uma pena que tamanho esforço seja
exigido de Reese Witherspoon, uma atriz limitadíssima, que poucas vezes
consegue dar conta da complexidade de suas personagens. Aqui, ela pouco se
esforça, para além da entrega física. Parece que o perfil da mulher com certa
frescura, ao se aventura sozinha numa jornada nada glamourosa pelo meio do
mato, por si só, já garantisse a “força” de sua performance. Mas a personagem pede
mais e só ganha uma tradução anódina desse esforço que tem muito de psicológico
também. 

Jean-Marc Vallée dirige com certa frouxidão uma
história que se vende como algo de determinação e força, mas que no fundo é
mais uma muleta para se falar de superação, da forma mais banal possível, ele
que já  vem do bem fraco Clube de Compras Dallas. Livre assemelha-se a um livro de
autoajuda que vem com lições de vida no final, literalmente, porque são
expostas verbalmente pela protagonista. Strayed chega ao fim de sua jornada e
entrega, de bandeja, tudo aquilo que se espera desse tipo de história.

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