Solidões virtuais

Homens, Mulheres e Filhos (Men,
Women & Children, EUA, 2014)
Dir:
Jason Reitman
Filme-mosaico,
Homens, Mulheres e Filhos é mais um
exemplar de histórias cujos personagens se cruzam no microcosmo de uma cidade
norte-americana. Tem todo um ar agridoce perpassado pelos dramas íntimos de
cada um, tomados por uma melancolia latente diante dos rumos de suas vidas, sejam
eles jovens ou adultos. Pais e filhos enfrentam questões emocionais e conflitos
de ordem sexual, cada qual com seus problemas.
Se
há um diferencial aqui é atualizar esse tipo de história para o mundo das
relações virtuais intermediadas pela internet e suas múltiplas e novas possibilidades
de interação e monitoramento. Comunicação instantânea, criação de perfis fakes, identidades forjadas e fuga de
uma vida social no mundo concreto: são trocas as mais diversas, feitas para o
bem ou para o mal, ainda que não seja esse o propósito.
Os
jovens do filme não desgrudam de seus smartphones, comunicam-se eletronicamente
em tempo integral. Há a garota que tem a vida virtual totalmente monitorada pela
mãe rígida, o que torna tudo mais difícil quando ela se apaixona por um garoto
que odeia esportes e prefere os jogos online. Num outro polo, uma mãe quer
tanto tornar a filha uma estrela que ela mesma mantém um site da garota com
fotos, inclusive sensuais. Essa mesma menina começa a se relacionar com um
garoto viciado em pornografia.
Também
os adultos são jogados na rede dos conflitos pessoais, como o casal que perdeu
o tesão um no outro, buscando assim parceiros fortuitos, ou aqueles que buscam,
devagarinho, uma aproximação maior. Decerto que Reitman trata com certo
respeito seus personagens, nunca os ridicularizando. São esses tipos que enfrentam
as barreiras cotidianas com suas novas regras sociais, sempre com um tratamento
muito carinhoso para as almas em solidão, embora o filme poucas vezes os
complexifiquem para além dos tipos que representam.
Esse
é o tipo de história que já temos impressão de ter visto antes, num mesmo
arranjo narrativo que vem se tornando muito comum, de Robert Altman em seu Short Cuts, a Ang Lee em Tempestade de Gelo. Jason Reitman não consegue
ser tão bom quanto seus colegas porque seus personagens não ultrapassam os tipos
comuns, ainda que consiga manter no espectador o interesse sobre o futuro
daquelas pessoas.  Mas positivamente o
filme também não descamba para o choroso, caso do terrível Crash – No Limite, por exemplo. A dificuldade de comunicação com o
próximo no mundo atual passa a ser o ponto em comum que permeia as histórias, apesar
de o tema não ser mais novidade.

E
acaba sendo essa mesma a mensagem do filme, anunciada já na abertura: começa
com o relato da sonda lançada no espaço sideral com sons da Terra, além de
saudações em diversas línguas, para o caso de algum contato com criaturas
extraterrenas. É a velha necessidade do ser humano de se comunicar, de buscar o
contato com o outro, ainda que seja tão difícil mesmo quando este está ao lado.
Homens, Mulheres e Filhos só reforça
essa dificuldade humana, sem grandes novidades, embalando gigabits de solidão e
incompreensão.

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