Uma bandeira ao avesso

No Vale das Sombras (In the Valley of Elah, EUA, 2007)
Dir: Paul Haggis

O novo filme do cara que fez Crash – No Limite? Claro que eu estava com um pé atrás (diferente de muita gente, bom ressaltar). Mas não devia, pois antes de debutar na direção de um longa, querendo parecer cult juntando a história de vários personagens que se entrelaçam e cada qual com seus problemas pessoais, Paul Haggis já construiu bons roteiros (Menina de Ouro, por exemplo, e continua escrevendo para outros diretores, mesmo que em contribuições como fez com Cartas de Iwo Jima e A Conquista da Honra).

E esse é um dos grandes trunfos de No Vale das Sombras. A história do pai que parte em busca do filho recém-chegado da Guerra do Iraque e até uma semana depois não havia voltado para casa é ponto central da trama. A história se mantém a todo tempo instigante, cheia de reviravoltas e bastante coesa. Coesão essa conferida pela direção segura de Haggis.

Ao mesmo tempo em que existe uma busca física, o pai também vai conhecendo melhor seu filho, sua ações e seu comportamento nada glorioso (descobrir porque o jovem era apelidado de Doc, por exemplo, é algo desolador). Mas acima de tudo, a grande alfinetada do filme é em relação à formação psicológica desses jovens que vão para a guerra e parecem ter passado por uma lavagem cerebral, de tão distorcida que é sua mentalidade. A resolução do mistério pode parecer boba demais, mas é aí que reside o grande dilema da história, algo para nos chocar e incomodar.

E se Susan Saradon, mesmo aparecendo pouco, surge num poço de sensibilidade e dor (são as cenas mais tocantes), fica a cargo de Tommy Lee Jones encarnar a dor da perda, mas sobretudo a firmeza com que segue adiante na busca pela verdade sobre o desaparecimento de seu filho (e para surpresa de muitos, foi indicado merecidamente ao Oscar por esse papel). Charlize Theron dá força ao elenco vivendo a detetive que ajudará nas investigações. Investigações essas que denunciam o descaso do governo estadunidense para com seus soldados, pois depois de desaparecido o soldado, as instituições pouco fazem para desvendar o caso. Não é à toa que o personagem de Lee Jones muda de idéia em se tratando da forma como a bandeira de seu país deve ser hasteada.

4 thoughts on “Uma bandeira ao avesso

  1. Na verdade eu acho que “No Vale das Sombras” consegue ser ainda pior que “Crash”, o diretor Paul Haggis ainda não me convenceu. O filme até que começa bem, mas depois de meia hora já tinha perdido o interesse na trama e achei todo o resto banal – sem falar na performance superestimada do Lee Jones. Enfim, no dia que esse diretor fizer um filme bom, me avisem!

    Abraço.

  2. É, pelo visto o Haggis vai continuar gerando polarizações e opiniões diversas. Vai causar muita polêmica esse ai. Eu acho que ele tá encontrando o caminho dele. Tem gente que detesta. E com certeza, Vinícius, tem gente que pensa muito diferente de nós dois. Vai saber né.

  3. Haggis já deve ter amadurecido como diretor de cinema. Ele é um bom roteirista, só que estranhamente seu trabalho mais fraco parece ter sido aquele que o levou ao Oscar.
    Aguardo o filme em DVD (já que jamais chegará aqui…) para ver essa história, que parece ter potencial para agregar mais substância ao tema, e não apenas engordar a listagem de títulos assemelhados.

    Cumps.

  4. Rafael, sou do grupo que é fã de Paul Haggis. Acho “Crash – No Limite” um grande filme e o seu roteiro de “Menina de Ouro” uma das coisas mais singelas e comoventes que vi nesta década. E essas são as qualidades que aguardo deste seu recente trabalho. Assistirei em breve.

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