Outros curtinhas

Um Beijo Roubado (My Blueberry Nights, China/Hong Kong/França, 2007)
Dir: Wong Kar-Wai

Muita gente tem dito que Um Beijo Roubado, primeiro filme em inglês do diretor chinês Wong Kar-Wai, é uma reprise de tudo que ele já fez, mais do mesmo. Mas se o mesmo já era muito bom, mais dele é melhor ainda, ora. Se uma história bem contada possui a personalidade de quem sabe o quê e sobre o quê está filmando, não tenho do que reclamar. Elisabeth (Norah Jones) acaba de brigar com o namorado e conhece o dono de um bar (Jude Law), com o qual mantém uma relação de proximidade. Mas o que ela quer mesmo é se encontrar e, para curar a dor de cotovelo, parte numa viagem pelos EUA, onde se depara com outros personagens. Primeiro, acompanha o término mal resolvido do casal Arnie e Sue Lynn (David Strathairn e Rachel Weisz, impecáveis em cena) para depois conhecer Leslie (Natalie Portman) viciada em pôquer e afastada do pai. Mesmo que Weisz e Strathairn se destaquem, todo o elenco secundário merece aplauso. Me parece que Norah Jones não foi chamada para atuar, e sim pela sua presença e voz. Agora, me digam: quem mais sabe usar aquela câmera lenta como o Kar-Wai? E mesmo que Christopher Doyle não assine a fotografia aqui, Darius Khondji esbanja nas cores fortes. Um Kar-Wai genuíno do início ao fim e aquela cena do beijo é algo formidável.

Dolls (Idem, Japão, 2002)
Dir: Takeshi Kitano

Posso ser sincero: estava achando Dolls muito, muito chato durante a projeção. Aquela coisa do casal entrelaçado tava me parecendo muito sem graça e aquelas histórias paralelas muito fora de nexo. Como se o filme só quisesse parecer moderninho ao utilizar histórias paralelas. Mas eis que bem no finalzinho me deparo com uma bela cena: o momento em que o casal entrelaçado chega ao local onde ele pediu ela em casamento. Ali tudo fez sentido para mim e aquela sensação de vergonha por ter menosprezado o filme bateu forte. Tive que revê-lo. E descobri outro filme. Dolls é sobre perdas e sacrifícios. Uma mulher sacrifica, inconscientemente, sua própria sanidade à espera do homem amado; um jovem não faz questão de perder um dos sentidos para estar próximo de quem adora. E uma jovem, depois de abandonada pelo noivo, tenta suicídio e perde a sanidade. Ele então se arrepende, se acorrenta a ela e renuncia a tudo; passam a viver como mendigos e cruzam as quatro estações. Sem muitos diálogos e prezando pelos silêncios, o filme diz muito com muito pouco e alcança momentos sublimes. O filme é inspirado no teatro de bonecos japonês e tem algo de fantástico e belo, muito propícios às lendas orientais. Um filme para não se subestimar até que chegue ao final.

Valente (The Brave One, EUA, 2007)
Dir: Neil Jordan

A história da radialista Erica Bain que perde o noivo durante um abriga de rua e depois de um tempo passa a fazer justiça contra os foras da lei com suas próprias mãos parece um tanto desgastada. Precisaria, portanto, de alguém com personalidade para conduzir o drama e aí entra o mais curioso: o diretor Neil Jordan o possui, mas falta mais paixão aqui, um maior empenho em dar consistência ao drama. Tudo parece muito simplório e fácil para a personagem, sua mudança de perspectiva diante do trauma por que acabou de passar não me convenceu muito. Jodie Foster, grande atriz, se esforça bastante, mas com um roteiro que não se importa tanto em desenvolver sua personagem, fica um pouco difícil conferir consistência a Erica. Ela ainda vai se envolver com o detetive Mercer (Terrence Howard), criando uma relação de crescente afeição que pode também significar perigo para Erica, já que ele pode descobrir suas últimas ações “anti-criminais”. Para piorar, o filme parece feito por encomenda para uma Hollywood que prefere não se arriscar em algo difícil e preza por um final bonitinho e com redenção. No limite do meio-terno, o filme, de valente, não tem nada.

Jogo de Amor em Las Vegas (What Happens in Vegas, EUA, 2008)
Dir: Tom Vaughan

Jogo de Amor em Las Vegas poderia ser bem pior do que é, poderia ser mais grosseiro, mais irritante, os diálogos mais mal escritos, as situações mais estúpidas, as piadas mais sem graça. Mas ele é só um pouco de tudo isso. Joy e Jack (Cameron Diaz e Ashton Kutcher) se conhecem por acaso em Las Vegas e numa noite de bebedeira e loucura acabam se casando ali mesmo (no fim do filme um flashback revela essa cena, talvez a melhor de todo o filme). No dia seguinte, depois de se arrependerem do fato e se odiando mutuamente (já sabe no que isso vai dar, não é?), eles acabam ganhando uma bolada no cassino. Mas para dividir o dinheiro a Justiça exige que eles demonstrem ser um casal normal e feliz, vivendo sob um mesmo teto. Daí surge as mais inusitadas situações, com pretensão de serem cômicas, que acabam passando pelos percalços da vida a dois, recheada de brigas e joguinhos de gato-e-rato. Kutcher até que é um cara legal e sua presença na tela não chega a ser constrangedora (uma vez que nesse tipo de gênero os personagens masculinos pareçam cada vez mais abobalhados), mas Cameron Diaz continua irritante como de costume, representando a eterna patricinha de nariz empinado e se esforça bastante para parecer engraçada. Ao fim, algumas boas gargalhadas não conseguem tirar o amargo de um final conciliador que tenta ao máximo mostrar que o filme também possui algo de drama. Mas isso já era de se esperar.

