Dir: Zack Snyder
O filme alcança uma década de 80 conturbada não só nos Estados Unidos, que vive um momento de desilusão política e econômica (imagine Richard Nixon reeleito várias vezes), como também mundial pois o país e a União Soviética permanecem em tenso conflito de ameaça nuclear, próprio da Guerra Fria.
Uma das grandes sacadas do filme é mostrar os justiceiros como pessoas normais que se mobilizaram contra o crime em apoio à justiça. Mas o clima é de total desânimo diante dos rumos políticos do momento. Os personagens fazem do passado um arsenal de lembranças positivas de uma esperança próspera, mas que se mostra uma total ilusão no presente. Aqui, a narrativa aproveita para injetar doses de reflexão não só à ordem capitalista enquanto sistema questionável pela crueza a que acaba submetendo a população, como também em reflexões sobre os rumos errôneos da natureza humana. Há espaço até para discussões filosóficas no que diz respeito à existência de Deus e a validade da vida.
O filme tem vários acertos e erros, os últimos mais em decorrência de uma direção disposta a incluir ação e efeitos especiais na trama, sem falar que Snyder é um fetichista da câmera lenta. Não que esses aspectos sejam de todo ruins, mas por vezes irritam. O excesso de músicas da década de 80 me soou um tanto gratuita porque poucas delas contribuem para a narrativa, como The Times They Are A-Changing, do Bob Dylan, tocada nos créditos iniciais mais longos que eu já vi num filme. Longo também é a duração do filme todo, mas que se beneficia de uma narrativa altamente gráfica, bem amarrada e repleta de violência e caos.
No elenco, destaques para Jack Earle Haley como o amargo Rorscharch (e apesar do ator estar quase sempre com o rosto coberto, ele consegue conferir presença ao personagem), um melancólico Billy Crudupp vivendo o Dr. Manhattan (único com poderes especiais) ou mesmo a figura arrogante e brutal do Comediante (Jeffrey Dean Morgan). Uma pena que a bela Malin Akerman não faz muito pela Espectral, nem Patrick Wilson pelo Coruja.
O final corajoso e catastrófico do filme é mais um sinal de como uma história aparentemente fantasiosa consegue alcançar níveis elevados de reflexão e um sentimento de desajuste. Fica no ar a sensação de que algo (ou tudo) está errado e mais ainda, a necessidade latente de uma mudança drástica. Mas o filme parece perguntar: estamos dispostos a pagar por isso? Por qual preço?
É um final bem pessimista para o mundo, né? Mas que filmão… ahn?
Como referi no meu blogue, esta magnífica adaptação cinematográfica vem revolucionar o modelo instituído na criação de filmes sobre superheróis. É uma multi-complexa e profundamente filosófica abordagem sobre a história de uma América alternativa em 1985, onde se vive a tensão da guerra-fria. Com efeitos visuais e especiais de primeira linha, este é sem dúvida o film noir definitivo de super-heróis.
Cara, gosto bastante das HQ’s, mas consegui aproveitar muito o filme. Acho que gosto dos dois de formas diferentes, mas mais ou menos na mesma intensidade. Acho as soluções encontradas pelo Snyder e pelo roteirista Alex Tse fenomenais, e adoro boa parte do elenco (só não gosto realmente do Matthew Goode, apesar de compartilhar com vc minhas preferências pelo trio Haley-Crudup-Morgan) e acho que a trilha funciona totalmente.
Eu tenho muito interesse em ler algo do Alan Moore (especialmente “Do Inferno”), mas mesmo que muitos digam sobre o poder do texto de “Watchmen” e a boa adaptação que Zack Snyder (um diretor que não gosto) foi capaz de render, não tenho qualquer interesse sobre o filme, pois mais que o desfecho, segundo muitos, seja capaz de nos deixar de queixo caído ou que o seu visual seja algo arrebatador.
Abraços, boa semana.
Apesar dos unânimes comentários sobre o respeito ao texto original, acredito que foi justamente isto que prendeu demais “Watchmen – O Filme”. Claramente, a trama é inteligente e interessante. Porém, faltou ao diretor discernimento para saber o que era importante de relatar, ao invés de colocar tudo em tela ao mesmo tempo. Ou seja, para mim, o filme se estendeu demais.
Pessimista e corajoso eu diria, Cara da Locadora. Mas muito bem pensado e sem subestimar a inteligência do espectador.
Bem Filipe, não sei se chega a ser o filme noir definitivo em se tratando de super-herois (lembro especificamente do excelente Sin City). Mas com certeza, é uma obra das mais interessantes e corajosas para um produto tão comercial.
Já meu contato com HQs é praticamente nulo, Wallace. Mas cheguei a ver algumas edições de Watchmen e gostei bastante. No filme, funcionou muito bem, apesar da insistência de incluir ação na narrativa. Porém temos que discordar em relação à trilha sonora que eu achei excessiva e que pocuo contribui para o tom da história. Me pareceu mais uma questão de encher o filme com músicas dos anos 80, e menos de trazer funcionalidade para a narrativa.
Pois então Alex, você só tem boasa referências sobre o filme, então veja, rapaz!
Kamila, acho que o material original era um bem extenso para os roteiristas enxugarem tanto. De qulquer forma, o filme como um todo me agrada, não achei cansativo. O maior problema do Snyder é incluir tanta ação no filme que não existe no HQ.