Dir: Niels Arden Oplev
Incrível como me bateu uma forte impressão de história mal adaptada depois que eu vi esse Os Homens que Não Amavam as Mulheres, muito embora eu nunca tenha lido uma linha sequer do livro original em que se baseia o filme (faz parte da Trilogia Millennium – já encaminhada para o cinema – que faz enorme sucesso na Suécia).
Comparações pouco positivas com os livros de Dan Brown que ganharam as telonas (O Código Da Vince e Anjos e Demônios) só reforçam o sentido negativo que o projeto possui. Então, uma pergunta: por que adaptar um material desse? Resposta: faz sucesso e vende ingresso. Até mesmo na Suécia!
O problema do filme é que ele parece depender demais de coincidências e acasos para resolver sua trama de mistério que nem envolve tanto mistério assim. O jornalista Mikael (Michael Nyqvist), acusado por calúnia e difamação, é contratado por um rico empresário para desvendar o misterioso desaparecimento de sua sobrinha, há 36 anos antes. Ele, então, viaja para a ilha onde a moça foi vista pela última vez e vai contar com a ajuda de uma investigadora (Noomi Rapace) bastante peculiar em seus métodos.
Existe ainda uma enxurrada de personagens que o roteiro não dá conta de desenvolver satisfatoriamente pelo simples fato de serem muitos. As histórias de alguns deles nem soam tão interessante assim, ou pelo menos não parecem ter tanta importância na trama. O jornalista, por exemplo, enfrenta um caso na justiça, que logo é totalmente esquecido pelo roteiro. A ajudante dele mantém uma relação de dependência com um homem mais velho que chega ao ponto de sadomasoquismo, mas não contribui em nada com o andar da narrativa.
E a própria investigação do desaparecimento parece um tanto desamarrada porque os personagens precisam fazer elucubrações mirabolantes para alcançar determinadas conclusões (sempre certeiras). Sem isso, o filme não conseguiria avançar, mas é uma pequena que o jogo de descobertas e intrigas seja tão frustrante.
Por isso mesmo, quando o filme aposta na atmosfera de mistério, é difícil criar identificação e curiosidade para novas reviravoltas. A narrativa segue cansativa em suas quase 2 horas e meia, embora exista bons momentos de suspense em algumas partes do filme.
Nesse sentido, o filme transcorre como uma sucessão de fatos que precisam se encadear somente, sem transparecer aquela vontade de contar bem uma história, explorando os recursos do audiovisual. Enfim, falta amor.
PS: O pior de tudo é saber que o filme já tem uma refilmagem garantida em Hollywood, não se sabe com que propósito se esse filme já possui um apelo tão comercial. E o diretor é David Fincher. Será que ele tá precisando tanto assim?
Há meses tenho vontade de ver, mas tenho lido poucas críticas. Espero que não fique decepcionado como você.
E Fincher é um cineasta original, estranho ele voltar aos remakes…
Eu também não li o livro, mas escrevi a crítica do filme para o JB. Se a adaptação cinematografica for fiel ao texto original, deus me livre de ler essa porcaria. O filme é um amontoado de clichés em um roteiro que não dá conta de contar a história de maneira clara. Lixo cinematográfico. O remake tme tudo para acabar com a carreira de David Fincher.
Abs!
Seu texto me desanimou um pouco, mas ainda pretendo assisti-lo em breve. E refilmagens de trabalhos recentes costumam me chatear um pouco… tudo bem que é o Fincher, daí pode sair algo legal. Basta lembrar um outro caso semelhante, o do Scorsese refilmando Conflitos Internos, e gerando a obra-prima Os Infiltrados.
Fui lendo sua postagem e concordando com várias de suas observações. Mesmo assim, gostei do filme.
Logo no início, estranhei a música de fundo, mas, assim que me desliguei dela, mergulhei na história, simpatizei com os protagonistas e torci bastante.
Vou ver o resto da trilogia com certeza! Desconfio que o fato de ser falado numa língua que desconheço, conta vários pontos a favor do filme.
Gustavo, veja por curiosidade, talvez te agrade o filme. Sei de muita gente que gostou. E essa do Fincher era desnecessária, né!
Assino em baixo, Dudu. Material pobre esse do filme, o tipo de coisa que parece funcionar muito melhor no papel do que na tela. Só espero que a carreira do Fincher não seja amaldiçoada com esse remake.
Ótima lembrança essa sua, Wallace, do remake de Conflitos Internos. Mas David Fincher não é um mestre como Scorsese. Só espero que ele consiga fazer algo muito melhor do que o filme original.
Como assim, Stella? Mesmo assim gostou do filme? Acho que todas essas coisas enfraquecem muito a experiância do filme, ainda mais pela duração excessiva. E eu provavelmente também vou ver os outros filmes da trilogia, mas já com pé atrás. É inevitável! Também não entendi por que um filme falado em língua desconhecida já ganha pontos a favor!
Talvez nem saiba te explicar direito, Rafael, mas é um fato que adoro linguas estrangeiras. Aproveito os filmes para tomar conhecimento de novos lugares e culturas. Se um filme é falado em farsi, ucraniano ou dinamarquês já me torna mais benevolente e predisposta a gostar.
