Inimigos Públicos (Public Enemies, EUA, 2009)
Dir: Michal Mann
Michael Mann é o cara responsável por um dos grandes filmes de ação da década passada: Fogo Contra Fogo. Por esse e outro trabalhos memoráveis, esperava bem ais desse Inimigos Públicos, que seria só mais um filme policial, não fosse o talento de Mann em filmar. Em digital, com a câmera levemente nervosa na mão, as imagens focam os atores o mais perto possível. Nas cenas de ação, então, parece que o espectador está no meio do fogo cruzado, que tem lugar na Chicago do período da depressão norte-americana quando o golpista John Dillinger (Johnny Depp) é perseguido pela polícia, sob o comendo do agente Melvin Purvis (Christian Bale).
No entanto, a história não possui a inteligência de um Fogo Contra Fogo, ou mesmo a carga de tensão de um Miame Vice. Os diálogos são batidos e ação se repete constantemente. Marion Cotillard, vivendo o par romântico do vilão (o que humaniza muito o personagem – e não há dúvidas de que ambos estão apaixonados) é a melhor no elenco. Embora o confronto final seja decepcionante, duas cenas merecem destaque: a propaganda contra Dillinger no cinema – com ele na plateia – e a perseguição na floresta. Palmas também para os quesitos técnicos, em especial uma direção de arte caprichada, belos figurinos e um trabalho de som bem bom. Mesmo assim, o filme não chega a ser marcante. Uma pena.
Apenas o Fim (Idem, Brasil, 2008)
Dir: Matheus Souza
Quando eu escrevi sobre O Cheiro do Ralo, falei de como o cinema brasileiro carecia de mais ousadia para fugir de certa mesmice. Pois Apenas o Fim é ousado por apostar na simplicidade de um argumento (o fim do namoro de dois jovens) para compor o filme inteiro com uma última (e longa) conversa entre os dois. E é uma delícia assim. É inevitável não se lembrar de Antes de Amanhecer/Antes do Pôr do Sol, mas o diretor Matheus Souza, que dirigiu o filme aos 19 anos, incluiu, como grande trunfo da produção, uma série de referências pops das últimas décadas, indo desde a Vovó Mafalda, Stars Wars até Trasnsformers.
Seria uma espécie de sopro de renovação, uma experiência simples e muito eficiente dentro de nosso cinema. Para o espectador mais jovem, reconhecer as alusões à cultura pop mais recente é gostosíssimo, à medida que o filme avança com bom-humor, apesar da situação não ser tão agradável assim. Longos planos acompanham os personagens que ora ou outra encontram um conhecido pela universidade (exceto nos flashbacks, filmados em preto-e-branco, o filme foi todo rodado dentro da PUC-Rio). Os atores (Gregório Duvivier e Érika Mader) possuem uma bela química. Mas sem dúvida, só o texto despretensioso de Matheus Souza já vale o ingresso.
PS: Assisti a esse filme quando encontrei uma brecha durante o Seminário de Cinema, entre um Godard e outro. E tem um momento em que o personagem diz que trocaria toda a filmografia do Godard por Transformers!! Ri demais!!!
A Partida (Okuribito, Japão, 2008)
Dir: Yojiro Takita
Muita gente vai dizer que A Partida vence pelo melodrama e por apelar ao piegas. Esse é o tipo de fato que não se pode negar; no entanto, o filme consegue equilibrar tão bem o bom-humor com o tema da morte que quando alcança o lado emocional parece ser sincero, e o piegas se torna consistente. Mesmo assim, nota-se o apelo mais emotivo conquistado pelo filme entre os velhinhos que o agraciaram com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (em detrimento ao realismo de Entre os Muros da Escola). Quando Daigo Kobayashi (Masahiro Motoki) perde o emprego como violoncelista numa orquestra, ele se muda com a esposa para o interior e só consegue trabalho como agente funerário; na verdade ele ajuda a realizar uma espécie de ritual de preparo dos defuntos antes de serem enterrados.
A história traz aquele gosto de coisa exótica através do traço da cultura japonesa em respeitar o momento da morte, que vê aquilo como um rito de passagem. Porém, é interessante notar como muitas pessoas passam a criticar Daigo por seu novo ofício, denunciando certa ocidentalização do Japão. A trilha sonora sabe o momento certo de se inserir, principalmente porque é melancólica e podia soar forçada, mas nunca passa do tom, além de ser belíssima. Com um roteiro redondinho e cheio de boas piadas (embora os atores às vezes exagerem no tom cômico), o filme só alcança o lado sério e emocional na sua parte final. Quando a gente imagina que o filme vai acabar, a história ganha mais uma nuance e nos pega de forma arrebatadora, quando impedir as lágrimas de caírem é praticamente impossível.
