Tropa de Elite (Idem, Brasil, 2007)
Dir: José Padilha
Já no documentário Notícias de uma Guerra Particular, de João Moreira Salles e Kátia Lund lançado em 1999, o então capitão do BOPE Rodrigo Pimentel (um dos roteiristas do filme junto com Padilha e Bráulio Mantovani) faz um depoimento alarmante dizendo estar cansado de tanta violência e de nunca a situação se resolver ou minimizar: “Eu estou participando de uma guerra, acontece que eu tô voltando pra casa todo dia” (Veja aqui). Afirma ainda não ver uma solução para aquilo (Aqui).
Assim, acompanhamos a história do Capitão Nascimento (Wagner Moura) que, ao mesmo tempo em que é obrigado a participar de uma operação da qual não acredita no sucesso, procura um substituto para deixar o batalhão, pressionado por sua mulher grávida e pelos problemas de saúde pelos quais está passando. Dois dos possíveis substitutos, Neto (Caio Junqueira) e Matias (André Ramiro) tentam passar pelo rigoroso e duro treinamento, mas a sua honestidade e senso de justiça passam por uma incompatibilidade dentro do sistema policial.
Cada um ali precisa preservar e aceitar as normas de conduta ilícitas como algo normal, até porque possuem um superior que conta com a cooperação de todos para que nada saia do “controle”. O meio condiciona as ações das pessoas que se vêem cercados por um sistema corrompido e nem se dão conta do momento em que começam a comungar integralmente com aquilo (assim como acontece muitas vezes na política). Ou entra na roda ou sai da brincadeira.
Intensamente atuado, o filme conta com um time de atores que se entregam totalmente aos seus personagens, inclusive fisicamente. Wagner Moura se destaca pela força e onipotência que confere a seu personagem, em contraponto aos momentos de reservada fragilidade. Tecnicamente, o filme também possui grandes méritos. A câmera na mão transmite intranqüilidade e tensão o tempo todo, auxiliando no mal estar de presenciarmos situações tão desagradáveis. A fotografia ganha cores quentes e fortes sempre que as ações acontecem dentro da favela e a trilha ao mesmo tempo em que ambienta o espectador, confere força e agressividade às situações.
Só não me perguntem cadê a solução, essa está cada vez mais difícil de se encontrar. As instituições que deveriam nos proteger também são aquelas das quais precisamos nos defender. Osso duro de roer mesmo.
PS: Hoje, dia 5 de novembro, é comemorado o Dia do Cinema Brasileiro. Nada melhor do que festejar essa data felicitando um dos melhores filmes nacionais do ano. Inclusive, que ano bom para o nosso cinema. Tivemos ainda O Cheiro do Ralo, Saneamento Básico, Antônia, Batismo de Sangue, Cão Sem Dono e tantos outros. Que continuemos assim.
Legal o levantamento q tu fez..não ficou só na técnica do filme, considerou o sentido e o colocou na situação que realmente existe, não que Tropa de Elite seja a ficção nessa história! Pelo contrário…é o caminho mais claro da verdade, da vergonha realidade!
Um dos melhores filmes do ano…mto bom!
aBraço!
Oi rafa!!!
O senhor é um fanfarrão seu rafa!
Fez um texto muito bom!!!
Adorei a relação entre os filmes que nos tranmitem esse recorte da realidade e, mais do que onibus 174, tropa de elipe me remeteu diretamente a Notícias de uma guerra…e o mais chocante disso é que o tempo passa, os filmes vão ficando antigos, mas nunca ultrapassados já que a realidade não muda.
Abraços!
Olá Rafa!!
Até que enfim eu aqui!
Muito bom o texto, viu (tbm ficou lendo Ruy Castro… rsrsr.
Muito bom considerar mais do que a técnica ou a linguagem do filme, mas entendê-lo por sua “pegada sociológica”. Pena o tema abordado com maestria por Padilha não ser uma mera ficção…
Grande Rafa!!
Eu gostei de Tropa de Elite, mas tenho cá minhas predileções no cinema nacional, ainda q pelo modismo de Tropa de Elite(q tenho profundo respeito) ele seje mais comentado do q outros q admiro mais.Não acho o Padilha tão diretor quanto o Meirelles ou o Walter Salles, principalmente este último de quem sou fã.Abril despedaçado e Central do Brasil são meus preferidos.
O ano tem sido bom para o cinema brasileiro. Temos tido lançamentos bem interessantes. Até agora, o melhor de todos é “Tropa de Elite”. Um filme tecnicamente perfeito, com ótimas atuações e com um roteiro que toca nos maiores problemas de nossa sociedade: a corrupção e a violência.
Filmes como “Tropa de Elite”, que refletem e fazem refletir, deveriam ser maioria em nosso cinema.
Diz rapaz
tudo tranquilo …
vendo Tropa de Elite muito antes do furor funcionou como um belo exemplar de filme de ação e drama. mas com a sociedade sempre questionando sobre a questão ética dos orgãos publicos, o filme se tornou objeto de estudo de sociologicos e de estudantes de direito sobre como podemos melhorar a sociedade …
mas antes deveriam ver Visitor Q para aprender uma coisa … questione a si mesmo para questionar os outros …
e sim … 5 de novembro … o dia do cinema brasileiro … deveria ser todo dia com preços acessiveis e filme bons (quando digo filme bom não é essas merdas da globo filmes faz) e se tivesse isso … poderemos ter a certeza … o cinema nacional vai pra frente.
pronto, comentei.
Obrigado Andressa, Wiliam e Cássia pelo elogio ao texto, é quase impossível falar de Tropa de Elite e não consideerar toda a discussão que o filme sucita.
E Wanderley, se Tropa de Elite é um dos melhores filmes brasileiros do ano isso não quer dizer que o Padilha pode ser comparado com o Meirelles e principalmente o Walter Salles que é o diretor brasileiro que eu mais adimiro.
Bem colocado Kamila, filmes que fazem refletir não são tão comuns no nosso cinema. Mas este tem crescido muito, e o ano foi bastante proveitoso nesse ponto.
Tranquilo Johnny, não vi ainda Visitor Q mas questionar a sociedade não seria questionarmos a nós mesmo, já que a compomos? E temos muitos filmes bons, falta espaço para eles.
Volte sempre que quiser Cassinha. E de qualquer forma, obrigado pela presença seu Zé. Abraço a todos!!
Sua resenha ecoa meus pensamentos sobre o filme.
Padilha soube direcionar seu olhar para as diversas mazelas que enfraquecem o sistema, não se esquecendo inclusive de apontar o dedo para a própria sociedade. É uma obra forte, mas nunca gratuitamente agressiva. Entretém e toca aspectos sensíveis de nossa sociedade.
muito bom o texto
demorei pra assistir ao filme, pensei q me decepcionaria, mas não… é um bom filme
a câmera na mão foi uma ótima sacada
e nos poupar de algumas imagens também… grande abraço rafa