(Sangue del Mio Sangue, Itália/França/Suíça, 2015)
Existe qualquer coisa de muito vigoroso nas narrativas que o mestre italiano Marco Bellocchio constrói, especialmente quando algo, de imediato, irrompe em seus filmes. Sangue do Meu Sangue tem a mesma força criativa, sem exasperação, mas com uma história que promete alguns abalos inesperados – inclusive temporais, mas não só isso –, mirando, inicialmente, na hipocrisia da Igreja Católica em relação aos desejos carnais e à noção de pecado.
A trama se passa lá nos idos do século XVII quando um monge comete suicídio e, por conta disso, não pode ser enterrado com as bênçãos da Igreja, a menos que sua amante, a freira Benedetta (Lidiya Liberman), confesse os pecados que cometeram para que sejam perdoados.
O filme acompanha os meandros do jogo religioso que abafa seus escândalos, observados de longe pelo irmão do monge que tenta arrancar de Benedettta a confissão, apesar dela querer arrancar outra coisa dele. Mas toda essa situação parece muito pouco para o cineasta. Ou antes, a denúncia das luxúrias na rotina religiosa pode soar, de alguma forma, já desgastado.
Isso porque aquilo que está no cerne do filme – ou o ponto onde ele quer chegar, por assim dizer, nunca explicitado de modo frontal – é resgatado justo nos momentos finais da película –, o êxtase que faz muita coisa fazer sentido. Ali Bellocchio acredita no desejo como força de vida (divina?) para o ser humano, para a vitalidade do corpo e da alma. Não é à toa que o vampiro ancião passa a perceber sua decadência e entende que, mesmo para ele, o tempo passa e é cruel, sendo preciso ceder lugar ao ímpeto da juventude, porque esse, sim, renova e é mesmo capaz de matar o que está antigo. Para Bellocchio, o desejo salva.