John Carter – Entre Dois Mundos (John Carter, EUA, 2012)
John Carter – Entre Dois Mundos é a grande aposta do momento para ocupar o lugar de blockbuster que pode gerar uma nova franquia valiosa no cinema comercial. Ao investir uma soma milionária na produção, a Disney espera conquistar o público com a fantasiosa história do combatente desertor da Guerra Civil norte-americana que, misteriosamente, é transportado para o planeta Marte, onde se vê envolvido numa série de conflitos entre os povos que habitam o lugar.
É, portanto, um prato cheio de delícias aventurescas e de grande apelo visual numa história curiosa e repleta de intrigas. Em Barssom (como o planeta é chamado), os povos que ali vivem (os Tharks, alienígenas esverdeados de quatro braços, os de aparência humana de Helium e os de Zodanga) estão em guerra pelo controle do planeta. Quando John Carter (vivido pelo ator Taylor Kitsch, com ótima pinta de herói) chega ao lugar repentinamente, com a habilidade de saltar por elevadas altitudes na atmosfera do lugar, é visto como aquele que pode acabar com os conflitos no planeta.
E apesar de todo o tom fantasioso, é interessante pensar nas aproximações políticos que a história traça entre as brigas “barsomnicas” e o próprio conflito nos Estados Unidos entre o Sul escravocrata e o Norte industr犀利士
ial do qual o personagem John Carter esteve ligado. As ideias são do escritor Edgar Rice Burroughs que escreveu a série de histórias sobre o herói nos distantes idos do início do século passado (no entanto, o autor ficou bem mais conhecido por ter criado o personagem Tarzan), sendo esse primeiro filme adaptado do livro A Princesa de Marte, escrito por Burroughs em 1912, há exatos cem anos.
Uma pena que a história começa a capengar quando os personagens precisam fazer uma série de deduções e achismos para se chegar a determinadas respostas e, assim, prosseguir com o enredo cada vez mais cheio de desdobramentos. Mas roteiro não é o forte de John Carter, que preza muito mais pelo visual deslumbrante de seu universo mítico. E consegue compor um trabalho técnico de primeira grandeza. Para além do deslumbre do cenário e das naves espaciais criadas por computação gráfica, salta aos olhos a qualidade da interação entre seres digitais e os “reais”, mérito devido ao diretor Andrew Stanton.
Vindo da área da animação, Stanton (dirigiu e co-roteirizou a pequena obra-prima Wall-e, além de estar envolvido em diversos outros projetos de sucesso da talentosa Pixar) administra muito bem as criaturas feitas em computador (a maioria em processo de captura de movimento, com atores no estúdio), principalmente porque muitos deles contracenam como os personagens humanos, como os tharks, que têm importância crucial na história. Além disso, o diretor se sai bem num filme que precisa de ação constante para manter seu interesse.
O que pode incomodar um tanto é de como a história se alonga num arco narrativo que envolve a morte de Carter na Terra e a vinda de seu sobrinho (o próprio Burroughs transformado em personagem) para assumir os bens milionários do tio, o que acontece logo no início do filme, muito embora esse arco se feche no final (com um pouco de forçação de barra, diga-se), mesmo que abrindo espaço para novos seguimentos, é claro. Porque isso é tudo o que os envolvidos no projeto desejam: a longevidade da aventura de John Carter da Terra, agora pertencente a um outro mundo, encontrando seu lugar. Com um refinamento maior de enredo e contando com o já espetacular trabalho técnico e visual, John Carter promete bons momentos futuros.
Tirando a parte técnica, a parte que eu mais gostei em “John Carter – Entre Dois Mundos” foi justamente o roteiro. Pra mim, a história foi bem desenvolvida, sem deixar arestas ou desculpas esfarrapadas para futuras continuações. Como você bem diz em seu texto, o arco se fecha ao final de tudo. Eu tinha certa desconfiança em relação ao Taylor Kitsch (por causa do trabalho dele na série “Friday Night Lights”), mas ele me surpreendeu aqui. Foi um herói carismático e que segurou muito bem a onda de carregar a responsabilidade desse filme nas costas. Pode ser uma franquia interessante, até mesmo em se tratando do gênero de aventura, que precisa de uma história desse tipo. Espero que a fraca bilheteria nos EUA, neste final de semana, não impeça uma continuação. A história merece.
Também gosto do roteiro do longa, Kamila, apesar do visual ser o grande destaque. Acho que por mais que reprocesse alguns lugares-comuns, cumpre muito bem a função de divertir através de histórias fantasiosas. Mas veja, num filme bem cuidado tecnicamente, com uma história em seu lugar, a bilheteria norte-americana tem sido fraca. Mas acho que isso mais por conta do altíssimo valor de custo do projeto que exige um lucro muito elevado para cobrir despesas. De qualquer forma, merecia mais atenção por parte desse público que gosta de aventuras.