Dir: Michel Gondry, Leos Carax e Bong Joon-ho
Filmes coletivos têm virado moda. Alguns conseguem compilar belos curtas (caso de Paris, Te Amo) e outros estão mais interessados em reunir grandes nomes do cinema contemporâneo (caso de Cada um com Seu Cinema). Tokyo! é um belo exemplar do primeiro grupo que investe somente em três segmentos e tem a capital japonesa e seus habitantes como fonte inspiradora. Curioso que todos possuem uma vertente fantasiosa e, tematicamente, lançam olhares apurados sobre personagens outsiders.
Design de Interiores
Dir: Michel Gondry
Esse segmento é uma grande surpresa pois, vindo do Gondry, podia-se esperar loucuras visuais já no início, mas esse primeiro segmento evolui muito bem na construção de sua personagem, no surgimento de seu drama e a solução excepcional que o diretor cria para a protagonista, aí sim injetando boas doses de bizarrices. Um casal chega à cidade a fim de se fixar, enquanto o marido tenta se estabelecer como cineasta; a mulher é uma ajudante faz-tudo. As transformações psicológicas da personagem, a partir de uma autoavaliação, vão ganhando ares de transformação física, e eis que o estranhamento inicial acaba se mostrando uma ideia bastante pertinente. Nada melhor do que se sentir útil e para isso sempre parece existir uma maneira. Inteligentemente, Gondry nos mostra isso da forma mais inusitada (e deliciosa) possível.
De longe, o mais bizarro dos três segmentos. O desconhecido para mim Leos Carax fala de isolamento e ausência de humanidade através da história de um mostro de esgoto que, na verdade, é um homem (o ótimo Eimei Kanamura) que perdeu (ou nunca teve) discernimentos humanos. Feio e perigoso, ele sai de seu habitat sujo para aterrorizar as pessoas, mesmo à luz do dia. Num primeiro momento, o segmento ganha ares terrificantes pois o monstro, além de arrepiantemente esquisito, é também bastante perigoso (a cena em que ele solta explosivos pela cidade me deixou estático), mas depois a história se acomoda e toma rumos simplórios que minimiza muito o que foi visto antes. Uma pena.
Sacudindo Tokyo
Dir: Bong Joon-ho
Por fim, a cereja do bolo. O sulcoreano Bong Joon-ho injeta rara sensibilidade e poesia na história de um homem (Teruyuki Kagawa) que vive totalmente recluso em sua casa, não sai de lá para nada (o que os japoneses chamam de hikikomori). Mas a visita de uma bela entregadora de pizza vai mexer com as convicções do cara. O segmento é uma concisão de planos bem filmados e arranjados, além de possuir um roteiro todo amarradinho, ganhando muito por evoluir sua história e ainda contar com o fator surpresa que, ao se revelar pertinente e interessante, eleva bastante o segmento. Doses de comédia aqui e ali em meio ao drama só reforçam essa bela característica de estranhamento do cinema da Coreia da Sul. Do ponto de vista do protagonista, o mundo lá fora parece hostil, mas ele não imagina que as cosas lá também mudaram. Os terremotos que quase atrapalham o personagem em alcançar seu objetivo, se transforma no seu próprio desejo interior quando alcança seu intuito. Bonito demais.
PS: vale muito a pena chamar atenção para a fotografia do filme que, apesar de ter um tom específico para cada segmento, é um trabalho sensacional. Talvez, uma das melhores do ano.
Maluco pra ver esse filme, que me seduz ainda mais toda vez que vejo o cartaz por aqui. Bong Joon-ho, depois de 'O Hospedeiro', do que li sobre 'Mother' e sobre essa sua parte em 'Tokyo', é provavelmente a melhor anomalia – no melhor dos sentidos – vinda do oriente nas últimas décadas. Já deve valer pelo todo, até porque, embora eu goste de Gondry, não sei até que ponto ele se repete (de um jeito bem contemporâneo, apesar de acima da média dentro dessa doença videoclíptica atual) mais do que se reinventa. De qualquer jeito, que isso estreie logo!
Esse eu perdi no Festival do Rio, mas quero ver mais pelo Joon-Ho, de quem sou fã – e, agora, pelos elogios que vem recebendo.
Muita vontade de conferir "Tokyo!". Acabei perdendo não só a cabine de imprensa, mas também a temporada em que ficou em cartaz. Agora é esperar sair em DVD ou apelar para um torrent. Se bem que, filmes assim, merecem alta qualidade de imagem. Então vou esperar sair em DVD mesmo… rs…
Abs!
Então Leandro, também gosto do Jooh-ho, muito embora não acho que O Hospedeiro seja um filme tão excepcional assim, prefiro bem mais o excelente Memórias de um Assassino, mas o cara tem se firmado muito bem internacionalmente. Todo mundo só fala maravilhas de Mother. E tinha medo desse segmento do Gondry, ele às vezes se excede demais, mas foi uma grata surpresa aqui. Veja assim que puder.
De fato Wallace, e olha que eu já tinha escutado muitos comentários negativos sobre o filme. E mesmo não sendo grande fã do Jooh-ho, só escuto maravilhas dele. Mother está lá em cima em expectativa.
Pois é Dudu, assiste no PC mesmo por um torrent de alta qualidade que fez valer a pena. E olha que a fotografia desse aqui é maravilhosa.