Juno (Idem, EUA/Canadá/Hungria, 2007)
Dir: Jason Reitman
Aos 16 anos, Juno engravida de um colega e não conseguindo levar à diante a idéia de abortar, resolve encontrar um casal para adotar a criança. O que poderia se tornar mais um filme de adolescente chato e cheio de pretensas lições para a juventude, é na verdade um trabalho maduro que tem no roteiro seguro da ex-stripper Diablo Cody um de seus maiores méritos. Ao mesmo tempo em que o texto é leve e repleto de diálogos inspiradíssimos, sabe dar o tom certo do drama de cada um dos personagens, sem pesar a mão. Os comportamentos e ações dos personagens nunca caem no caricatural ou no riso fácil, como uma possível forma de ridicularização. Já a protagonista, durona e de personalidade forte, no fundo é apenas uma adolescente que precisa enfrentar problemas de gente grande, sem nem ao menos entendê-los direito (os adultos e os problemas). E Ellen Page, sempre segura, nos oferece uma atuação repleta de nuances. Juno é jovem, cheio de vida (a cena final é de uma singeleza absurda). Simples e sincero.
Sangue Negro (There Will Be Blood, EUA, 2007)
Dir: Paul Thomas Anderson
No finalzinho do Século XVIII, o visionário Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis, impecável) descobre um poço de petróleo e percebe a oportunidade de se dar bem na vida. Começa então a ampliar seus domínios pelo território norte-americano, munido pela ganância de se tornar cada vez mais rico. Nesse trajeto, o personagem vai entrar em conflito com duas instituições importantes: a família e a Igreja. O filho adotivo é o único laço familiar que lhe é próximo, mas quando se torna um fardo para Plainview por conta de um acidente, não há o menor remorso em renegá-lo. E o pastor protestante (Paul Dano) vê no novo dono do pedaço uma forma de fortalecer sua Igreja, física e numericamente, mas vai descobrir que esse interesse não é mútuo. O cultuado diretor Paul Thomas Anderson recria com suntuosidade a trajetória desse homem, sempre de maneira estilizada, mas nunca afetada. O filme é coeso e se impõe enquanto narrativa cinematográfica de alto nível. Mas é Daniel Day-Lewis a grande força da película, conferindo potência surpreendente a seu duro personagem. Paul Dano (injustamente esquecido pelas premiações) não fica atrás na sua assustadora encarnação do líder religioso. Mas assustador mesmo é quando os dois se enfrentam.
Cloverfield – Monstro (Cloverfield, EUA, 2007)
Dir: Matt Reeves
Um monstro invade a ilha de Manhattam e um grupo de jovens tenta sobreviver ao ataque. Até aqui parece mais um filme catástrofe-clichê, mas Cloverfield é pura tensão e seu trunfo está mais na forma que no conteúdo: todo o filme é apresentado como uma gravação de uma câmera digital. Quando Rob consegue um emprego numa empresa no Japão, seus amigos resolvem fazer uma festa de despedida. Munido de uma filmadora, seu melhor amigo documenta tudo, principalmente quando o monstro começa a destruir a cidade no meio da festa e o caos se espalha. Cloverfield consegue com isso ser uma experiência única tanto pela adrenalina como pela carga emocional que explode a partir do absurdo e tragicidade da situação. Mas principalmente pela gama de imagens impressionantes que surgem na tela (a maioria não te deixam piscar), graças à dinâmica “realista” das filmagens. A história pode até conter alguns clichês do cinema comercial, mas a experiência, garanto, é assustadora.
A Culpa é do Fidel (La Faute à Fidel, França/Itália, 2006)
Dir: Julie Gavras
Quando os pais da pequena Anna viajam à América Latina e passam a simpatizar com o comunismo, a vida da menina muda completamente. A vida aristocrática da alta sociedade dá espaço a uma rotina mais simples e humilde. Mudam seus hábitos alimentares, passa a dividir o quarto com o irmão mais novo, é obrigada a não ter mais aulas de catecismo no colégio e toda a família se muda para uma casa menor, que inclusive se torna ponto de encontro dos novos amigos “barbudos” dos pais. A Culpa é do Fidel é um interessante estudo das lutas sociais na década de 70 quando Fidel Castro consolida o poder comunista em Cuba, a Espanha ainda enfrenta a ditadura de Franco e o Chile luta para eleger o candidato esquerdista Salvador Allende como presidente. Tudo isso sob o olhar inocente e curioso de uma criança. No entanto o filme é adulto, e mesmo que existam momentos de excelência, a fragmentação da narrativa minimiza um pouco a força das situações.
De todos, apenas vi “Juno” e “Sangue Negro”, ao primeiro daria tres estrelas, ao segundo, cinco. O personagem de Lewis eh fascinante, intrigante, enigmatico…
Rafael, em primeiro lugar, seja bem-vindo de volta!!!!
Dos filmes citados, só não assisti “A Culpa é do Fidel”. Amei “Juno”, o meu filme favorito dentre os indicados ao Oscar. E gostei bastante de “Sangue Negro”, mas não tanto como muita gente.
