Cine Ceará – Parte I

O Clube (El Club, Chile, 2015)
Dir: Pablo Larraín

 

Depois de fazer uma bela trilogia sobre a ditadura militar chilena, a partir de um viés menos militante, observando-a no subtexto (com Tony Manero, Post Morten e No), o diretor Pablo Larraín chega com um filme forte e tortuoso que abriu o Cine Ceará na noite de quinta-feira.

O Clube começa ameno, apresentando seus personagens que vivem reclusos numa casa à beira mar. O clima é de tranquilidade e companheirismo entre quatro homens e uma mulher, todos religiosos e em harmonia. A chegada de um quinto integrante desencadeia certos conflitos que eles prefeririam deixar escondidos.

Saberemos logo que aquele grupo é formado de padres com histórico de abuso sexual a criança, especialmente a garotos. Vivem como em estado de recuperação, longe das suas paróquias e possíveis tentações da carne, rezando e expiando seus pecados.

Larraín, já nos primeiros 20 minutos iniciais, consegue estabelecer uma atmosfera de melancolia – através de uma fotografia que privilegia tons azulados de cor – e revelar os segredos escusos que os personagens escondem. Desenha ainda uma tragédia que estabelece grande desconforto, uma atmosfera pesada que permanecerá até o fim do filme.

Se há algo de vigoroso nesse início, O Clube perde um tanto de sua força quando desdobra o tema, investindo em conflitos que soam mesmo redundantes – como a persistência com que um homem local, um tanto perturbado da cabeça, confronta os padres –, embora seja um personagem vital para o desenrolar e desfecho da narrativa.

No entanto é clara, e muito bem-vinda também, a opção de não fazer um filme de choque, de não buscar a saída fácil do escândalo. Os personagens são mais confrontados com o peso de suas consciências do que expostos a uma culpabilidade perante a sociedade ou o mundo católico. Mesmo assim, o filme está longe de colocá-los em situação de coitadismo, tanto diante dos crimes cometidos no passado, quanto das saídas que eles encontram para contornar os confrontos que se desenham ali.

Larraín não poupa ninguém de seus erros, falhas de caráter e decisões equivocadas – que geram mais desacordos e problemas. Somente a última, que faz unir lados opostos, e o cuidar daqueles que foram machucados e maculados parece ser a saída menos dolorosa para enfrentar os traumas, enquanto os personagens ainda precisam lidar com seus próprios demônios.

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