Achei o Inimigos Públicos excelente mesmo com o maldito moviecom estragando a experiencia de ver o filme. Devo escrever no blog.
Os outros dois nao vi. O brasileiro perdi na Mostra de SP (teve vida curta por lá) e o japones acabei desistindo, justamente por amigos terem falado tao mal do melodrama.
Respondendo seu comentario la no blog, o doc Grey Gardens anda passando na HBO, por conta do telefilme deles. Acho que passa mais uma vez no mes que vem, perto do Emmy. Ja o Cinzas do Passado Redux ta saindo este mes em dvd. Deixei pra comprar mais tarde pq nao é um filme acessivel.
Abços!
Rafael, "Inimigos Públicos" tem uma técnica excelente, um bom elenco, um ótimo diretor, mas falta algo ao longa. E isso acaba fazendo com que ele não seja a obra memorável que prometia ser.
Quero assistir aos outros dois longas que você cita.
Concordo com o que você diz sobre Inimigos Públicos. Só não gosto dessa humanização do bandido, que ainda ganha um romance barato, quase sendo mostrado como o herói da história. Essa inversão de valores foi o que mais me irritou no filme, apesar de ter gostado muito dos mesmos quesitos técnicos que você.
Apenas o Fim eu infelizmente perdi, quando passou em Brasília. Quero muito assistí-lo, quando chegar em dvd.
A Partida eu achei um dos melhores filmes deste ano. Contive minhas lágrimas, mas o nó na garganta permaneceu forte, mesmo com o subir dos créditos. =)
P.S.: não troco Godard por Transformers de jeito nenhum, mas que bom que a série de posts sobre ele deu uma pausa! Ele não é dos meus diretores favoritos. rsrs
Abraço!
Então Hélio, talvez eu até reveja Inimigos Públicos no Moviecom, mas ainda acho que o filme tem mais forma do que conteúdo. Muito barulho por pouca coisa. E ainda assim é bom, mas não excelente. E recomendo os outros dois, apesar do melodrama de A Partida. Como não tenho TV paga, só baixando Grey Gardens, então. E acabei conseguindo uma cópia bala de Cinzas do Passado Redux na net, mas não me agradou tanto assim.
Kamila, como tava comentando com Hélio, Inimigos Públicos tem mais forma do que conteúdo, a técnica é mesmo excelente, mas a narrativa é por demais repetitiva.
Fred, sabe que essa coisa da humanização do bandido foi o mais interessante do filme para mim, é uma visão diferente e foge daquela coisa do maniqueísmo tão batido nesse tipo de gênero. É porque a relação deles dois é muito verdadeira, apesar dele ser o "mal" da história. Sobre A Partida, eu realmente chorei muito na parte final, não dá para conter. E olha, eu também não troco Transformers por Godard, só achei hilária a colocação, mais como uma forma de fugir da obrigação de sempre gostar dos diretores clássicos. E ele tá longe de ser meu cineasta preferido, mas tem umas obras memoráveis, não dá para negar.
Observando as reações agora que já passou algum tempo, parece claro que INIMIGOS não foi acolhido como um grande Mann. Parece que o roteiro poderia ter sido mais bem cuidado. Pena.
Eu gostei bastante de Inimigos Públicos. O que eu considerei um ponto negativo do filme foi o roteiro mesmo, que dá muito pouco espaço para o desenvolvimento dos personagens de Bale e Cotillard – ainda que ela seja brilhante em todas as cenas em que aparece.
Não é um filme excelente, mas ainda tá na minha memória.
Gustavo, mas eu ainda vejo muita gente falando muito bem do filme. E sim,o roteiro parece um tanto preguiçoso em muitos momentos.
Diego, o que ficou na minha memória foram as cenas que citei no texto. E como gosto muito de todos os outros filmes do Mann, esse parece que vai ficar relegado a segundo plano.
Acho Inimigos Públicos um dos filmes do ano. E preciso assistir aos outros dois, especialmente A Partida.
É, pelo seu texto deu pra notar isso, Wallace. Mas não vejo tantas qualidades assim no filme. Talvez do Mann esse seja o menos legal que eu assisti.