Mostra de Tiradentes – Parte I

Órfãos
do Eldorado

(Idem, Brasil, 2015)
Dir:
Guilherme Coelho
Uma
Amazônia mítica, um tanto exótica e bucólica, é a paisagem para que Arminto (Daniel
de Oliveira) reencontre seus fantasmas em Órfãos
do Eldorado
, primeiro longa de ficção de Guilherme Coelho, baseado na obra
do escritor amazonense Milton Hatoum. O filme abriu a 18ª edição da Mostra de
Cinema de Tiradentes com casa cheia.
Arminto
faz um retorno doído à sua terra natal e às memórias de um passado doloroso,
com questões de família em aberto. Em especial com o pai, uma relação nitidamente
traumática (a cena do reencontro dos dois é duríssima). O filme apropria-se
desse mote um tanto batido e é uma pena que tenha dificuldade em avançar, em
fazer crescer seu personagem, sempre tomado de conflitos internos nem sempre
explícitos.
A
história logo abandona os embates de família e se concentra na perturbação que
duas mulheres impõem à existência do protagonista. Florita (Dira Paes) surge
como uma paixão avassaladora e mal resolvida, ecoando um passado juntos que ambos
retomam com volúpia. É uma composição realmente instigante a que Dira Paes se
entrega. Dá vida a uma mulher que sabe expressar dureza e doçura, misteriosa, mas apaixonada. 
Mas ela cede espaço no imaginário de Arminto para a figura de uma jovem mulata (Mariana
Rios) que povoa seus sonhos mais tórridos – e que remete a uma imagem marcante de
sua infância –, o que o leva a empreender uma busca incansável por essa mulher hipnótica. 
É
aí que Órfãos do Eldorado se prende a
uma estrutura narrativa excessiva em que o conturbado estado psicológico do
personagem reflete muito de suas indecisões. Porém o filme perde em vigor
porque insiste na mesma operação de caça, marcado pelo frenesi da busca, deixando
de lado muitas outras coisas que também fazem parte das angústias de Arminto.
Para
além de cutucar certas questões políticas – como a fase áurea da exploração da
borracha, tendo o pai do protagonista como um dos grandes empreendedores
do negócio no passado –, Órfãos do Eldorado aposta
(e se prende) muito mais no universo mítico que parece aprisionar Arminto. Também
não deixa de filmar essa bela paisagem com tom exótico. 

De
certa forma, o filme pode ser visto como uma revisitação ao mito da Iara, índia amazônica que enfeitiça e cega os homens, só que aqui assumindo o ponto de vista
masculino. Se isso fica muito evidente na cena final, só revela o quanto filme
se fecha ao idílico. Talvez na ânsia de criar uma narrativa elíptica, com
muitas questões em suspenso, Coelho deixa de explorar outras facetas dessa
história.
 

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