Um garoto com uma câmera

Super 8 (Idem, EUA, 2011)

Dir: J. J. Abrams

Super 8 são muitos filmes em um só. Os Gonnies, ET – O Extraterrestre, Conta Comigo, Contatos Imediatos de Terceiro Grau, todos esses e tantos outros que povoam a imaginação e a memória afetiva do diretor e roteirista J. J. Abrams se encontram reprocessados na narrativa de seu mais novo filme, extrapolando a simples mania da moda atual de citar referências (explícitas ou não) a outros filmes para criar verdadeiras colagens de detalhes dessas obras.

Se isso confere ao longa uma atmosfera nostálgica de Sessão da Tarde classe A, é também uma das limitações do filme. Isso porque ele deixa de se esforçar para criar algo genuíno, ficando preso a determinados caminhos narrativos. Pelo menos em Super 8 existem muitos desses pedaços que, felizmente, funcionam muito bem quando colados juntos, embora fique na boca aquele gosto de coisa requentada.

De qualquer forma, é uma delícia embarcar na aventura das crianças que, durante as filmagens de um curta-metragem de terror (de zumbis!!!) em super-8, testemunham um acidente catastrófico de trem (filmado maravilhosamente). A suspeita de que alguma coisa fugiu de um dos vagões se confirma pela calamidade que se espalha pela cidade, com ataques a lugares e pessoas por parte de uma criatura que não se sabe o que é.

E esse mistério, na verdade, nem é tão grandioso assim (muita gente vai se decepcionar), embora o roteiro seja redondinho, amarrando até o final todas as pontas soltas que o filme vai deixando. A narrativa se preocupa bem mais com a relação entre os garotos e também em sua perspectiva familiar. Quando Charles (Riley Griffiths), o aprendiz de cineasta, convida a bela Alice (Elle Fanning, uma doçura) para atuar no filme, seu amigo Joel (Joel Courtney) vai experimentar uma paixonite pela garota. O problema é que os pais dos dois não se batem, principalmente porque o pai dela foi responsável indiretamente pela morte recente da mãe de Joel.

Enquanto a descoberta da verdade vai passando por experimentos científicos que envolvem as Forças Armadas, os garotos continuam rodando seu filmete e se aproximando mais da verdade. O filme consegue manter o ritmo constante, embora algumas sequências pareçam exageradas (como o ataque dos tanques descontrolados à cidade).

Se o filme parece trazer escrito na testa “Spielberg, eu te amo”, é porque muito do tom de suas aventuras rondam Super 8. Estão lá os conceitos de amizade e companheirismo juvenis, o senso de aventura, o fascínio pela vida extraterrena e a prepotência do ser humano (leia-se, os adultos). J. J. Abrams se assemelha a esse garoto que tomou o gosto pela câmera e pelos filmes B, filmando como quem brinca de fazer cinema, referenciando seu mestre e se divertindo ao mesmo tempo. Se o filme peca pelo excesso de citações, pelo menos é uma grata diversão para nós também.

PS: Durante os créditos finais é exibido o curta completo que os garotos estão fazendo durante o filme. É uma delícia, produto B trash delicioso de se ver.

4 thoughts on “Um garoto com uma câmera

  1. Tb gostei bastante de Super 8 embora de fato, a surpresa revelada por tras do misterio nao é tao chocante assim…

    Mas fica mesmo um ar saudosista, afinal traz mtas referencias dos classicos de Sessao da Tarde, como ET e Os Goonies como vc citou mesmo.

    Abs!

  2. Wallace, o filme, de fato, é uma delícia. Me incomoda algumas imprecições do roteiro, mas todo o clima nostálgico me capturou completamente. O fato de ser uma colagem de muita coisa faz perder também certa originalidade do filme, mas acaba sendo um grande jogo de referências.

    Natalia, fiquei decepcionado com a "surpresa", mas vendo o filme me pareceu que o foco nem era tanto isso como o trailer, por exemplo, fazia parecer. A nostalgia tinha muito mais importância ali.

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