“Cloverfield – Monstro” é um filme feito das boas decisões adotadas pelo Matt Reeves. A escolha de atores desconhecidos e a fotografia principal sendo as imagens feitas pelos atores contribuem muito para o clima tenso e documental da obra.
Acho Juno bem superestimado. Quando vi o filme em Janeiro, gostei bastante. Mas depois que surgiram as premiações e o público criou um alvoroço em cima dele, meio que comecei a desgostar do filme.
NOTA: 8.0
Sangue Negro é uma obra dificil e que deve ser revista para ser melhor apreciada. Não quero criar tantos comentários em cima dele porque preciso revê-lo. Mas o desempenho do Day-Lewis é o melhor da década e a direção de Anderson impecável.
NOTA: 8.0
Romeika, Juno é de uma maturidade tão grande que é impossível para mim dar somente três estrelas. Sangue Negro é um dos melhores do ano.
Kamila, embora Juno não fose meu favorito no prêmio da Academia, é um filme louvável. E eu gosto bastante de Sangue Negro, muito mesmo.
Matheus, eu vi e revi Juno e minha convicção de que é um filme simples e maduro é a mesma. Também preciso rever Sangue Negro porque é um filmço.
Sangue Negro ainda não vi … irei esperar o dvdrip
Cloverfield é foda demais … quando reassisto vejo algo novo … bom demais
Juno … eu amo ela …
e fidel ainda não vi …
e bem vindo ao mundo das atualizações e até!
Voltou em grande estilo com obras importantes do ano passado e deste – só não conhecia A CULPA É DO FIDEL; nenhum deles, porém, passou aqui.
Cumps.
Rafael, vejo que não foi só você que “saiu de férias” por causa de algumas questões pessoais e pelos problemas com a Internet. Bem-vindo de volta!
Desta relação de quatro filmes, peguei somente “Juno”. Gostei, mas acredito que seria um filme ainda mais marcante se reservasse um espaço maior para o relacionamento existente entre os personagens de Ellen Page e Michael Cera. Mas concordo com a sua análise.
“Sangue Negro” tentarei assistir no feriado e os dois restantes verei no lançamento em DVD.
Abraço!
Alex Gonçalves
http://www.cineresenhas.wordpress.com
Ainda não vi Cloverfield e nem A Culpa é do Fidel, mas Juno e Sangue Negro são sensacionais. Cada um em seu estilo, claro.
Que venham os filmes!
Eu adorei A culpa é do Fidel e Sangue Negro, mas achei Juno fraco demais! Completamente superestimado e cheio de excessos.
Seja “bem-vindo de volta”!
Abs!
Superior a “Juno” é o filme romeno “4 Meses, 3 Semanas e 2 dias”, de CRISTIAN MUNGIU. Foge à abordagem sobre gravidez infantil e abordo que o cinema americano tem dado.
“Cloverfield” é uma grata surpresa do ano. Não se trata de uma “Bruxa de Blair” nos trilhos, como dizem. É sobre o fim do mundo,a valorização da vida, das pessoas, do arrependimento de coisas feitas (ou não feitas), sobre a busca de um tempo perdido, etc… Bom cinema.
Desses só não vi A Culpa é do Fidel ! Gostei de todos os outros e, em geral, concordo com suas palavras sobre eles. Sangue Negro é um filme espantoso, que mexeu bastante comigo … Juno é uma graça e Cloverfield é uma experiência bem legal e instigante.
Postei lá no blog sobre Sangue Negro … depois dá uma olhada lá …
Abraços.
Johnny, Juno é daquelas personagens adoráveis que dá vontade da gente conhecer de verdade. E não deixe de ver Sangue Negro.
Então Gustavo, na verdade tava devendo o comentário desses filmes, o texto de alguns, inclusive, já estavam prontos mas só agora deu pra atualizar o blog.
Alex, os problemas não escolhem hora para aparecer, então a gente tem que abrir mão de algumas coisas. Tava morrendo de vontade de voltar ao blog. Sobre seu comentário sobre Juno, gosto da forma como o filme aborda essa relação, principalmente porque surge no final do filme quase como uma surpresa; não imaginava que eles ficariam juntos.
Realmente Cecília, Juno e Sangue Negro sã filmaços, embora o segundo esteja num patamar de grandiosidade maior pra mim.
Que coisa Dudu, a qualidade que eu mais aprecio em Juno é a sutileza, a simplicidade.
Jacques, 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias é um filmaço sim (pretendo escrever sobre ele depois), com uma abordagem bastante realista e até imparcial do tema, mas não acho que a intenção de Juno seja tratar do aborto. Mas concordo que a visão do aborto nos filmes norte-americanos é um tanto estereotipada.
Wallace, parece que pouca gente viu A Culpa é do Fidel, acredito que a distriuição não tenha sido tão grande assim, mas vale a pena. Sangue Negro é grandioso!!