Dobradinha Murnau

Nosferatu (Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens, Alemanha, 1922)
Dir: F. W. Murnau

Essa é a primeira versão da conhecida história do Conde Drácula para o cinema, adaptação livre e não autorizada da obra de Bram Stoker. O corretor de imóveis Hutter (Gustav von Wangenheim) é convocado a visitar o conde Orlok (Max Schreck) nos Montes Cárpatos para vender-lhe uma propriedade na cidade de Bremen, mas irá se surpreender com o assustador anfitrião, na verdade um milenar vampiro disposto a alastrar uma grande peste na cidade. Através de Hutter, Orlok irá se encantar por sua esposa, a doce Ellen (Greta Schröder).

O cinema de horror deve muito a Nosferatu como uma das grandes inspirações para o gênero, aliado às características do Expressionismo Alemão, corrente artística que se utiliza do jogo de sombras, o forte contraste do claro-escuro, a composição dos cenários, a expressão exagerada dos atores (devido também ao cinema mudo), tudo em prol do efeito dramático. É isso que faz as imagens soarem tão consistentes na sua intenção de criar atmosfera de suspense constante. O filme se beneficia disso para prender o espectador e fazê-lo se arrepiar com a simples aparição do príncipe das trevas na tela.

Tabu (Tabu: A Story of the South Seas, EUA, 1932)
Dir: F. W. Murnau

Depois de realizar Aurora, seu primeiro filme em solo norte-americano e um dos romances mais incríveis a que eu já tive oportunidade de assistir, a carreira do cineasta alemão F. W. Murnau se afasta um tanto do Expressionismo e ganha a seara dos filmes românticos. Esse aqui, seu último trabalho (ele morreu durante um acidente de carro pouco antes da estreia do filme) conta a história de amor impossível entre dois nativos da ilha de Bora Bora, então intocada pela civilização branca. A bela Reri (Anne Chevalier) foi escolhida para ser a virgem sagrada dos deuses que guardam a ilha. A partir de então, não pode ser cobiçada por homem nenhum; mas o amor de um jovem tentará quebrar a tradição.

Murnau continua dono de um apuro técnico impecável, filmando tudo com muita elegância; cada plano parece ser bem estudado e filmado com esmero. A trilha é outra acerto pois acentua belissimamente o triste destino dos amantes, obrigados a fugirem. Vale ressaltar que o roteiro foi co-escrito pelo pai do cinema documental Robert Flaherty (seu Nanook, o Esquimó é um marco no gênero), talvez por seu conhecido trabalho com civilizações desconhecidas. As divergências culturais entre os nativos e o homem branco é um fator bem explorado pelo filme, mas é a relação de amor impossível entre os protagonistas o grande centro da narrativa, acentuado por um final corajoso e sincero.

9 thoughts on “Dobradinha Murnau

  1. Stella, o trabalho do Murnau é de uma perfeição incrível mesmo. O domínio da técnica está lá, mesmo que de uma forma diferenciada. E sem dúvida esse é um dos filmes que ajudaram a aperfeiçoar a linguagem cinematográfica.

    Gustavo e Kamila, vocês não sabem o que estão perdendo!!!! Descubram o quanto antes o cinema do Murnau que vocês não irão se arrepender.

    Diego, também acho o Nosferatu um filme de alta grandeza, mas meu Murnau do coração é Aurora, obra-pima de primeiro grau.

  2. Stella, fico extremamente grato pela citação de meu texto no seu blog. Acho que por o filme ser um clássico, merecia uma análise maior e mais ampla, mas como ia demorar mais tempo para fazê-la, deixei assim mesmo. São filmes assim que nos instigam a escrever e a amar o Cinema.

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