Bizarro e gracioso

O Pequeno Quinquin (P’tit
Quinquin, França, 2014)

Dir: Bruno Dumont
 

Seria muito estranho testemunhar uma virada na carreira de
Bruno Dumont. É certo que esse O Pequeno Quinquin envereda
pelos caminhos da comédia de tons detetivescos, coisa muito distante dos filmes
barra-pesada que o diretor já fez. Mas é muito fácil reconhecer aqui o universo
de Dumont: interior da França, com sua gente simples e feia, envoltas em
situações bizarras. É o mundo cão no mesmo tipo de geografia que o cineasta
está acostumado a observar.
Há ainda o fato do projeto ser originalmente uma série para
a TV francesa, reunida aqui num filme de mais de três horas de duração, muito
palatável para se ver no cinema, engraçado até certo ponto. Se essa era a maior
qualidade do projeto, ainda que numa medida muito particular em se tratando do
diretor em questão, ela é o forte e o fraco do filme.
Não há dúvidas de que o longa rende boas gargalhadas em
momentos inesperados – como a menina que canta no funeral, o avô arrumando a
mesa do almoço, a aparição do herói “caipira-man”. Mas Dumont comumente
ultrapassa o timming cômico, ora prolongando demais o efeito
das gags, ora repetindo as mesmas piadas tempos depois – a garota
que insiste em cantar agudo será usada mais de uma vez para efeitos de graça,
por exemplo.
O pequeno Quinquin (Alane Delhaye) e sua trupe de amigos
endiabrados – além da garotinha que surge como seu “par romântico” – estão ali
para observar e acompanhar as investigações de um crime misterioso: uma vaca é
encontrada morta num bueiro, com pedaços de corpo humano dentro dela. Essa é só
a ponta de uma série de assassinatos estranhos inseridos na atmosfera da pacata
região interiorana.
Mas mais do que o próprio protagonista, o comandante de
polícia Van der Weyden (Bernard Pruvost), detetive ranzinza, com seus tiques
incontroláveis na face, voz embolada e comportamento arrogante, pra não dizer
esquisito, é quem rouba o filme. Suas tiradas de metido a esperto, sempre se
achando no controle da situação, são ótimas. 

Nesse sentido, o filme está menos preocupado na
resolução do caso policial em si – que se torna mais confuso e sem razão quanto
mais sabemos sobre ele – e mais focado no desfile de tipos estranhos, de
comportamentos incomuns e suspeitos. É mais uma maneira de Dumont lançar luz
sobre a inexplicável crueldade humana, ainda que seja naquele garotinho feio e
atentado que parece residir uma ponta de amor e afeto em meio a isso tudo.

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