Dir: Mike Leigh
Vindo de Mike Leigh, cineasta inglês com gosto por dramas (como o excelente O Segredo de Vera Drake), Simplesmente Feliz já seria um corpo estranho em sua filmografia por ter a comédia como gênero. Mas é mais estranho ainda por conta de sua protagonista, a supra-alegre professora de escola primária Poppy (Sally Hawkins) que parece carregar a palavra “felicidade” na testa. Nada consegue abalar seu jeito feliz de viver. Fácil assim. Durante suas aulas de direção, ela vai conhecer o impaciente instrutor Scott (Eddie Marsan), seu extremo oposto. Surge daí o confronto máximo do filme: a animação irresponsável de Poppy versus o nervosismo moralista de Scott. Com essa narrativa, Leigh nos fala da felicidade como forma de encarar o mundo, de lidar com os problemas, como filosofia de vida. Chega a ser contagiante. O texto, ao mesmo tempo que nos apresenta essa ideia, também é bastante leve e possui tiradas bem engraçadas. E não só Sally Hawkins merece destaque por sua incrível atuação, como também Eddie Marsan pela construção de um personagem prestes a explodir (o que acontece numa seqüência excelente perto do fim). Vale lembrar que música, direção de arte e figurinos também ajudam a compor o mundo animado e aparentemente inabalável de Poppy. Simples como a felicidade.
Operação Valquíria (Valkyrie, EUA/Alemanha, 2008)
Dir: Brian Singer
O início de Operação Valquíria me incomoda muito ao apresentar um personagem totalmente caricatural, que se utiliza da figura de um heroi pomposo, justo e destemido, ganhando no rosto de Tom Cruise uma expressão de dureza inabalável. Ele interpreta o coronel Claus von Stauffenberg que se alia a um grupo de conspiradores do regime nazista, descontentes com a política autoritária e desumana do partido governante. No entanto, esse incômodo inicial foi dando lugar ao desenvolvimento da história que se detém em narrar os planos arquitetados para assassinar o füher, de forma correta e sem complexidades na trama. Tudo parece estar em seu lugar, menos a cara de bravura que Cruise carrega durante todo o filme, sem nada mais a oferecer. O elenco de apoio ajuda bastante, como a vitalidade de Tom Wilkinson, a expressividade de Bill Nighy e o empenho de Kenneth Branagh. Por mais que a sequência do atentado seja repleta de suspense, e os acontecimentos posteriores também, uma cena marcante no filme é aquela que mostra Stauffenberg, que nunca durante a narrativa fez a saudação pública a Hitler, é obrigado a executá-la. Mas como ele não possui a mão direita, perdida durante uma missão no norte da África, a saudação é imperfeita, incompleta, como uma bela maneira de demonstrar toda sua desaprovação pelos atos de seu governo.
Fôlego (Soom, Coreia da Sul, 2007)
Dir: Kim Ki-duk
O último filme de Kim Ki-duk possui muito do que já se viu em seus filmes anteriores: personagens perdidos e em busca de sentido para suas vidas, narrativas silenciosas, dramas interiorizados, perfeição estética e poesia visual. Aqui, conhecemos Yeon (Park Ji-a), uma mulher que vive um casamento amargurado e, numa atitude sem explicações, passa a visitar Jin (Chen Chang), um presidiário suicida preste a ser executado. O que em muitos dos filmes anteriores do diretor soa bastante poético, como em Casa Vazia e O Arco, aqui adquire momentos de pura estranheza, como quando Yeon passa a visitar Jin na cadeia, e, decorando a cela de visitas com temas referentes às estações do ano, canta esganiçadamente canções que simbolizem cada estação. O filme caminha para um final que prevê desde o início a desagregação familiar, mas com o qual o diretor sabe fugir do clichê e surpreender da forma mais madura possível, sendo bastante justo com seus personagens.
Eu quero tanto assistir “Simplesmente Feliz”. Acho que devo gostar desse longa.
“Operação Valquíria”: eu gostei bastante desse filme. Elenco ótimo, boa direção e uma história que mantém o clima tenso do início ao fim.
“Fôlego” foi o primeiro filme do Kim Ki-Duk que assisti. Achei interessante, mas não excelente. Me disseram para conferir outros filmes do diretor que eu poderei gostar mais.
Depois de ver VERA DRAKE, a maestria de Leigh não precisa de mais nada para ser reconfirmada – mas FELIZ é bastante convidativo (desde a premissa aos pôsteres e trailers).
Kim Ki-Duk é um cineasta de grande prestígio cuja obra ainda desconheço, e pouco tinha ouvido falar desse FÔLEGO (e sim CASA VAZIA e o das estações). A conferir.
Ei, depois de ver um filme do Kim-ki-duk só de falar dele, já parece ser coisa boa. Quero conferir… (3 estrelas???)
O simplesmente feliz cumpre sua missão muito bem e com louvores. Poppy tem uma magia muito muito boa… (Não tem como esquecer das cenas do retrovisor! Tem?!)
São três filmes que estão na minha listinha de próximos filmes a ver! Obrigado pelas críticas!
Kamila, acho Operação Valquíra uma história bem contada, mas tensão mesmo para mim só aparece no final. E Fôlego não é mesmo o melhor do Kim Ki-duk, Casa Vazia, Primavera, Verã, Outono, Inverno e … Primavera e, principalmente, O Arco merecem muito serem vistos. Assim como Simplesmente Feliz, um filme contagiante.
Gustavo, antes desse Simplesmente Feliz eu só tinha visto também o Vera Drake. O cara é muito bom. Vi recentemente Agora ou Nunca, também é um drama de primeira, embora um pouco irregular. Meu próximo será a Palma de Ouro que ele conquistou com Segredos e Mentiras. E esses dois filmes do Kim que você citou são mesmo ótimas obras dele, foram eles que recomendei para a Kamila, mais o melhor do diretor para mim: O Arco.
Hiiii, Elizio, lá vem você com essa crise de estrelas. Fôlego é bom, mas não chega aos pés dos outros filmes do Kim. E Simplesmente Feliz é ótimo, mesmo com as 3 estrelas e meia. Agora, err… não tô lembrado desa cena do retrovisor, não (!!!).
Todos os 3 são muito bem recomendados, Filipe.