Cine Ceará – Parte II

 

Jauja (Idem, Argentina/Dinamarca/México/EUA/Holanda/França /Alemanha/Brasil, 2015)
Dir: Lisandro Alonso

 

 

É muito interessante ver um cineasta deixando certa zona de conforto e partindo para narrativas mais desafiadoras, ainda que suas velhas questões se mostrem presentes. Jauja, de Lisandro Alonso, é um filme incomum, aponta para caminhos inéditos, mas muito pertinentes dentro de uma filmografia já radical do cineasta argentino. Isso porque agora ele investe em algo de mítico/onírico/fabular, ainda que de forma muito peculiar.

O Jauja do título diz respeito a um lugar mítico, espécie de paraíso perdido que muitos tentaram encontrar, mas sem sucesso. O filme apresenta um capitão dinamarquês (Viggo Mortensen), acompanhado de sua filha (Viilbjørk Malling Agger), que percorre uma região campestre junto com uma tropa (que nunca vemos por inteiro), numa espécie de missão (que não sabemos exatamente qual é). Tudo é muito difuso com algo de enigmático, o tom é mesmo de certa suspensão numa paisagem bucólica e deserta, belissimamente fotografada, com formato quadrado de tela.

A narrativa que Alonso constrói é lenta, privilegiando planos longos e com poucos movimentos de câmera. Exige do espectador certa disposição e não entrega respostas fáceis – muita coisa fica mesmo em aberto. Quando a filha do capitão foge com um prisioneiro, ele parte em sua procura. É quando o filme se torna mais áspero, privilegiando a experiência desgastante de seu protagonista, exaurido pela busca em terreno desconhecido, percorrendo campos e planícies à exaustão.

A própria ideia de busca é um dos grandes motores do cinema de Alonso (como visto em um de seus melhores trabalhos, Los Muertos). Essa maneira de se deter longamente sobre o trajeto tortuoso de alguém é uma marca evidente do cineasta – porém talvez nunca mostrada de forma tão exaustiva como aqui. Mas o filme ganha muito quando, mais ao fim, entrega-se a um tom próximo da fábula, que lança os personagens a outro espaço-tempo e ainda surpreende o espectador por esse rumo impensado.

Se o filme abre com a informação desse lugar mítico perdido na selva, nada no decorrer da história aponta para sua procura. Mas é talvez nesse processo de busca a alguém que se ama, que se torna também um ato de se perder no mundo, é que o fabuloso e o estranho surgem de forma inesperada, mas sem alarde na narrativa. Jauja é um belo filme de encontros inesperados, de estranhezas desconhecidas, mas recompensador especialmente pela beleza lúdica que invoca.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Arquivos