Amor real de plástico

A Garota Ideal (Lars and the Real Girl, EUA, 2007)
Dir: Craig Gillespie


É animador ver um filme que tinha tudo para ser uma comédia pastelão, se tornar um melancólico drama sobre a solidão, através de um personagem com problemas psicológicos, sem deixar de lado o bom humor. A estreia demorou bastante para chegar ao Brasil, depois de ter concorrido ano passado ao Oscar de Roteiro Original.

Assim que vemos Lars (Ryan Goslin, grande ator) na primeira cena, percebemos como ele é solitário e totalmente antissocial; um bicho-do-mato. Ele vai surpreender o irmão (Paul Schneider, um tanto apagado) e a cunhada grávida (Emily Mortimer, ótima) quando receber em casa uma boneca inflável que passará a tratar como uma pessoa de verdade, uma namorada; seu nome é Bianca e ela é brasileira.

Surpreende o tom sério dado à situação (destaque para a trilha sonora levemente melancólica) porque, no fim das contas, esse é um filme sobre um homem que possui fobia social e, na busca por uma forma de afeição, cria na mente uma relação improvável com essa tal boneca inflável. O grande mérito do filme está em numa ridicularizar esse personagem em busca do riso fácil, através da mera chacota. Lars a adora e isso lhe basta.

Quando a médica pessoal da família (Patricia Clarkson) recomenda que todos devam aparentar normalidade diante da situação e passar a fingir que a boneca realmente tem vida própria (?!?), o que significa conversar e ser atencioso com ela, a narrativa busca conquistar o espectador através de uma premissa aparentemente boba. Chega um momento que não nos é mais estranho ver os personagens discutindo a vida de Bianca e o namoro dos dois. É como se a gente se solidarizasse com Lars e sua disfunção psicológica.

Se o diretor estreante Craig Gillespie consegue conferir esse tom à narrativa, nada é mais consistente do que a excepcional atuação de Ryan Goslin, dono de uma caracterização minimalista, responsável por nos fazer crer de fato em sua atitude “maluca”. Sua expressão vai do homem apaixonado ao psicótico. Ajuda muito que o filme nunca julgue esse personagem porque Lars, de fato, acredita naquela situação. Na verdade, ele precisa crer naquilo para continuar seguindo.

11 thoughts on “Amor real de plástico

  1. Rafael, até que achei "Em Pé de Guerra", o segundo filme panaca do Craig Gillespie, bem divertidinho. Mas sei que dá para esperar algo bem mais interessante desse "A Garota Ideal", embora a história se assemelhe bastante com "Monique Sempre Feliz", um longa francês que tenho no acervo. E acho a Emily Mortimer uma atriz fantástica, espero mais do seu desempenho do que do Ryan Gosling, um ator ao qual não me simpatizo muito.

    Abraços!

    Ah, e eu vi o seu top 20. Tentarei ver "Entre os Muros da Escola" no final de semana!

  2. Diego, acredito que não vai se arrepender.

    Alex, acredito que não vi nenhum outro filme do diretor, e se ele fazia filmes panacas assim antes, então é uma revelação porque A Garota Ideal é bem maduro. E nunca ouvi falar desse filme francês, mas sei que o novo filme do japonês Hirokazu Kore-eda, Air Doll, também se parece muito com esse aqui. E cara, o Goslin trabalha bem demais, acho difícil encontrar um ator tão talentoso da geração dele. E gosto da Mortimer, ele tá ótima aqui, mas não chega a brilhar. Sobre o Entre os Muros da Escola, veja mesmo, é sensacional!!!!

    Pois é Gustavo, a história é bem incomum, mas o tratamento do filme é bem maduro.

    Realmente Kamila, o Goslin é um grande ator e aqui ele tá sensacional, um dos melhores do ano, embora a concorrência esteja acirrada.

  3. Exatamente isso que você escreveu na sua resenha: tinha tudo para ser m pastelão. Acho que é um filme que entra em outro gênero. Ao invés de comédia dramática, é um drama cômico. Um filme extremamente humanista e sensível, com certa leveza – já que o tema abre brechas para assuntos muito mais sérios, como as patologias psíquicas.

    Abs!

  4. Achei q este foi um dos trabalhos mais notávei q vi este ano(e olha q o filme é de 2007!). Naum só pelo Gosling, mas pela sensibilidade com q o tema foi tratado, jamais caindo nas piadas óbvias q a trama poderia render nas mãos de um roteirista ou um diretor mem]nos atento ao potencial do filme.

  5. Fred, eu já tinha ouvido falar bem dele, e ainda mais com o Goslin no elenco não me parecia um filme descatável.

    Realmente Dudu, ele é antes um drama, para depois ter uns toques de comédia. E o que me encanta é que o roteiro não entra justamnte em profundidade nessas questões. Cada vez mais eu gosto desse filme.

    De fato Wanderley, é um filme supersensível. Das atuações até o texto. Sensacional!!!

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