Maquinaria anestésica

No Limite do Amanhã (Edge of Tomorrow, EUA/Austrália,
2014)

Dir:
Doug Liman
Curioso
que uma semana depois do lançamento de X-Men:
Dias de um Futuro Esquecido
, outro filme padrão arrasa-quarteirões
aproveite-se do artefato da viagem no tempo como mote principal da narrativa. Mas
No Limite do Amanhã está interessado
mesmo na busca desenfreada pela ação.
É como
um anti-Godzilla já que o não piscar
parece ser o principal objetivo a causar no espectador, um misto de
entretenimento e anestesia, ainda que seja interessante acompanhar o
funcionamento do dispositivo de volta no tempo. Não há tensão pré-ensaiada, nem
mesmo quando o filme abre a narrativa com imagens reais de arquivos para apresentar
esse mundo fora de ordem ameaçado por forças destrutivas alienígenas que
precisam ser combatidas no campo de batalha.
Tom
Cruise interpreta esse soldado que é jogado no front de guerra sem preparo e no
primeiro confronto com os alienígenas volta no tempo antes de morrer. Em loop,
ele seguirá retornando do mesmo ponto e vai precisar juntar forças com a
super-soldado Rita, vivida por Emily Blunt. Dado importante é que os combatentes do futuro usam uma armadura acoplada ao corpo, incorporam literalmente uma
estrutura de aço e tecnologia para tornarem-se máquinas de liquidar.
O pior
de No Limite do Amanhã (e de muitos
filmes do gênero) é que tudo se faz muito apressado. Aproveita-se pouco até
mesmo da ação porque esta é desenfreada. Ao retrabalhar tantos elementos que já
vimos em filmes semelhantes, mesmo que sob uma mistura diferenciada aqui, o
longa mais cansa do que entretém de fato. Se reviravoltas em certos momentos
tiram do marasmo uma narrativa fadada a se repetir, a busca sem freios por novas
lógicas de funcionamento é ainda assim anódina. 

Cabe,
por fim, um comentário à parte, mas que ajuda a entender a maquinaria por trás
de produtos comerciais como esse. O filme faz alusão a um acontecimento histórico (o
desembarcar na praia é uma clara referência ao Dia D, momento decisivo dos
combates na II Guerra Mundial) para descartá-lo como elemento fundamental de uma história
presente. As imagens documentais do início disfarçam essa ironia porque se misturam
num novelo para criar a ilusão de um momento atual descartável, remodelável. Para
salvar a Terra vale tudo, até mesmo implodir o Louvre sem uma gota de remorso,
levando junto a História da humanidade que se preserva ali. O amanhã de Doug
Liman joga fora o nosso passado para construir um futuro assegurado, embora sombrio
de outras formas.
 

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