You know my name

Jason Bourne (Idem, EUA, 2016)
Dir: Paul Greengrass

A trilogia Bourne talvez seja uma das melhores franquias de ação dos anos 2000, nos apresentando a história do agente secreto da CIA que perdia a memória depois do fracasso de uma operação e buscava respostas sobre seu passado, enquanto segue sob a mira daqueles que o formaram. Não é das tramas mais originais, no entanto os filmes conseguiram a proeza de sustentar as intrigas e segredos que giram ao redor do personagem, contando com dose muito boas e bem filmadas de ação e adrenalina.

Quando assumiu a direção a partir do segundo filme da franquia, Paul Greegrass injetou tensão e senso de urgência, especialmente através do uso da câmera na mão, bem a seu modo (como ele já havia feito exemplarmente com esse mesmo intento em Voo United 93, possivelmente seu melhor filme). Felizmente o diretor retorna agora nesse que parece o reviver da série e do protagonista cuja história, convenhamos, nem precisava de continuação (a gente também não precisa lembrar que existe um quarto filme protagonizado por Jeremy Renner, sob direção de Tony Gilroy, esse realmente desnecessário).

Jason Bourne reúne os mesmos fatores que moldaram o sucesso anterior: ação desenfreada, ritmo alucinante, roteiro bem cuidado e inteligente, apego pelo protagonista na sua jornada pela verdade e a rede de intrigas sempre a pairar sobre os personagens e suas ambições.

Mesmo quase dez anos depois, esse novo filme resgata os fatos derradeiros que marcaram o final de O Ultimato Bourne, quando Jason descobriu que ele mesmo se alistou no programa de inteligência antiterrorismo da CIA, assumindo nova identidade para incorporar o agente com habilidades elevadas de espião. Agora, recluso, ele volta a ser assombrado pelo passado com suspeitas que envolvem seu pai, possivelmente a mente por trás da criação da operação em que Bourne se alistou no início de tudo.

O mundo da informação e do acesso aos dados secretos e documentos oficiais molda o contexto por onde o filme concentra sua trama, nada mais atual. Não à toa, a personagem de Julia Stiles, agente responsável pela logística das operações anteriores, agora foragida da CIA, retorna como hacker que decodifica as informações que desvendam um pouco mais da verdadeira história de Jason (referências a Snowden também não poderiam ficar de fora).

 

O contraponto vilanesco concentra-se da dúbia personagem vivida por Alicia Vikander, chefe do serviço de vigilância cibernética, a serviço da CIA, na ânsia de seguir o rastro de Bourne, guardando ela também os seus segredos. O filme continua sendo mestre em deflagrar toda essa correria e situações de tensão, convergindo na perseguição alucinante ao protagonista, a partir de questões mínimas, como as informações sobre os atos do pai de Bourne.

Contra o filme está o fato dele reprisar praticamente o mesmo eixo narrativo dos longas anteriores, com elementos semelhantes: uma nova operação substituindo as anteriores que falharam, detalhes de seu passado desvendados a conta-gotas que colocam em risco seu pescoço, outro agente especial posto em sua cola para assassiná-lo (aqui interpretado por Vincent Cassel) e até mesmo o destino de certo personagem querido da franquia, que assumiria a mesma função narrativa, rima com o de outro que ficou pelo meio do caminho na jornada efusiva e letal pela qual Bourne atravessa.

O filme continua também promovendo o tour “Bourne around the world”: a ação sai de Nova York, passa pela Grécia, Roma e chega a Las Vegas com uma facilidade ímpar – aliás, a perseguição de carro nessa última é impressionante por ter sido feita em locações reais, ainda que um tanto exageradas. Jason Bourne, portanto, deve suprir a ânsia dos fãs de filmes de ação e talvez incomode um pouco os fãs da franquia pelo gosto geral de comida requentada. Mas, no fundo, é sempre bom acompanhar mais uma aventura do agente atormentado, quando ela se revela bem resolvida dentro de suas promessas como filme de gênero.

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