Em compensação, se for dublado em outra língua, desperta minha ira ensandecida. Sinto-me traída. Maluquice talvez, mas acho um desrespeito à interpretação dos artistas. Dublado, só desenho animado! 😉 Um abraço.
Rafael, depois de você ter visto este filme no topo da minha lista de favoritos do primeiro semestre deste ano sabe que irei discordar, né? Rs.
Comprei o livro "Os Homens que Não Amavam as Mulheres" assim que assisti "A Rainha do Castelo de Ar". Estou quase na metade, falta tempo para continuar a leitura. Até então, sua adaptação é 100%, condensando uma narrativa bem detalhada em duas horas e meia. Compreendi o seu estranhamento em relação do volume de personagens, mas garanto que os episódios seguintes se aprofundam bastante nos protagonistas, especialmente na Lisbeth Salander. A sócia (e amante) do Mikael também terá bastante destaque, bem como sua irmã no terceiro filme.
Enfim, achei uma trama investigativa genial ao ponto de dar nó em todas as pontas soltas. Agora não sei se você terá interesse em acompanhar a trilogia quando a Imagem Filmes lançar em DVD os dois próximos episódios.
Já sobre a refilmagem americana eu só lamento. Além de totalmente desnecessária, só confirma o que acho de David Fincher: um diretor medíocre!
Interessante essa coisa da língua, Stella, também me interesso por filmes de línguas estrangeiras, mas mais pelo fator exótico e por não termos muito contato cm filmes de outras nacionalidades. Na verdade, eu sempre tento ver filmes dos mais diversos lugares do mundo, quando possível. Mas, no fundo, o resultado final do filme é o que conta, a língua não me deixa mais predisposto a gostar do filme. E essa coisa da dublagem não é maluquice, não! Filme dublado devia ser crime! O filme perde parte de sua essência, de seu valor original, fica sem graça, falso, dá uma sensação de desconforto. Enfim, é um horror!
Realmente Alex, imaginei que você viria defender o filme. A trama investigativa, realmente, é muito boa, a idéia de investigar um desaparecimento ocorrido há tanto tempo é bem instigante, mas o filme vai precisar se apegar demais a coincidências para desenrolar esse novelo de intrigas e aí bate aquele desânimo. E por mais que você diga que nos outros filmes os personagens vão ser melhor desenvolvidos, acho que o filme deve se bastar por ele mesmo, sem precisar depender de um complemento para “melhorá-lo”. Mas com certeza vou querer ver os demais filmes da trilogia e torço para que se saiam muito melhores do que esse ponto inicial.
Bom, li o primeiro livro e estou no começo do segundo. O filme deixa mesmo a desejar, o suspense é melhor desenvolvido no livro. E sim, a trama que o filme esquece (do jornal) está bem explorada no livro, aliás muita coisa do acerto com o rico empresário é alterada no filme. A resolução do mistério também é mais trabalhada e faz mais sentido, apesar de ser a mesma resposta (com uma única pequena diferença).
Apesar de não gostar dessa onda de remake dos Estados Unidos a filmes estrangeiros recentes, estou até curiosa com o que farão com esse. Quem sabe sai algo mais fiel a obra original…
abraços
Tá vendo, Amanda, essa coisa de adaptar materiais literários nem sempre dão certo porque não é tarefa fácil fazer essa transposição. E eu acredito que o filme deve falar por si só, sem depender de outros materiais. A onda de remakes norte-americanos só contribui para esse subaproveitamento das histórias.
E pareça mais vezes por aqui. Abraço!
Rafael, eu concordo e discordo de você ao mesmo tempo. Não há dúvidas de que um filme deve depender de si mesmo e não de outras sequências, mas como a trilogia "Millenium" foi escrita sem qualquer pausa é possível concluir de que um capítulo depende muito do outro. Os filmes seguem a mesma ideia, sendo todos os três filmados em 2009 na Suécia.
Não gosto de fazer comparações entre obras literárias com suas adaptações cinematográficas. Filmes e seus remakes vá lá. Mas já que a Amanda tocou no assunto, também vou discordar. Já pude ler "Os Homens que Não Amavam as Mulheres" e os pontos mais frágeis da narrativa foram melhorados no filme. Exemplo disto é o acidente automobilístico do clímax, a situação onde Lisbeth Salander tem o seu laptop quebrado e até mesmo a personalidade da própria personagem. Há situações no livro onde Salander se comporta de maneira totalmente infantil enquanto no filme a personagem é um pouco mais fascinante. Mas também é um mérito da grande performance de Noomi Rapace, que realmente deu o sangue pelo papel.
Enfim, espero que a Imagem Filmes lance logo o DVD para venda no mercado. ^^
Alex, acho que essa coisa da comparação sempre vai ser inevitável, é difícil esquecer completamente de um livro quando vemos o filmes (e olha que eu nem li o material original, nem pretendo). E entendo também essa questão da história dos três livros/filmes estarem entrelaçadas, mas mesmo que determinado ponto vá ser melhor desenvolvido nos outros textos, não deixa de ficar um buraco na história, o que me causa logo estranheza.
Além disso, o próprio mistério que se soluciona e se encerra no primeiro me soa mal resolvido, apressado, sem muita consistência. Esse é o principal problema do filme, a meu ver.