Jean Charles (Idem, Brasil/Inglaterra, 2009)
Dir: Henrique Goldman
Desde quando soube da transposição para o cinema da história do brasileiro assassinado no metrô em Londres confundido com um terrorista mulçumano, fiquei com pé atrás. Pareceu um oportunismo e tinha medo de sair um filme panfletário. Mas não, a história consegue emocionar e é muito consciente de si mesmo, sem pieguice. E isso já é de bom tamanho.
A maior qualidade do roteiro é traçar um fiel retrato de Jean Charles (Selton Mello), nunca tendo piedade do personagem ou querendo endeusá-lo somente por ter sido morto injustamente. Ele é um cara legal, com certeza (e Selton Mello parece ideal para representar um personagem tão boa-praça), mas o filme não esconde seu envolvimento com emissão de passaportes ilegais ou sua atitude de trair a confiança do chefe para conseguir um trabalho temporário, mas lucrativo. Ele é humanizado pelos erros e acertos da forma mais natural possível.
Ao mesmo tempo, é uma crônica da luta diária de um estrangeiro em busca de emprego ou uma forma de sobrevivência, evidenciado pelo tom documental de algumas cenas. O que poderia ser visto somente como a expressão da luta diária dos brasileiros, passa a abranger várias outras nacionalidades uma vez que a Europa atual se mostra um verdadeiro caldeirão multicultural, repleto de imigrantes (legais ou não) em busca de uma oportunidade. O brasileiro morto podia ser um colombiano, um romeno, sul-africano. Nesse sentido, o filme mostra um caráter mais universal.
A direção de Henrique Goldman (o cineasta viveu em Londres e parece saber bem o que é trabalhar fora de seu país) é simples e se utiliza de planos longos que valorizam os atores em cena, mas nunca chama atenção para si mesmo. A cena do assassinato de Jean, por exemplo, vem rápida e certeira. Nada é supervalorizado ou exagerado.
Selton Mello, como o grande ator que é, não precisa se esforçar demais para compor um personagem tão gente boa; é a alma do filme, de fato. Uma pena que o resto do elenco, exceto talvez Luis Miranda, não consiga manter o mesmo nível.
Ao final, a história consegue ser emocionante por aquilo que todos já sabem que acontece (a morte, a dor da família, a busca por justiça), mas tudo soa bastante verdadeiro. Por tudo isso, o filme é uma grata surpresa.
Não tinha intenção de assisti-lo, não me atraiu, mas pelo que escreveu o filme pode surpreender. Vou dar uma chance.
Abraços.
Eu também achei este filme uma agradável surpresa. Adorei a maneira como a história do Jean Charles foi retratada. Como você bem disse, o longa soa sincero e verdadeiro.
Para dizer a verdade, já li tanto sobre o filme na blogosfera e, apesar das reações positivas (mas não entusiásticas) e de tratar de um episódio caro aos brasileiros, não parece ter nada muito especial.
Rafael, engraçado é que não sabia (ou não lembrava) sobre este trágico episódio de Jean Charles antes das informações enquanto ao filme do Henrique Goldman. É legal saber que aqui a figura que tem a sua existência resumida é retratada através de sua camaradagem e os seus atos não corretos.
Todo mundo falando muito bem do filme. Interessante! E tinha tudo para cair num dramalhão panfletário. Selton Mello é realmente um grande ator de cinema. Ainda quero conferir o filme dele como diretor.
Abs!
Eu não sei, mas to meio enjoado de todo o santo filme nacional ter Selton Mello. Gosto bastante do ator, mas fico pensando: a gente tá tão mal assim?
No entanto, após alguns comentário,s tenho uma curiosidade por Jean Charles.
Tb achei um trabalho notável, me surpreendeu muito como experiência cinematográfica já que vai alé do oporutunismo q uma biografia poderia trazer.
Dê mesmo Yuri, você pode se surpreender, assim como eu.
Soa mesmo Kamila, sem um pingo de panfletarismo.
Gustavo, não é um filme excepcional, mas vale muito uma conferida, até porque o filme diz muito aos brasileiros, a nossos emigrantes que são tão discriminados lá fora. É tocante justamente porque sentimos como deve ser foda passar determinadas dificuldades no exterior.
Poxa Alex, e foi tão divulgado na mídia. Mas de qualquer foma, é uma maneira de você conhecer a história, e a história por trás da mídia. Vale a pena.
Dudu, meu filho, tu ainda não viu Feliz Natal? Moço, vá logo ver, é sensacional. E Jean Charles é bastante sincero. Seltn Mello confere muita dignidade ao personagem.
Opa, pera aí Diego. Tá ok que o Selton aparece muito nas telas (além desse, ele ainda tá em cartaz com A Mulher Invisível – filme terrível – e também com A Erva do Rato), mas se ele é um grande ator, isso é bom, não? Pior se ele estivesse se disperdiçando fazendo novela da Globo, como acnteceu com o Lázaro Ramos, por exemplo. E veja Jean Charles, você pode se surpreender.
Realemnet Wanderley. Nem sei se dá para ver como uma biografia. Vejo como uma crônica da vida dos brasileiros lá fora, tendo como eixo a vida do personagem e a tragédia que viria.
não consigo criar um interesse sobre esse filme. principalmente após ver as entrevistas de divulgação. me parece mais uma daquelas cinebiografias chatas e já préintecionadas em transformar o personagem protagonista em um 'herói'.
algo como 'os dois filhos de francisco', entende?
Não, não, Cinematranscendental, o filme não tem nada disso; pelo menos eu não o vejo assim. Não existe essa tentativa de transformar o protagonista em um heroi, ele é visto de forma bem mais humanizada, incluindo as malandragens dele para sobreviver lá.
E não também vejo Dois Filhos de Franscisco dessa forma; é um filme que conta a tragetória de dois cantores sertanejos, sem exageros ou arroubos dramáticos. Enfim, assista a Jean Charles, você pode se surpreender.