Dir: Claudia Llosa
Vindo de um país que não possui tradição alguma no cinema, como o Peru, é de se louvar o lançamento de A Teta Assustada, filme inusitado que trata de temas pertinentes à história de seu país sem ser direto ou panfletário. Mais importa à diretora Claudia Llosa se apegar a um estudo intimista de sua personagem principal.
A jovem Fausta (Magaly Solier), de traços indígena, acaba de perder a mãe e ao mesmo tempo em que busca conseguir dinheiro para enterrá-la na capital, Lima, tenta esconder sua doença da teta assustada, enfermidade mítica passada para as filhas pelas mães que sofreram abusos sexuais durante a guerra do terror no Peru. Com medo de serem estupradas, as mulheres “contaminadas” pela doença carregam uma batata na vagina!
É a partir dessa estranheza que o filme revela a fobia social que toma conta de Fausta. A doença nada mais é do que um trauma psicológico que afeta mulheres, como não podia deixar de ser. Existe no filme toda uma atmosfera muito feminina, mas nunca idealizada, e sim pertinente ao feminino enquanto contraponto à brutal e violenta situação de Fausta.
No entanto, o grande impasse do filme reside na sutileza, ora tão bem explorada, ora fazendo muita falta. A ausência da figura paterna, o grande receio de Fausta às investidas masculinas e a forma como a história revela certo modo de vida dos habitantes pobres no interior do país, incluindo aí seus rituais de festividades (presença já marcante no primeiro filme de Llosa, o razoável Madeinusa) surgem com bastante propriedade na narrativa sem nunca soarem forçados.
Mas a história peca ao não procurar conferir consistência ao drama da protagonista. Se a descoberta da doença é logo despejada no início do filme, o decorrer da narrativa não faz muita coisa para reforçá-lo e, assim, criar mais nuances, como se o roteiro simplesmente se esquecesse desse detalhe (da mesma forma que esquece do corpo embalsamado da mãe). O filme ainda envereda por um segmento em que Fausta vai trabalhar na casa de uma madame, desviando por um bom tempo o foco da história.
Mesmo assim, existem boas ideias no filme referentes às formas utilizadas pela protagonista para se proteger do trauma. A batata na vagina e as raízes que consequentemente brotam dela só reforçam a bizarrice de uma situação já estranha por si só. Há também o uso da música pela personagem como forma de se acalmar, sendo inventadas na hora, o que não deixa de representar também a cultura oral de origem tão antiga. Reforça essa idéia o fato de serem catadas em quíchua, língua nativa indígena, própria da região dos Andes, que transparece a descendência dos personagens.
E as cantigas que vão sendo construídas ao longo do filme são reveladoras das dores e más lembranças de sua protagonista. Claudia Llosa fez um filme que se pretende delicado, mas toca em questões duras referentes à história de violência contra a mulher em seu país. A partir de seu reconhecimento internacional (a partir do Urso de Ouro conquistado em Berlim), fica a esperança de mais obras autorais e potentes, que carregam a cara da América Latina.
Opa Rafael, vi que estreiou aí Distrito 9, Matadores de Vámpiras Lésbicas(parece ser uma bomba, mas veria pela curiosidade mórbida) e Bastardos Inglórios!Tá bem servido aí, aqui tá uma tragédia!
Vi Bastardos, achei o melhor filme decepcionante do ano.
Rafael, vc ta sabendo de uma mostra de cinema frances que ta rolando no Sesc? Começou ontem (sabado, 14) e rola todos os fins de semana do mes de novembro, sabados e domingos, filmes as 10hs e 14hs.
Filmes elogiados que nao entraram no circuito, nem lançaram em dvd, nem encontrados na net. To recomendando, pq a divulgação que fizeram foi pequena, e no primeiro dia estive la sozinho para a primeira sessão (na segunda, Michele esteve comigo)! Foi uma vergonha. Coisa tao preciosa e rara, ninguem prestigiando.
Dê um jeito e apareça!
Sobre a Teta Assustada, nem tenho o que comentar. Ja sumiu da minha memoria, so ficou a cena inicial, que é muito boa e dá a impressao de um grande filme. Nao é.
E se nao viu Bastardos ainda, hoje pretendo estar la no moviecom, naquela pessima sala. Pra ver pela terceira vez. Filmaço de fila da puta do caralho.
Abços!
Poxa, esse eu perdi quando esteve em cartaz, tanto em JF quanto no Rio… queria que chegasse em dvd antes do fim do ano, para ter chance de entrar nos melhores de 2009…
Pois é João, até me espantei. Podia jurar que Bastardos não ia passar aqui. E velho, o filme é foda demais. Queria muito rever, mas já vai sair de cartaz. E Matadores de Vampiras Lésbicas eu vejo hoje, muito por essa curiosidade morbida aí. Distrito 9 também é muito bom, um corpo estranho nos filmes de ficção científica e de aliens, renova bem aquilo que a gente já tá cansado de ver.
Então Hélio, tô sabendo sim dessa mostra no Sesc, uma pena que as pessoas não estão participando, mas isso já era de se esperar, infelizmente. Meus maiores interesses são os filmes de Mia Hansen-Love e de Nicolas Philibert, devo começar a ir a partir desse próximo fim de semana. E claro que eu fui ver o Bastardos, até porque já deve tá saindo de cartaz. Foda, foda demais, queria muito rever, mas acho que não dá. Sobre A Teta Assustada, realmente a cena inicial é ótima e concordo que o filme enfraquece demais no decorrer. Uma pena, porque tinha um ótimo potencial de uma história mais consistente.
Wallace, veja assim que puder pois vale a pena, apesar dos problemas que o filme tem. Pelo menos oferece coisas diferentes do que estamos acostumados a ver.