Biutiful (Idem, Espanha/México, 2010)
Dir: Alejandro González Iñárritu
Assim, Biutiful parecia ser uma investida por novos ares. Diferente dos demais, o diretor se apega a esse personagens com todas os obstáculos que ele traz. Se por um lado isso é bem agradável, o resultado não é dos mais satisfatórios. A história parece perdida em suas próprias possibilidades, que se abre para muitas nuances e oportunidades, mas são bastante mal aproveitadas.
Dessa forma, o filme acaba forçando situações que se querem profundas e carecem de maior desenvolvimento. Talvez a maior delas seja o dom de Uxbal de se comunicar com os mortos, muito embora a prática não lhe agrade tanto (mesmo que tenha de se servir dela para conseguir uma grana extra). O fato de estar perto de morrer torna tudo mais interessante, mas o filme parece se esquecer disso, dando pouco valor a essa questão, tratando-a como um simples detalhe.
Já outras situações beiram a gratuidade, como o relacionamento gay entre os chineses donos da fábrica ou o caso da ex-mulher de Uxbal com seu irmão ou a relação nunca muito clara com o pai já falecido. Na realidade, o filme faz seu protagonista passear por várias situações complicadas sem nunca aprofundar um ponto específico, em busca de uma certa poesia alcançada através da brutalidade. Cansa um pouco.
E Iñárritu filma bem, com uma câmera nervosa na mão, sem chamar muita atenção para si mesma, que condiz muito bem com a situação limite de seu protagonista. Há ainda o fator humanista que sempre se faz presente em seus trabalhos, com destaque para os trabalhadores ilegais que tentam sobreviver nas grandes cidades europeias, muito embora o filme sabe ser duro com seus personagens. O grande problema de Biutiful é que ele aposta demais na força de sua história, sem desenvolvê-la.
É possível dizer, então, que a maior força do filme reside na atuação potente de Javier Bardem. O ator confere nuances ao protagonista, um grande e complexo personagem, sem torná-lo maniqueísta em momento algum. Transita do mais cruel ao mais arrependido, sem nunca forçar. E merece palmas também Maricel Álvarez, como a ex-mulher de Uxbal, passeando entre o desequilíbrio e o carinho pela família.
Começando como uma bela promessa de novos ares e expondo cada vez mais um projeto frouxo, Biutiful desperdiça duas horas e meia de duração. Em vários momentos, a história promete engatar, mas não passa disso. Existe muito coração em todo o filme, mas não segura sua narrativa. É tão falho quanto a grafia acidental do título.
Sou daqueles que, apesar de reconhecerem os problemas do cinema do Iñarritu, ainda assim curtem seus filmes. Gosto muito de AMORES BRUTOS e enxergo qualidades em 21 GRAMAS e BABEL. E aguardo ansiosamente por esse BIUTIFUL, até pela presença geralmente marcante do Bardem em cena.
Quero ver este filme por causa dos dois profissionais principais envolvidos nele. Mas, a impressão que me dá é a de que o Inarritu, desde "Babel", perdeu muito a mão…
Wallace, por mais que a atuaçao do Bardem seja realmente impressionante, uma das melhores de um ano que promete, achei o filme muito solto, como que atirando para vários lados. Imaginei que o Iñárritu fosse se recuperar com esse filme, um decepçao. Mas veja e depois volte aqui para dar sua opniao.
Kamila, nao sei se o diretor tenha perdido a mao, acho que ele filma muito bem, aqui até melhor do que em Babel, mas a história nao ajuda muito, acho por demais solta, atirando para vários lados. Ele precisa de um bom texto. Mas o Bardem é a alma do filme, com cereteza.