Dir: Daniel Burman
A questão da paternidade deve perseguir o cineasta argentino Daniel Burman pois em seus últimos dois filmes, os ótimos As Leis de Família e O Abraço Partido, esse assunto é o que move as narrativas. Em Ninho Vazio ela também está presente, mas o diretor acrescenta outros detalhes para dar vida a um homem em crise de meia idade, com prováveis reflexos negativos em seu casamento. Tudo é filmado com muita discrição, cuidado e sem grandes rompantes dramáticos, chorosos ou gritantes, e talvez por isso com muita verdade.
Leonardo (Oscar Martinez) é um escritor de relativo sucesso na Argentina, que não parece estar muito satisfeito com seu trabalho, com a mulher que voltou a estudar e, principalmente, com a saída de seus três filhos de casa (que nem chegamos a ver no início do filme). Daí a idéia do ninho (ambiente familiar) que se esvazia, deixando-o solitário em casa, com muito tempo para pensar nos rumos de seu casamento, cada dia mais a perigo, uma vez que sua esposa Martha (Cecilia Roth – protagonista de Tudo Sobre Minha Mãe, do Almodóvar) é vista agora sempre na companhia dos colegas de faculdade, um deles um ex dela.
Numa semana em que Foi Apenas um Sonho entra em cartaz ao mesmo tempo que esse aqui, é interessante notar como ambos os filmes lidam com a desintegração de um casamento. Enquanto no trabalho de Sam Mendes a história vai ensaiando aos poucos um caminho trágico, é muito bom perceber como Daniel Burman (também roteirista) consegue orquestrar os elementos de uma crise matrimonial (o maior tempo que a faculdade de Martha a ocupa, o ex que a cerca, o caso extraconjugal de Leonardo, a terapia de casal), mas ao mesmo tempo apontar para a possibilidade de mudança, de renovação, apesar dos erros de cada um. E Leonardo vai aprender a lidar com suas próprias angústias e limitações.
E tudo isso é filmado sem julgamentos, um grande mérito do filme. Mesmo a personalidade de difícil convivência de Leonardo, sua implicância para com todos, em especial o noivo israelita de sua filha, não faz dele um personagem tedioso, pelo contrário. Burman acompanha suas desventuras com interesse, para alcançar um final que subverte as expectativas, a despeito das discussões que acompanham o casal no início do filme.
Jorge Drexler, ganhador do Oscar de canção com Al Otro Lado Del Río, por Diários de Motocicleta, marca presença aqui com outra música bem gostosinha, Un Instante Antes de Levantar Vuelo, parte de uma trilha sonora cheia de um jazz charmoso e de outros toques musicais que soam sutilmente aqui e ali durante o longa. Sutil também é a atuação de Oscar Martinez, mais afeito aos pequenos gestos e olhares significativos, revelando aos poucos a insegurança de seu personagem e evoluindo a um estágio de aprendizagem.
Ninho Vazio é uma grata experiência e mostra que os bons dramas não precisam ser efusivos, nem chamar tanta atenção para si mesmos. Mesmo assim, há muita verdade na crise daquele casal como também muita leveza em dois corpos tranquilos boiando na água.
Adoro “As Leis de Família” e “O Abraço Partido”, dois excelentes filmes! Pena que esse “Ninho Vazio” ainda não chegou por aqui…
Ese eu vi na Mostra de SP. Como tinha adorado As Leis de Familia, fui ver com muita expectativa. Descobri que o Burman nao so se interessa pelos mesmos temas, mas os filma da mesma forma. E nao alcança o nivel do anterior, a graça, o carinho (como se as leis de familia fosse muito mais pessoal para ele). O final deixa a proposta mais interessante, mas nao tira a sensação de mais do mesmo, um pouco menos de brilho.
Eu gosto daquele devaneio musical. Acho que deveria ter mais no filme, sair um pouco do lugar comum. Mas concordo que o ator é otimo.
Abraços!
Esse tá passando aqui do lado de casa. Tô querendo conferir. As opiniões que tenho ouvido são bem diversificadas – mas acredito que vou gostar também!
Abs!
Realmente Vinícius, dois grandes filmes esses aí. Não perca quando tiver a oportunidade de ver Ninho Vazio.
Hélio, também gosto muito de As Leis de Família, mais um tantinho do que esse, mas acho que nesse aqui ele trata de outras coisas que não aparecem no anterior, ou será que preciso ver As Leis de Família de novo? De qualquer forma, continuo gostanto dos dois filmes. Já eu não gostei dos devaneios musicais justo porque aparecem em poucos momentos e sem grandes propósitos. Se eles fossem melhor trabalhados e mais presentes, acho que faria mais sentido.
Dudu, meu caro, se tá passando do lado de sua casa, não perde tempo, cara. Vai logo! Anda moço!