14 thoughts on “Outros curtinhas

  1. “Um Beijo Roubado”: gostei da Norah Jones, acho que ela leva jeito para atriz; mas, em “Um Beijo Roubado”, quem rouba a cena são os atores coadjuvantes.

    “Dolls”: o filme é um espetáculo visual, mas eu não gostei desse longa do Takeshi Kitano.

    “Valente”: fui uma das poucas a gostar do filme. Acho, até, que ele foi lançado na época errada – se tivesse saído, nos anos 70, seria um sucesso. O meu único problema com o longa é seu final.

    “Jogo de Amor em Las Vegas”: achei uma boa comédia romântica. Tem muitos clichês, mas funciona por causa da química existente entre Ashton Kutcher e Cameron Diaz.

  2. “Jogo de Amor em Las Vegas”: Duas estrelas. Está menos rigoroso, ora! (risos).

    “Um Beijo Roubado”: Opa, está bem rigoroso. Este merecia mais do que 4. Que ambiguidade! (risos). Concordo quanto a câmera lenta e às cores. Ah, ressaltaria o roteiro. Um romance diferente, assim classificaria.

    Dolls e Valente: eu não vi!

  3. Eu vi Dolls no cinema, tela grande, e que filmaço! É a tradição oral nipônica trasnposta para a linguagem cinematográfica com perfeição!

    Os outros três eu desconheço, mas Cameron Diaz não me agrada nem um pouco…

    Abs!

  4. Um beijo roubado passou rapidamente por aqui e ainda não pude ver. Aguardo ansiosamente!

    Valente é um dos piores filmes dos últimos tempos. Pretensioso até dizer chega! Cansei da ‘vibe’ justiceira do mulheril.

    Jogo de amor em Las Vegas é um filme que eu realmente gostaria de ver, talvez por pura diversão para mulherzinha mesmo, ou pela máxima ‘Ashton Kutcher de sunga’, tanto faz. Hahahahahahaah

    Beijo

  5. Da sua lista, vi apenas “Um Beijo Roubado” e “Valente”. O primeiro é muito bom mesmo, especialmente devido aos ótimos desempenhos de David Strathairn e Rachel Weisz, além da fotografia e marcante trilha. Já o outro é isso mesmo que você falou, inclusive odiei o final. Abraço!

  6. Kamila, não vi tanto talento assim na Norah Jones, mas quem sabe ela não se mostra uma ótima atriz em outro projeto, isso se ela for fazer outro. Dolls não parece agradar a todos mesmo. E poucos gostaram mesmo de Valente, interessante isso que você disse da década de 70, e o final realmente é o pior do filme. E existe mesmo química entre o Kutcher e a Diaz, mas só isso não é suficiente. Mas cheguei a me divertir durante a projeção, sim.

    Elizio, meu caro, acho que não é rigor a mais ou a menos, mas somente pesos devidos ao filme. Gostei de Um Beijo Roubado, mas não amei; com certeza está acima da média. E se nossas opiniões poucas vezes batem, não devia se surpreender com minhas notas. E claro, o Kar-Wai nunca é convencional.

    Que inveja Dudu, Dolls no cinema deve ser fantástico.

    Fabiana, tá exigente, hein? Valente, um dos piores dos últimos anos? Mas tudo bem se não gostou. Só acho que o filme ainda assim possui algumas qualidades. E graças a Deus não tem Ashton Kutcher de sunga em Jogos de Amor em Las Vegas; se tivesse teria descontado uma estrela. hihihihihiihi

    Abraço a todos!!!!

  7. Ih, nao vi nenhum desses. Sou fã do Neil Jordan, mas ainda nao tive coragem de ver o Valente. Os de Kar-Wai e Kitano, no dia que eu resolver conferir suas filmografias (tenho feito muito isso ultimamente, vendo vários filmes do mesmo diretor de uma só vez). E a comedia com Cameron Diaz… esse eu passo MESMO.

    Abraços!

  8. Q tristeza, ainda não vi nenhum desses filmes…

    Mas adorei:”Jogo de Amor em Las Vegas poderia ser bem pior do que é, poderia ser mais grosseiro, mais irritante, os diálogos mais mal escritos, as situações mais estúpidas, as piadas mais sem graça. Mas ele é só um pouco de tudo isso.”

    Obs:Fique um pouco mais atento as concordancias e regências. Bjo!

  9. Hélio, assim que puder confira a obra do Kar-Wai, o cara é sensacional. E geralmente eu também tento fazer essa “vistoria” aos filmes de determinado diretor, mas sempre paro na metade. Atualmente estou no meu momento Kurosawa.

    Grande filme mesmo Demas, daqueles que dá vontade de ter em casa para estarmos sempre vendo.

    Patty, que bom te ver por aqui, e ficam aí os filmes como recomendação, menos o último (isso se estiver a fim de assistir a uma comediazinha boba e esquecível). Apareça mais vezes!!! Bjs!!!

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