Entrevista com Cláudio Assis

Por Fernanda Castro e Rafael Carvalho

Um cineasta provocador. Assim pode-se definir o pernambucano Cláudio Assis. Mesmo ainda em seu segundo longa-metragem, ele já deu o tom de seu trabalho ao fazer filmes de forte crítica social, como em Amarelo Manga. Eu e minha colega Fernanda falamos rapidamente com ele que compareceu na noite de quarta para apresentar seu visceral Baixio das Bestas.

De onde surgiu a idéia de realizar Baixio das Bestas?

Surgiu há muito tempo. Quando eu tava fazendo Amarelo Manga, a gente teve essa idéia. Partimos para fazer A Febre do Rato, mas resolvemos fazer o Baixio. O Amarelo Manga é um filme mais urbano, totalmente urbano, e a gente resolveu fazer esse na Zona da Mata, que é um lugar onde ninguém nunca filmou, na zona canavieira. O único filme que fala dessa região é o Menino de Engenho do Walter Lima Jr., mas é um filme inocente, meio romântico. Também a idéia era outra, baseada na história do José Lins do Rego.

O senhor falou que tinha um filme que ia fazer…

Senhor é a puta que o pariu, pode colocar isso aí.

Perdão, é o costume. Mas tem um filme que foi interrompido, você disse, vai ser retomado?

É A Febre do Rato. Estamos somente em fase de captação de recursos.

O Amarelo Manga é um filme forte e o Baixio das Bestas também segue essa mesma fórmula. Por que esse tipo de cinema?

Porque é o que eu sei fazer. O cinema é feito para pensar, para discutir e não para ficar brincando somente de triângulo amoroso. Já tem muita novela da Globo fazendo isso. Acho que o cineasta tem que fazer uma coisa mais séria, mais honesta.

Mas é um pensar mais forte para o público; você provoca na verdade.

Eu quero que o público pense. Para mim, cinema que se preza é feito para pensar. Você sai da sala sem saber nada, sem pensar nada, não interessa.

Você acha que no Brasil faltam filmes assim com essa temática mais forte?

Sim, falta. Mas acho que está vindo uma geração aí fazendo um bom cinema. Existe, é lógico, os da Globo Filmes, da Conspiração, etc. Mas tem uma galera fazendo bons filmes e está mudando a cara do cinema brasileiro.

Esse tipo de cinema é mais difícil para o público receber por ser até mais verdadeiro e as pessoas não estão acostumadas a outro tipo de cinema no Brasil.

Não, não. Existe um público que é viciado, porque esses meios de comunicação incitam um olhar. Mas não é por conta disso. O cinema nacional só não é mais visto porque não existe divulgação, não existem salas de cinema populares. Nós colocamos R$ 200 mil para divulgar o filme. Quando vem a Globo Filme e põe milhões, vem uma major, uma empresa internacional e lança um filme no Brasil como O Homem-Aranha com 700 cópias. A gente lança com 10, outros filmes brasileiros são lançados com quatro cópias, então ninguém vai ver o filme. Não que o povo não vá. O Amarelo Manga nós colocamos a entrada a um real durante nove dias e deu 13 mil pessoas. Porque era um real. Agora a R$ 15, em alguns lugares é R$ 30, o público prefere passear no shopping.

Como surgiu a parceria com o Hilton Lacerda (roteirista de Amarelo Manga e Baixio das Bestas)?

A gente trabalhou no Texas Hotel (curta-metragem de 1999), e somos amigos. E é ele quem está roteirizando A Febre do Rato também.

A que se de a força do cinema Pernambucano que está crescendo tanto no Brasil?

A gente luta muito. É algo que vem de mais de 15 anos de luta. E o filme a gente faz com vontade, com querer, levando a sério. Não estamos pegando dinheiro público para fazer mercantismo, é para fazer cinema honesto, por isso nosso cinema é verdadeiro. E isso acontece em várias artes, não só no cinema. Na música, nas artes plásticas. As pessoas levam muito a sério o que fazem.

E tem boa aceitação nos festivais tanto aqui no Brasil como fora do país.

Sim. Baixio das Bestas foi premiado na França, e em Rotterdã, com o Tiger Award, primeiro filme brasileiro que ganhou o prêmio. E assim vai, está sendo vendido para a Espanha, Alemanha, Itália. E o público de lá adora. É sensacional.

8 thoughts on “Entrevista com Cláudio Assis

  1. Gostei da entrevista, infelizmente ainda não vi nenhum dos filmes do cineasta. E ele está certo, apesar de muitos filmes que deixam a desejar, tem alguns cineastas que se empenham em fazer um cinema nacional que se preze.

  2. Bem Romeika, recomendo os filmes do Assis até porque seu cinema é bastante visceral, coisa pouco vista no cinema nacional. Mas seus filmes são pesados e duros. Não é qualquer um que gosta desse tipo de filme. Eu não sou um grande entusiasta.

    obrigado Kamila. A entrevista foi rápida, mas deu para perceber o quanto ele se apega a esse tipo de cinema mais forte e contundente. Mas confesso que não sou tão fã assim do trabalho dele. Espero que ele evolua nesse sentido.

  3. Sem querer ser chato(mas já sendo) deve-se ter cuidado com o termo evoluir, já que o cinema de Assim é algo bastante autoral, é a sua visão que está representada na tela. Este modo de fazer filmes não pode ser avaliado como bom ou ruim, mas como “me agrada” ou não me agrada”

    hehehehe

    Me desculpe, não resisti e tive que postar isso.

    Gustavo Madruga

  4. Rafael Carvalho: como assim evoluir?
    Como disse o Cinema Oba, cuidado com o termo. 😉
    O cinema de Assis é visceral e denso, confesso que me assustei com o Baxio das Bestas. Me admira que um cineasta aborde determinados temas como ele faz. Eu o aplaudo.

  5. Então Michele, acho que sempre é preciso ter cuidado com os termos que a gente usa. Mesmo assim, acredito que "evoluir" ainda é a palavra que eu usaria para o cinema que o Assis faz porque, apesar do esmero estético desse último filme (que melhorou muito em relação ao anterior), acho que ele ainda se apega a um cinema de choque que poderia ser muito mais profundo em sua abordagem.

    Essa, claro e evidente, é minha visão sobre a obra dele e sei que muita gente o venera. Mas realmente espero que o projeto de cinema dele tome mais forma e se fortaleça como narativa.

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