O Arco (Hwal, Coréia da Sul/Japão, 2005)
Dir: Kim Ki-duk
Mistura de olhares orientais, que na verdade deveriam até ser fechados. Mas, diferente desta visão fechada sobre os olhares orientais, nos deparamos na verdade com um filme que fala com os olhos, com canções, com uma “quase harpa”, com um “quase arco” (na verdade, as duas coisas juntas). Sem palavras, a garotinha de 16 anos, interpretada por Yeo-reum Han (que eu não conhecia, mas que já virei fã), representa o complexo mundo da sensibilidade e o porquê de muitas vezes o colocarmos com incompreensível.
Agora vamos ao que esta mistura de ritmos e sentidos resulta, ou melhor sente, e em que cenário se apresentam: em um barco de pesca no mar (por sinal, dos mais velhos, assim como o seu dono – um homem de 60 anos. Este mesmo, cria uma menina até que ela complete 17 anos (mesmo que para isso seja possível correr com um calendário). Eles vivem uma existência tranqüila e reclusa (onde a cumplicidade inocente está presente), rezando (um pecado este sinônimo para simplicidade) e alugando o barco para pescadores, até que suas vidas são alteradas com o embarque de um estudante adolescente. (Repare aqui que os personagens não precisam de nomes, e como isso, não o tem).
Outra coisa ausente na película (seguramente um sinônimo melhor pra representar esta obra) se chama diálogos (e precisava?). Os olhos repuxados já compõem tais palavras. Na verdade, a mistura sentimento e música tendenciam o roteiro do filme, por sinal belíssimo. Num pecado tremendo, o sentimento “vil e egoísta” – referência a um dos poucos diálogos do filme – do velho (será mesmo assim?), poupa a menina do sentimento inocente que sente pelo jovem que, apenas queria pescar no barco. Neste momento, o filme ganha momentos de tensão entre o velho e a pequena menina. Quando o terceiro elemento vem acompanhado de admiração pela menina.
Ki-duk Kim (que depois fui ler já conquistou 23 prêmios e obteve 21 nominações em festivais pelo mundo) celebra a vida com seu roteiro e direção, neste filme. Me empolguei para ver os outros quartoze dele agora. O que muitos podem ver no filme, como excesso de lirismo eu vejo como qualidade. Por quê? Porque traz a música no lugar das palavras (não como um musical), mas um culto a paz que esta música transmite. Isso tudo me induz a dizer uma única coisa, sobre esta obra: poesia cinematográfica.
O mais instigante é que num cenário bucólico (o barco) o espectador consegue romper o silêncio imposto pelo semblante dos personagens, pela fotografia maravilhosa, e pelo imposto tom filosófico.
Isso aqui não é uma crítica, muito menos uma resenha. Isso aqui na verdade é um agradecimento, um culto a este filme, que não menos obstante, não posso terminar este texto sem esse adjetivo: fantástico! No olhar de uns, talvez forçoso, no meu um simples olhar (e isso já significa muito).
Por Elizio Chiacchio
Eu não vi ainda …
Que saco …
Vi as OP dele mas não vi esse …
Shame for me …
Abraços
Esse tem na Canal 3, hein?
Só um lembrete… Hehehe!
Abraços!
Eu bem tenho uma quedinha por esse tipo de filme…
Realmente, um filme que me surpreendeu. Chamo atenção para vários aspectos do filme que o tornam tão interessante: a ausência de diálogos (bem ressaltada no comentário do nosso amigo Elizio), o cenário, sempre o mesmo, no entanto muito bem explorado, os personagens sem nome e, especialmente, o papel do arco dentro da trama, que fala pelos personagens nas mais diversas situações. O arco é poesia, é instrumento de união, é trilha musical e assume até o papel do diálogo surdo entre os personagens. Chamo atenção também para a compreensão psicológica da trama: a dependência da jovem pelo velho, que assume ao mesmo tempo um papel de amigo, pai, avô, amante; o isolamento desta jovem do mundo, o que a torna tão inocente para compreender o que se passa de tão drámatico à sua volta; uma paixão espontânea na figura do jovem rapaz que não é capaz de quebrar um laço tão forte. E é a parte que mais me choca no filme, uma poesia que não foi capaz de despertar em mim um olhar de beleza para essa entrega entre a jovem e o velho. Destaque para o simbolismo da cena em que a jovem se entrega finalmente ao velho, mesmo ausente na cena. Preciso ver mais filmes do Kim.
