Dir: Christophe Honoré
Em Paris é uma grata surpresa não só pelo inusitado da narrativa, mas por surgir num momento em que as histórias estão cada vez mais repetitivas e caindo na mesmice. Temos aqui a trama de dois irmãos: Paul (Romain Duris), em estado de depressão após ter saído de um conturbado relacionamento com sua namorada e Jonathan (Louis Garrel), um jovem inconseqüente e amante insaciável que não consegue resistir aos charmes femininos. A volta de Paul para a casa onde morava com o irmão e o pai (Guy Marchand), proporciona um interessante estudo de personagens. Mesmo que o filme possua momentos de densidade e pesar, é conduzido com uma leveza e um frescor incríveis, responsabilidade do diretor e roteirista Christophe Honoré que, à lá Nouvelle Vague, desfragmenta a narrativa e consegue transformar o que à primeira vista se mostra complexo em algo simples, porque é carregado de uma humanidade tocante. A relação entre os dois irmãos é de uma sensibilidade pouco vista (e nunca carregada na tela), e cada seqüência do filme é uma surpresa. Mas nada tão belo e inesperado do que uma reconciliação ao telefone. E cantada, ainda por cima.
Across the Universe (Idem, EUA, 2007)
Dir: Julie Taymor
Across the Universe talvez tenha sido um dos filmes mais esperados no ano passado. O trailer pelo menos é excelente, mas pena que o filme não cumpra o que tanto prometeu. Temos a velha história do cara (Jim Sturges) que se apaixona por uma bela garota (Eva Rachael Wood), e ao mesmo tempo se envolvem com as mudanças sociais e políticas de sua época, aqui a década de 60 nos EUA. No formato musical, o filme inverte a estrutura narrativa: não são as músicas que se adequam à história, mas a história que é direcionada pelas músicas, o que deixa o roteiro frouxo e várias coisas em aberto. Tudo isso para que a diretora crie números “espetaculares” para cada canção, deixando a coesão e o andamento da trama para segundo plano. Assim, o grande atrativo do filme são os números musicais, já que as novas versões para músicas clássicas dos Beatles ficaram excelentes (e olha que eu nem conheço tanto o trabalho da banda inglesa). Minhas preferidas no filme são as versões para I Wanna Hold Your Hand e Come Together, mas o melhor número é a do alistamento ao som de I Want You, bastante original. Enfim, um filme popzinho, com roteiro bastante deficiente, mas tem lá seus momentos bonitinhos. E graças a Deus que a última cena não é melosa.
Hairspray – Em Busca da Fama (Hairspray, EUA, 2007)
Dir: Adam Shankman
Talvez eu tenha sido um dos poucos que não gostaram tanto de Hairspray, muito embora o filme já comesse com uma empolgação contagiante ao apresentar uma das personagens mais alegres e eufóricas que apareceram ano passado nos cinemas. Tracy Trumblad (a novata e gordinha Nikki Blonsky) exala felicidade por todos os poros e contra todos os pré-conceitos. Enquanto isso, John Travolta está hilário(a) como a mãe da protagonista, mas a vilã de Michelle Pfeiffer não passa de irritante enquanto Christopher Walken surge apagado e sem sal. Falando nisso, e por mais que a maioria dos números musicais sejam empolgantes, me pareceram um pouco óbvios e não muito originais, da mesma forma que o roteiro. É tudo muito alegre, mas existe certa fragilidade por trás. Mas o que mais me irrita é a tentativa de parecer socialmente engajado, num discurso anti-racista idealizado e até certo ponto forçado.
A Desconhecida (La Sconosciuta, Itália/França, 2006)
Dir: Giuseppe Tornatore
Vindo de Giuseppe Tornatore, responsável por uma das obras-primas mais belas do cinema que é Cinema Paradiso, não imaginava que esse seu novo filme, depois de seis anos de hiato, seria tão bruto e cru. Ao chegar na Itália, a ucraniana Irena logo procura se aproximar de uma família de classe média, revelando uma personalidade má, fria e dissimulada, como das grandes vilãs. À medida que a história avança, descobrimos não só os motivos dessa aproximação, como também, através de rápidos flashbacks, o passado sofrido daquela mulher. Só ao fim iremos perceber que a personagem encontra em suas perversas atitudes uma razão para aquele comportamento. Carregado de cenas fortes, o filme peca por avançar na história muito rapidamente, o que pode confundir o espectador. Com a onipresente trilha do gênio Ennio Morricone, A Desconhecida nos revela o propósito de uma personagem complexa (ou até mesmo dúbia), mas que deixa evidente, ao fim, toda a sua dimensão trágica.
**** Em Paris – excelente filme mesmo, fiquei bastante surpreso também. E aquela cena no telefone é maravilhosa, uma das melhores do ano.
*** Across the Universe – talvez por gostar (e conhecer) tanto as canções tenha gostado mais que você, mas fiquei um pouco decepcionado com a trama. Adorei as versões, “I Wanna Hold Your Hand” também é uma de minhas favoritas.
**** Hairspray – ‘empolgante’ é uma boa palavra para definir o filme, inclusive acho que ele não perde isso em momento algum.
*** A Desconhecida – quase um filme ruim, com uma história que prende a atenção até certo ponto mas que chega a um péssimo desfecho. O melhor é a trilha do Ennio…
Rafael, de toda essa relação, o único filme que tive a oportunidade de ver foi mesmo o musical “Hairspray”. E concordo: há muita fragilidade num roteiro que insiste ser contagiante. Mas é um filme acima da média.
Dos outros, tenho um interesse mórbido em ver “A Desconhecida” (ainda que temo o desfecho, que dizem ser lamentável) e “Across The Universe”, pois musicais é um dos meus gêneros prediletos.
Abraço, desejo um bom feriado.
Não conferi nenhum no momento, mas os mais interessantes, pelo descrito, aparentam ser EM PARIS e A DESCONHECIDA (este sim dividiu bastante as opiniões). Apesar de tudo, HAIRSPRAY deve valer para dar ao menos uma animada!
Cumps.