Antes de mais nada, o novo filme de Darren Aronofsky não é sobre lutas, nem sobre vencer na vida, algo já bastante desgastado em filmes do gênero. É sobre um homem e suas limitações, e principalmente a persistência de ser manter o que sempre foi: um lutador. Mickey Rourke parece ser o ator ideal para o papel. Além da intensidade da interpretação, sem exageros, ele próprio possui um passado de decadência. Aqui, ele ressurge das cinzas.
Randy “The Ram” (Rourke), como era conhecido, é esse homem cujo passado foi de sucesso e grandes vitórias no ringue de luta livre, mas atualmente participa de lutas fajutas e arranjadas, em que os oponentes decidem previamente quem vai ganhar e como, enquanto uma pequena platéia de loucos sádicos brada a plenos pulmões, querendo sangue.
Mas Ram já sente o peso da idade e das limitações de seu corpo. Quando ele é levado para o hospital ao passar mal depois de uma luta, o médico o alerta que está na hora de parar, tanto com as lutas quanto com as drogas. Se antes ele já se mostrava decadente, endividado, e precisava fazer bicos como carregador de mercadorias, agora ele precisa de um outro rumo na vida, evidenciado por um trabalho como atendente na delicatessen de um supermercado.
A relação dele com a prostituta Cassidy (Marisa Tomei, ótima) é uma das coisas mais acertadas do longa. Ela já não é tão novinha como suas colegas e começa a se ver rejeitada pelos clientes. Assim como Ram, depende do seu corpo para o benefício de continuar seguindo o trabalho, e o sustento de um filho. Nesse ponto, eles são parecidos e uma possível aproximação é ensaiada embora o filme não caia na facilidade de unir os dois personagens, apesar da grande vontade disso acontecer. Mas não é tão simples assim.
Fácil também não é a relação de Ram com a filha Stephanie (Evan Rachel Wood), há anos separados e, a despeito de seus problemas de saúde, resolve procurá-la. Logo vemos uma explosão emocional, já que ela tanto foi marcada pela ausência do pai. Mas o filme também não facilita essa relação, mesmo com a possibilidade de se reconciliarem. Ram continua sendo o mesmo homem solitário, não parece estar pronto para ter responsabilidades com outra pessoa, por mais que ele queira tentar.
Interessante notar como esse brutamontes desaba diante da pressão emocional, algo com o qual não estava acostumado a lidar. Mas no final das contas, ele ainda não desistiu. A vida dele é lutar, é isso que ele sabe fazer. A cena final é a síntese disso. Mesmo sentindo o coração (re)clamar, ele continua na batalha, independente das consequências. Fighters fight, não? Até o fim.
É, até agora, o filme do ano. Simples e singelo, melancólico e poderoso, triste e empolgante ao mesmo tempo. E Rourke está avassalador.
Aronofsky chegou ao melhor momento da carreira e fico feliz que ao menos o Mickey Rourke recebeu algum reconhecimento pelo filme – mas o diretor também merecia, e muito!
Tá aí um tipo de filme q eu gosto muito. Vou anotar pra assitir depois rs
Bjos Rafa!
THE BEST FUCKING MOVIE OF YEAR!
Eu ainda fico arrepiado com esse filme, cada lembrança dos momentos mais singelos, causa emoção. Uma grande lastima ver esse filme fora das grandes premiações e enquanto isso vimos filmes muito aquém de sua qualidade (como O Leitor, que se comporta como os peitos da Winslet, caido e sem graça) ter mais glória do que se imagina.
É um filme para guardar não só nas nossas mentes, mas sim de coração e lembrar que ainda existe gente que consegue captar emoção em uma terra onde isso está entrerrado a pó de cal …
abraços
Realemnte Wallace, até agora o filme do ano, mas tá cedo para dizer isso. Muita coisa ainda vem por aí. E concordo com todas essas qualidades que você apontou. Rourke humilha!!
Bem Vinícius, esse é mesmo um ótimo momento para o Aronofsky que já devia ser reconhecido por seus filmes bem antes. Acho que O Lutador deveria estar entre as principais categorias do Oscar. E gostaria muito se o Rourke levasse o Oscar pra casa.
Patty, não sei se é o tipo de filme que você gosta, mas assim que puder, veja e me diga o que achou.
Até agora sim, Alex. Também acho que merecia mais reconhecimento, que só o Festival de Veneza soube dar (presidido pelo Wim Wenders, vale dizer). É mesmo exemplar como o filme emociona com aquele brutamontes desabando (tanto no ringue, como sentimentalmente).
A cada novo texto que leio sobre “O Lutador”, mais cresce a minha vontade de conferir este filme. Acho que este é um dos casos únicos em que a história nos causa uma conexão enorme e a gente fica emocionado acompanhando a trajetória dos personagens.
Cara, vou ver ainda hoje O Lutador. Quando eu assistir e entrar na internet pra publicar meu texto no meu blog, eu passo aqui pra comentar mais, ok?
No mais, o teu texto só está confirmando cada vez mais tudo o que leio sobre o filme. Por isso, estou bastante interessado pra assisti-lo.
O filme é excelente. Uma pequena obra-prima, bem pequena e discreta, mas ainda assim um belo exemplar de como o cinema pode nos surpreender.
Ah, acho que ele merece mais uma meia estrelinha aí, vai!
Falei mais sobre ele em meu blog, se puder dá uma passadinha lá, ok? Obrigadoo 😀
Realmente Kamila, o filme emociona, mas não de forma exagerada e manipulativa como vários filmes hollywoodianos (caso do super-adorado Slumdog Millionaire). Rourke é uma força da natureza.
Viu só que filmão, Diego. É mesmo uma pérola, mas não chego a gostar tanto assim para dar 5 estrelas. Um excelente filme, sim, mas não uma obra-prima. Na verdade, chega bem perto disso. Depois dou uma passada no seu espaço. Valeu cara!!
Você falou tudo Rafa. “O Lutador” é um filme com uma sensibilidade incrível, quebrando aquela mesmice vista em tantos filmes do gênero. Fiquei muito triste por Rourke não ter levado o Oscar, pois a atuação dele foi tão sincera e me emocionou tanto…
Bjos.
;**
Pois é Aline, nada daquelas histórias de superação dos filmes do gênero. O Lutador é emocionante na medida certa e tem um personagem excelente que mistura a emoção e sua personalidade forte. Minha maior decepção no Oscar foi justamente o Rourke ter perdido o Oscar, mesmo que para um Sean Penn excelente. Mas ele merecia, o Penn já tem o dele. Bjs!!