Bjo Elis, aguardo novas indicações!
É, deu vontade de conferir o filme. Quantos elogios…
Abs!
Te falei que fiquei impressionado com os 30 minutos finais do filme, né? Kim Ki-duk parece trazer para o cinema a sensibildade do olhar que diz muita coisa por e sobre seus personagens (assim como em Casa Vazia e Primaver, Verão…). Parece que esse é seu projeto de cinema, e assim ele consegue alcançar momentos de puro lirismo na tela. O Arco é a celebração do amor entre um velho e uma jovem que só se explica nos momentos finais. Passamos a desaprovar suas atitudes para depois entendê-lo. Eu vejo não como uma relação puramente amorosa e sexual, mas mais como uma forma de preparação dela para o amor. As sibologias usadas no filme, como a fecha no momento da consumação do ato sexual, a forma como ele lê o futuro ou o que acontece com o velho e o barco ao fim, são fantásticas. A trilha sonora é um atrativo à parte.
Jonhny -Pode conferir, vale à pena! Não foi absurdo caracterizá-lo como poesia cinematográfica.
Hélio – Parece que alguns comentários abaixo, comprovam que o filme foi locado nesta semana (Indhira e Rafael)
Fabiana – Mais um motivo para vê-lo, então!
Indhira – Eu saí do cine com a mesma impressão que você: Preciso ver mais filmes do Kim. Só com uma diferença. Para mim, o senso poético do filme está todo emblematizado no velho e na menina.
DUDU – Não foram elogios ao léu, mas lógico no olhar de uns talvez seja forçoso, no meu um simples olhar. Isso não foi crítica, foi um culto ao filme…;)
Rafael – O dono do blog comentou… E só ressalto uma coisa, não era para ser postado sobre o filme. Era apenas uma referência para ele assitir. De ousado, colocou o texto! (Rs)
Mas, pelo visto minha indicação de filme agradou muito e ainda não deixou o blog parada. Só num ponto do comentario dele que tenho algo a ressaltar: “A trilha sonora é um atrativo à parte” (completando)pela quase arpa, pelo quase arco.
Olha que no fundo, no fundo, era pra postar sim, Elizio. Não ia me mandar aquele texto todo estilizado sobre o filme. Mas enfim, foi uma experiência legal e a recomendação hiper válida.
Pois então Hélio, locamos na Canal 3 mesmo. Na verdade eu já tá de olho nele quando chegou, e já ia locar nessa semana quando Elizio me fala do filme e manda o texto. Aì peguei. Na verdade dividi a locação (na quarta-feira, claro) com Indhira, já que o preço do lançamento na Canal 3 tá de doer o coração.
Caro Rafael, você saberia indicar algum site onde eu possa adquirir este filme? Já dei uma geral na internet em sites como Submarino, 2001 filmes, Americanas e não consigo achá-lo. Nas locadoras aqui da cidade já encontrei quase toda a filmografia de Ki-Duk, menos este filme.
Abraços!
Rafael, respondendo bem tardiamente este post, infelizmente preço de locação de lançamento nao pode ser menor que o praticado atualmente. A bem da verdade, deveria ser maior, considerando preço de custo dos filmes originais e concorrencia desleal da pirataria (ali, sim, em termos proporcionais é um roubo, pq a locação é quase o valor do preço de compra – locação de filme pirata nao deveria ser maior do que R$0,25).
Mas enfim… so pra defender meu lado.
Ok, ok, seu Hélio, tudo culpa do mundo capitalista. Só não inventa de aumentar o preço do lançamento por agora, senão tô lascado!!